| 18/10/2007 05h45min
Depois de 18 reduções consecutivas na taxa básica de juro, nessa quarta-feira, dia 17, o Banco Central (BC) interrompeu os cortes e manteve a Selic em 11,25% ao ano. Mesmo tendo preparado o terreno com sucessivos alertas sobre a volta da inflação, declarações tranqüilizadoras do ministro da Fazenda, Guido Mantega, e medidas compensatórias de bancos públicos, o resultado foi uma onda de protestos.
Foi quase de luto o tom da nota da Confederação Nacional da Indústria (CNI), que afirmou receber "com pesar" a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom). Na curta justificativa que acompanhou o anúncio, o BC informou que "avaliando a conjuntura macroeconômica, o Copom decidiu, por unanimidade, fazer uma pausa no processo de flexibilização da política monetária e manter a taxa Selic em 11,25% ao ano, sem viés".
Essa "pausa" intrigou analistas, que chegaram a projetar sua duração até a metade de 2008. O temor de um repique inflacionário não convenceu os industriais. O presidente da CNI, Armando Monteiro Neto, reclamou da combinação de alta contínua da carga tributária, valorização cambial e, agora, parada nos cortes do juro. "Tudo isso implica severo comprometimento de nossa competitividade", afirmou em nota distribuída logo depois da divulgação da decisão.
Monteiro Neto criticou o crescimento do gasto público "em velocidade muito superior à expansão da economia", que considerou insustentável. Entre as queixas dos empresários está o fato de que o juro elevado no Brasil - a segunda maior taxa real do mundo - contribui para atrair dólares e, em conseqüência, valorizar ainda mais o real. Embora houvesse divisão de opiniões, a maioria das instituições financeiras esperava mais um corte de 0,25 ponto percentual na Selic, conforme mostrou o Relatório de Mercado divulgado segunda-feira.
Conforme a Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (Fiergs), mesmo que um novo corte de 0,25 ponto percentual fosse pouco expressivo, aceleraria a redução da diferença entre os juros do Brasil e os do Exterior. Há um mês, o Federal Reserve (Fed, banco central dos Estados Unidos) cortou meio ponto percentual de sua taxa básica, de 5,25% para 4,75% ao ano.
– A diferença é que, enquanto uma queda de 0,25 ponto percentual faz pouca diferença para os consumidores, para os que ofertam representa muito, pois corrigiria um dos muitos fatores que nos impedem de concorrer em condições de igualdade com os demais produtores mundiais – avaliou o presidente da Fiergs, Paulo Tigre.
Mantega se antecipou e descartou mau humor
Durante o dia, Mantega deu entrevistas afirmando que mesmo a decisão de frear o corte de juros não afetaria o humor do mercado, porque a taxa básica anual já havia caído de 19,75% para 11,25% nos últimos dois anos.
– É uma nova realidade que estamos vivendo, com a Selic em um patamar bastante razoável, baixo, muito mais baixo do que a média dos últimos anos – defendeu o ministro.
Os motivos da decisão dessa quarta-feira só serão detalhados na próxima quinta-feira, dia 25, quando o BC divulga a ata do Copom. A última reunião do ano, a derradeira chance de fechar 2007 com Selic redonda, de 11% ao ano, está marcada para os dias 4 e 5 de dezembro. Depois da "pausa" assinalada nessa quarta, é pouco provável.
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