verdade que a água do mar é salgada?
Pergunta Dirceu Canofre de Campos. Ele ignora a proximidade com as correntes do oceano Atlântico. Se deixasse Timbó Grande, no Planalto Norte, e seguisse em linha reta para o litoral, chegaria 207 quilômetros depois à Baía da Babitonga, em São Francisco do Sul, o mais antigo município de Santa Catarina. Sentiria o gosto da salinidade para dar fim a um desconhecimento improvável para quem vive em um país com 7,4 mil quilômetros de litoral.
Mas são profundas outras dúvidas do agricultor. Uma delas sobre os antepassados. O máximo que alcança é o nome de um avô, Fabiano Canofre de Campos. A filiação está escrita na carteira de identidade do pai falecido, que contava ser de origem alemã.
Desconfia-se que seja descendente das levas que, a partir de 1824, escolheram as áreas férteis do Brasil para recriar sonhos de prosperidade trazidos da Europa. Como fez Valentim Knopf, do qual pode ter nascido esse Canofre de Timbó Grande.
É o que sugere Telmo José Tomio, membro do Instituto de Genealogia de Santa Catarina. Com o tempo, a grafia do Knopf deve ter sido aportuguesada para Canofre. Em alemão, a palavra quer dizer botão.
A alteração, explica o genealogista, é um fato comum por causa da dificuldade que os responsáveis pelos registros tinham em entender as pronúncias. Em seus estudos, o pesquisador, que mora em Balneário Piçarras, encontrou o nome de Valentim Knopf, nascido em cerca de 1798, em Wahllhein, Alzey-Worms, na Alemanha. Um lenhador evangélico, que retirava o sustento da terra.
Além de desconhecer essa parte da própria origem, o brasileiro se ressente da falta de uma fotografia. A inexistência de um retrato do avô – nem o pai possuiu – é uma moldura vazia. Ouviu que o avô Fabiano viveu na costa do rio Passo Fundo, no Rio Grande do Sul. Lá teria abandonado a mulher, Rosa Pinheiro de Morais, com os filhos pequenos, e desaparecido. Fato é que Fabiano não deixou rastro. Algumas dúvidas, ele responde com suas próprias explicações:
REGISTRO | Certidão de casamento dos pais de Dirceu, Rodolfo e Izaura, é um dos poucos documentos dos antepassados
Mas carrega outros questionamentos:
– E como se tira o sal da água do mar?
Como se fosse possível dessalgar as águas do oceano, tal qual a carne dos porcos que abate a cada estação do ano e que põe para secar no varal fumacento do fogão.
Avião
A moradia da família Reβler fica a cerca de 500 metros das ruas centrais da pequena cidade. Ela é proprietária de 60 hectares de terra, onde cultiva uvas e faz cerca de 10,5 mil litros de vinho por hectare. O terreno é fértil e no inverno faz muito frio no lugar. Esse é o cenário onde se encontra parte das raízes da família de Dirceu na Alemanha.
Rüdiger e os familiares foram em busca do próprio passado. Provam isso quando, ao receber o DC, colocam sobre a mesa da casa de tijolos onde vivem dois pedaços de pedra de granito preto. As inscrições Hier ruht in Gott! (Aqui descansa em Deus!) e Ruhe Sanft! (Descanse em paz – pacificamente!) são de lápides retiradas de um cemitério.
– Quando soube sobre a existência de Valentim Knopf fui buscar informações, remexi documentos, olhei nos livros da Igreja e entendi que Bárbara, sua irmã, viria ser minha parente – conta Rüdiger.
Ao lado da mulher Heide Katja, e acompanhado pelos filhos adolescentes Jan-Peter e Jeanne Christin, ele explica que as pedras haviam sido retiradas da sepultura dos antepassados Friedriche e Katharina Zimmermann. São do filho e da nora de Bárbara Paul, filha de Bárbara Knopf, irmã de Valentin Knopf.
Investigar as origens da família era um antigo desejo deles. Mas a falta de tempo adiava a intenção. Até que chegou a informação de que havia no Brasil pessoas que poderiam ser do mesmo tronco.
– Até então, a gente não estava muito interessado em guardar a memória da família.
As primeiras buscas não foram promissoras. Nos cemitérios mais antigos da cidade, nenhuma referência aos Knopf. Em cartórios também não havia registros de terras. Porém, o sobrenome aparece em outros lugares mais distantes. Mudanças constantes mostram que não se fixavam em nenhum lugar. Isso, acredita o agricultor alemão, deve-se ao fato de que desde a origem os Knopf não tinham posses.
