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 | 06/09/2010 18h33min

Sistema com dados sigilosos é acessado por 49 órgãos, diz secretário de Segurança do RS

Para ele, episódio envolvendo sargento da BM caracteriza-se como uso indevido de informações por pessoa credenciada, e não violação

Utilizado pelo sargento da Brigada Militar César Rodrigues de forma ilegal para obter informações sigilosas de políticos, delegados, advogados e jornalistas, o Sistema de Consultas Integradas da Secretaria de Segurança do Rio Grande do Sul é acessado por 49 órgãos. A informação foi dada na tarde desta segunda-feira pelo secretário de Segurança, Edson Goularte, durante entrevista à Rádio Gaúcha.

De acordo com Goularte, o acesso ao banco de dados é realizado por pessoas credenciadas, a partir de solicitações das devidas chefias.

— O acesso é feito por pessoas credenciadas, a pedido de diferentes chefias. O Detran usa, a prefeitura usa, a Polícia Civil... Enfim, tem várias entidades. São 49 organizações que estão dentro desse 'guarda-chuva' que tem autorização ao sistema — disse.

Apesar de a secretaria de Segurança ser o órgão central do sistema, o secretário explica que cada departamento é o responsável pelo controle dos usuários credenciados e as finalidades dos acessos. Para ele, o episódio envolvendo o sargento da BM caracteriza-se como uso indevido de informações por pessoa credenciada, e não violação de dados.

— Neste momento, o que me chama atenção é por que tanto interesse na busca de dados de um número grande de pessoas, das mais diferentes áreas. O que eu posso dizer é que o episódio é uso inadequado por parte de uma pessoa que estava autorizada a acessar ao sistema — afirmou.

Na manhã desta segunda-feira, o promotor Amílcar Macedo, responsável pela investigação da ação do policial, informou que o servidor da Casa Militar também pesquisava informações sobre filhos de deputados estaduais e de uma desembargadora. Segundo Macedo, o sargento pesquisava fotos de crianças.

Entre janeiro de 2009 e agosto de 2010, o sargento acessou ao sistema de consultas integradas mais de 10 mil vezes. Entre as autoridades que tiveram dados pesquisados estão a governadora Yeda Crusius, o senador Sérgio Zambiasi, o candidato ao governo do Estado Tarso Genro, deputados estaduais e federais.

Além dos políticos, jornalistas também tiveram dados acessados pelo policial militar. Na lista divulgada pelo promotor estão Políbio Braga, Marco Aurélio Weissheimer, Maria Lúcia Streck e Rafael Colling. Os delegados Ranolfo Vieira Jr., Heliomar Franco e Flávio Conrado também foram pesquisados.

Rodrigues atuava na Casa Militar desde 2009. Começou a ser investigado porque o dono de um bingo de Canoas procurou o MP para denunciar que o sargento o extorquia. Durante a apuração da extorsão, surgiram indícios de que o militar fazia acessos ao Sistema Consultas Integradas para espionar pessoas.

Yeda determina reforço na segurança do sistema

Por meio de sua conta de Twitter — rede de microblogs —, a governadora Yeda Crusius disse no final da manhã desta segunda-fera que pediu à Brigada Militar e à Companhia de Processamento de Dadfos do Estado do Rio Grande do Sul (Procergs) reforço na segurança do sistema usado pelos órgãos gaúchos.

— Determinei ao comandante da BM e ao presidente da Procergs que incluam no software do Sistema Integrado de Consultas um controle contínuo de acessos por senha. O sistema tem que indicar quando alguém sai da norma, excede — afirmou.

De acordo com Yeda, a ordem é blindar o sistema contra uso indevido.

— Não pode ser um Big Brother (em alusão ao programa de televisão em que os participantes são confinados em uma casa e vigiados por câmeras 24 horas por dia ) e sim um sistema de agilização digital para o serviço rotineiro do governo. Usar para Big Brother merece punição exemplar — completou.

Como funciona o sistema
O poder do Sistema Consultas Integradas
- O programa, criado em 2004, foi visto como uma revolução para fins de investigação, uma vez que permite que policiais e autoridades, com uma única senha, consultem bancos de dados de diversos órgãos, como Detran, Departamento de Identificação e Justiça.
- Com o nome ou o número da carteira de identidade de uma pessoa, quem faz a consulta pode ter informações sobre o consultado e seus familiares. Se alguém pretende fazer um dossiê de um adversário político, poderá saber até se a pessoa teve parentes envolvidos em ocorrências criminais, como porte de drogas, por exemplo.
- O que pode ser consultado: endereços, nomes dos pais, fotos, se a pessoa se envolveu em ocorrência criminal, inquéritos policiais e processos judiciais, se já esteve presa, se é foragida, se tem carro, se tem arma, entre outras coisas.
- É possível acessar o item chamado “auditoria do sistema”, por meio do qual o consultante poderá saber, por exemplo, que dados determinados delegados ou autoridades têm acessado nos últimos meses. Dessa forma, pode-se monitorar investigações em andamento.
Entenda o caso
- O dono de um bingo de Canoas procurou o MP para informar que, havia dois anos, estava sendo extorquido pelo sargento César Rodrigues de Carvalho. O contraventor disse que, por mês, desembolsava cerca de R$ 5 mil para o PM, que assim garantia que a BM iria fazer vistas grossas à atividade ilegal.
- O promotor Amilcar Macedo começou a investigação denominada Operação Agregação. Vieram à tona indícios de que o PM usava uma viatura oficial da BM para extorquir donos de bingo. O MP descobriu que, além da extorsão, o sargento usava sua senha do sistema da polícia para espionar pessoas.
- Conforme o promotor, Rodrigues chegava a consultar cerca de 1,2 mil fichas por mês, obtendo os mais diversos dados de políticos e de policiais.
- A suspeita do MP é de que o material seria usado para a elaboração de dossiês.

RÁDIO GAÚCHA
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