| 15/10/2007 20h15min
O primeiro contato entre a União Européia (UE) e representantes do agronegócio privado brasileiro nesta segunda, dia 15, em Brasília terminou sem avanços práticos. Como a visita não tem caráter operacional, nada pôde ser acertado entre a comissária de Agricultura e Desenvolvimento Rural da União Européia, Marianne Fischer Boël, e a Confederação da Agricultura e da Pecuária do Brasil (CNA).
Segundo o presidente da CNA, Gilman Viana, os principais temas que representam entrave entre a UE e o Brasil na Rodada Doha constaram da conversa com a comissária. Os subsídios para a agricultura doméstica européia (que, segundo o Brasil, prejudicam a exportação dos produtos agropecuários dos países em desenvolvimento) e as cotas tarifárias (sobretaxas para mercadorias que ultrapassem determinado limite de entrada na UE) foram alguns dos principais pontos abordados no encontro.
– Embora o país venda barato, o consumidor europeu não paga barato por causa das tarifas aplicadas aos produtos brasileiros quando chegam à Europa. E o preço mais alto pago pelos europeus não chega ao produtor brasileiro – reclamou Viana.
Apesar de esses assuntos terem entrado em debate, nenhuma providência prática foi tomada.
– Os assuntos comerciais afloraram, mas a visita foi de cortesia. Nada veio a ser decidido porque a reunião não tem poder negociador – explicou Viana.
A comissária foi recebida pela CNA acompanhada do chefe da delegação da Comissão Européia no Brasil, João Pacheco, e de representantes de entidades do Fórum Permanente de Negociações Agrícolas Internacionais.
Sobre a Rodada Doha, o presidente da CNA afirmou que a discussão foi superficial e que o entrave permanece. Um dos obstáculos nas negociações é a redução dos subsídios agrícolas por parte dos Estados Unidos e da UE e a diminuição das tarifas de importação no setor industrial por parte dos países em desenvolvimento. O ciclo de negociações começou em 2002 no Catar e deveria ter terminado no final de 2004, mas, até hoje, os debates não avançaram.
O acordo comercial entre a UE e o Mercosul também entrou na pauta de discussões. No entanto, Viana afirmou que as conclusões também foram pouco animadoras em relação ao tema.
– As negociações permanecem congeladas e o assunto, por enquanto, está esquecido – declarou.
Mesmo inconclusiva, a reunião, avalia Viana, pode resultar em benefícios para o Brasil.
– É muito aproveitável um diálogo desse porque a gente coloca os dados na mesa – disse o presidente da CNA.
Durante o encontro, ele afirmou que as vantagens do Brasil no comércio agrícola internacional vem da evolução tecnológica.
– Em 15 anos, aumentamos a produtividade no campo em 120% – destacou.
Em relação à pecuária, Viana também destacou o uso da genética para melhorar animais e a alimentação do rebanho brasileiro com o pasto natural, que previne o Brasil de ser acometido pelo mal da Vaca Louca, transmitido ao gado pelo consumo de ração animal contaminada. Esses fatores, explicou, contribuem para que as exportações do agronegócio nacional encerrem o ano com US$ 55 bilhões, reflexo principalmente da venda de carne brasileira para países UE, Rússia e Oriente Médio.
Para o presidente da CNA, o livre-comércio trará benefícios ao agronegócio brasileiro.
– O setor tem grande espaço a crescer internacionalmente. Somos competitivos, temos qualidade, o que nem sempre é reconhecido pelos países desenvolvidos. Podemos expandir a qualidade, desde que as regras de acesso não sejam regras da pobreza. Sejam regras da renda – destacou.
Marianne Fischer Boël segue em visita ao país até o fim desta semana. Na tarde desta segunda, ela conheceu a sede da Embrapa Cerrados em Planaltina (DF), a 30 quilômetros de Brasília. Nos próximos dias, ela visitará a Associação Brasileira de Criadores de Zebu, em Uberaba (MG). O itinerário inclui ainda diversos municípios nos estados do Rio de Janeiro e de São Paulo. A comissária também visitará usinas de etanol e lavouras de cana-de-açúcar.
AGÊNCIA BRASIL