– Terras possuíam, mas não o suficiente para todos os filhos. Deve ter sido isso que levou Valentim a migrar.
Agora, quase 200 anos da partida, os rastros da família de Valentim Knopf estão desaparecidos. Na região não existe ninguém com o sobrenome Knopf. Os que existem não vêm de Valentim. Como eram pobres, a casa onde moravam devia ser de madeira. Caiu com o tempo.
No computador sobre a mesa da sala da casa confortável em Esselborn, na Alemanha, Rüdiger recorre ao Google Maps para localizar Timbó Grande em Santa Catarina. Em seguida, a família se junta para conhecer a cidade brasileira onde moram os parentes distantes.
– São 13,5 mil quilômetros separando-nos deles – constata o alemão.
Fotos da família de Timbó Grande se abrem na tela. Os moradores de Esselborn ficam chocados. O ambiente desfavorecido da casa em que mora a família que vive em terras catarinenses constrange.
Uma das que mais chama a atenção é a que mostra Iracema e Dirceu com os filhos ao redor do fogão a lenha. E outra, onde o avô põe o pé de uma neta para esquentar na portinha ao lado do forno. Também a dos filhos adolescentes fazendo a lição.
Por serem agricultores, eles observam com atenção a lavoura dos Canofre. Perguntam sobre o que plantam. E como é a produção da família catarinense. Querem saber se vendem a produção e quanto fica para alimento da família.
Professora, a esposa de Rüdiger, Heide Katja, interroga se os filhos de Iracema e Dirceu estão indo bem na escola. Ela entende que completar os estudos é o meio que possuem para ter uma vida melhor. Também parece tocada com a imagem de Iracema. A figura da brasileira de chinelos de dedo em pleno inverno, com roupas velhas e cercada de filhos impressiona a alemã.
Acostumados com frio e neve, surpreendem-se com as carências da família Canofre para enfrentar baixas temperaturas. Apesar disso, não demonstraram desejo de aproximação com os parentes de Timbó Grande.
No retorno ao Brasil, a reportagem revelou à família Canofre o contato com os alemães. Diante das fotos e vídeos, mostraram-se curiosos. Mas também não revelaram interesse em estabelecer algum contato.
NA ALEMANHA | Rüdiger com a mulher, Heide Katja, e os filhos adolescentes Jan-Peter e Jeanne Christin. FOTO ÂNGELA BASTOS
REFLEXOS | As imagens despertam curiosidade tanto nos alemães como nos brasileiros, mas nenhum manifesta desejo de encontros. FOTO ÂNGELA BASTOS
Uma terra de milagre
Nas buscas de Rüdiger, uma correspondência do irmão imigrado da bisavó, Valentim Knopf, escrita em 1º de dezembro de 1827 aos seus pais e irmãos em Wahllhein, e para sua irmã em Esselborn, descreve a jornada. O documento foi descoberto por Paul G. nos espólios da avó Bárbara Paul, nascida Zimmermann, em Esselborn, nos arredores de Alzey. A correspondência foi publicada na revista Hessische Chronik há cerca de 100 anos.
O migrante conta como foi a viagem, iniciada no porto de Hamburgo em 20 de setembro de 1825 e finalizada 78 dias depois, em 18 de janeiro de 1826 no cais do Rio de Janeiro. A correspondência foi entregue para uma instituição que resgata a história da emigração na Renânia.
Além do valor histórico, o documento tem trechos carregados de emoção, como a narrativa da morte de dois filhos pequenos de Valentim. Ao todo, na viagem de 300 pessoas, morreram cinco crianças e três adultos.
Valentim Knopf. Carta escrita em 1o de dezembro de 1827
A dúvida sobre o gosto da água do mar de Dirceu Canofre de Campos remete à saga dos imigrantes que há 190 anos formaram a primeira leva a cruzar o oceano para se instalar no sul do Brasil. Em 18 de julho de 1824, depois de passarem pelo Rio de Janeiro, onde foram recebidos e distribuídos, 39 imigrantes alcançaram Porto Alegre. Dois anos depois, mais imigrantes chegariam
A história da família está semeada no distrito de Esselborn, cidade de Alzey-Worms. É lá que vive o agricultor Rüdiger Reßler, 49 anos. Ele é parente distante de Valentim Knopf, imigrante que deu o sobrenome para o Dirceu de Timbó Grande
CORRESPONDÊNCIA NA ÍNTEGRA
Brasil, colônia alemã Trees Jusquilhas, não muito longe de Jorres, na província São Pedro de Alcântara.
