Atenas reinventa
os Jogos
JONES LOPES DA SILVA
O retorno dos Jogos,
mais de 1.500 anos depois de proibido pelo imperador
romano Teodósio I, se daria por onde tudo começou,
em 1896. Coubertin, então com 31 anos, um aristocrata
ligado à Universidade de Sorbonne, era um apaixonado
pela erupção de descobertas arqueológicas que
aconteciam àquela época na Grécia, principalmente
depois de 1850. O barão aproveitou a competição
política deflagrada com a corrida industrial entre
França e Inglaterra e convenceu estadistas a proclamar
Atenas a sede dos novos Jogos. Seria a capital
do esporte e da paz diante do perigoso crescimento
da intolerância entre os povos. Funcionou em parte.
Arranjou então dinheiro com um mecenas para melhorar
a saúde pública e erguer a vila olímpica de Atenas
e, por fim, ganhou o apoio do imperador grego
George I, que em princípio duvidava que seu país
pudesse servir como sede de tamanha loucura.
Então, no dia 5 de abril de 1896, George I anunciou:
Estão abertos os primeiros Jogos Olímpicos
da Era Moderna!
À época, porém, propostas pela maior participação
da mulher, pelo nascimento de repúblicas e pelo
voto direto varriam o mundo. Menos na cabeça do
barão. Ele achava que não era muito gracioso a
mulher mostrar seus atributos em público e por
isso vetou a participação feminina. O comitê olímpico
esqueceu de um detalhe quase fatal: a data do
começo dos Jogos, em 6 de abril,
obedecia ao calendário juliano, adotado até então
na Grécia. Tinha 12 dias de diferença em relação
ao calendário atual. Os norte-americanos imaginavam
que os Jogos começariam a 18 de abril e planejaram
chegar alguns dias antes. Quando desembarcaram
na Itália, em 1º de abril, descobriram que as
competições na verdade começavam no dia 6. Tiveram
de alugar um barco menor, mais veloz, para alcançar
Atenas a tempo de disputar as primeiras provas.
Ainda assim, os americanos ganharam quase tudo.
Menos a maratona, que esta prova era questão de
honra para os gregos.
|