Queridos pais, irmãos, parentes e amigos!
Já que bastante tempo se passou, que não ouvimos nada um do outro esperamos, confiantes em Deus, que esta carta chegue até vocês com boa saúde, pois já faz tempo que era nosso desejo de contar-lhes o nosso destino. Somente há pouco tempo temos paradeiro, recebemos terra e lugar para morar.
Já que não vai lhes ser desagradável ficar sabendo da nossa longa viagem, assim nós comunicamos que no dia 13 de setembro de 1825 chegamos a Steinfeld. Logo em seguida, tivemos de ir para Hamburgo e lá tivemos de acordar com o Sr. Major von Schaeffer, agente da Sua Majestade, o rei do Brasil, a viagem para o Rio de Janeiro. Para tanto tivemos de pagar 106 Gulden (valor da região).
Então no dia 20 subimos no navio, chamado de grua, e nele tinha bastante comida que até teríamos feito uma segunda viagem para a Europa.
Saímos pelo Elba no dia 1º de outubro e, com vento favorável, chegamos ao Canal da Inglaterra num porto na ilha Wight, chamado de Leste Oeste Cowes. Lá fomos obrigados a ficar 26 dias ancorados, porque o vento não era favorável para viajar. Também tenho de comunicar com muita dor que o nosso filho Johannes Jost morreu no dia 4 de outubro por causa de abcessos, porque eles secaram totalmente. Ele foi, conforme os costumes, jogado na água.
Igualmente no dia 9 de novembro morreu a nossa amada filha Barbara. Ela era sempre saudável e alegre, porém ela morreu com dores da inflamação dos dentes.
No porto de Cowes mais gente morreu e todos foram sepultados em terra. Assim, prometeu o capitão do navio enterrar a nossa criança também em terra.
Porém, o vento e o tempo, que eram desfavoráveis, não permitiram ir até a terra com o corpo. Nós mandamos fazer um caixão e assim ela foi sepultada quatro dias após a morte.
Aí minha esposa e eu pensamos que no nosso dia da ressurreição junto ao Senhor a água seja tão boa como a terra.
Na viagem, de 300 pessoas morreram cinco crianças, entre as quais algumas já estavam muito doentes, antes de chegarem ao navio. Mais duas mulheres e um homem com o nome de Einsfeld, da cidade de Partenheim. Ninguém morreu de enjoo, pois ele só dura de 8 a 10 dias e só provoca dor de cabeça e vômito.
Eu, a minha esposa inclusa, estive até agora sempre com saúde e bem, mesmo meu Valentim sofreu somente seis dias de enjoo e está sempre alegre e com saúde. Ele pede principalmente para saudar mil vezes a sua querida mãe e garante que ele vai muito bem.
Finalmente chegamos ao Rio de Janeiro, capital do Brasil, depois de seis semanas de uma viagem feliz, após termos passado pelas ilhas americanas e outras ilhas menores e menos importantes. Mesmo abaixo da linha do sol tudo era alegre e vivo. Era 18 de janeiro de 1826 quando chegamos ao Rio de Janeiro.
No dia 19 chegou a Sua Excelência Senhor José de Almeida de Miranda, que é o primeiro-ministro da Majestade do Rei e nos recebeu em nome da sua majestade, prometendo cuidar de nós paternalmente.
No dia 20 nos levaram a um lugar pequeno não muito longe da cidade do rei para descansarmos da longa viagem marítima por algumas semanas. Depois chegou um pequeno navio para nos levar à colônia alemã São Leopoldo, ou chamada Jactorn, cuja distância é 9 graus ou 270 milhas marítimas.
Neste ano vieram 1.200 pessoas a esta colônia e como nós éramos quase os últimos que chegaram foi dada para nós a terra na floresta virgem, que está numa região montanhosa e de difícil cultivo. Mas nós não a recusamos e Sua Majestade, o rei, que permitiu a cada alemão selecionar a melhor terra, ordenou por intermédio do presidente que nós deveríamos ser levados a uma outra colônia.
Cada mês nós recebíamos os nossos subsídios em dia. Para cada cabeça 30 francos. E já que fomos transferidos para a nova colônia em Jorres (Torres), os subsídios foram renovados. Isto quer dizer que nós receberíamos por um ano 30 francos por mês e para o outro ano 15 francos por mês. Isso faz então um ano e meio de subsídios.
Mas já que também esta terra não era aceitável para o plantio, assim fizemos uma petição ao presidente, que depois de uma detalhada investigação por agricultores conhecedores do assunto mandou nos transferir a uma nova colônia, onde chegamos em 1º de agosto de 1827.
Nós construímos a nossa moradia e plantamos muito até hoje, 1º de dezembro, e com a ajuda de Deus, na nossa segunda safra anual teremos em abundância pão e sustento.
Nós recebemos também uma chaleira de ferro para cozinhar, um machado, um martelo, uma enxada para cada pessoa que é apta para trabalhar. Ainda esperamos diariamente os nossos animais, um garanhão, duas éguas, dois bois e uma vaca.
Agora, maravilhosos amigos, contamos a vocês a nossa viagem e as nossas comodidades e benefícios neste país. Então nós queremos igualmente mostrar as inconveniências.
Pensando primeiro na viagem longa, através de diferentes climas da zona quente; passado isso, vocês chegam à terra, onde não se tem amigos ou parentes nem pais. Os laços de amizade mais fortes são rompidos, vocês não conhecem nem a língua e nem os costumes, amigos, terra natal, divertimento, conversas e tudo mais não se tem. Também tem de se abster da prática da religião por um tempo. Agora nós temos um pastor protestante, também um médico, que zelam pelo bem-estar da alma e do corpo.
Apesar de o Brasil ser um país muito saudável, surgem doenças frequentes, como era o caso na Colônia São Leopoldo. A gente recebe aqui um pedaço de terra, o qual seria um condado na Alemanha, mas, queridos amigos, tal terra onde cresce árvore ao lado de árvore, muito alta e enormes massas de árvores, dura como ferro, montanhas e vales, também ilhas pequenas, requer que o colono trabalhe muito nos primeiros anos, principalmente quando o subsídio termina.
Mas o colono que gosta de trabalhar colhe duas vezes abundantemente, sem que ele ache demais.
Todo início é difícil, mas aqui muito menos que na Alemanha. Aqui não precisa procurar ajuda para ninguém, pois cada um tem o seu sustento suficiente. Também não precisa pedir a ninguém, pois cada um tem o suficiente com os subsídios.
Caso o pai do Valentim queira vir para cá, pode ser feito, porque Valentim receberá tanta terra quanto eu e pode se alimentar bastante nesta terra. Pois ambas as nossas terras possuem 700 acres, somente terra boa e frutífera. Aqui se planta cana-de-açúcar, café, banana, uma fruta muito boa, melões, laranjas, todos os outros tipos de frutas do sul, batatas, legumes, enfim, uma terra de milagre.
Finalmente, amados pais e amigos, devo comunicar-lhes que o nosso cunhado Sperb e os seus filhos estão todos com saúde e que ele ficou em São Leopoldo e trocou com um outro uma colônia pagando em dinheiro, uma soma de 140 vales Brabant.
Ele prometeu na Alemanha me levar para Hamburgo, o que não aconteceu. Ele se queixou de mim ao nosso inspetor e exigiu sem ter direito 40 Gulden de frete.
Já que achei esta soma devidamente alta, dei de presente do meu bolso 9 Gulden, porque não fui obrigado pelo inspetor.
Meus queridos pais, também lhes comunico que o nosso Senhor Deus nos deu no dia 4 de maio de 1827 um filho bonito. No batismo ele recebeu o nome de Carl, seu padrinho é Carl Becker. Ele é muito forte e bem-feito, graças a Deus, é alegre e saudável. Carl Becker e Heinrich Becker também se encontram aqui e cada um recebeu uma terra como todo pai de família recebe.
Também o Heinrich casou-se com uma menina boa e de boa índole, a filha de Jakob Kluppel, de Erbes-Büdesheim. Também está aqui Christian Maurer, que também se casou, com a filha de Nikolaus Helbig, que tem um irmão em Wahllein.
Queridos pais e amigos, ainda tenho de dizer que Christian Klaren nos deixou no Rio de Janeiro, andou por lá, mas depois chegou à colônia e se casou.
Finalmente comunicamos que a nossa rainha, por todos reverenciada, morreu repentinamente, enquanto o nosso rei, muito benevolente, estava numa viagem ao campo de batalha contra o inimigo. Agora é quase certo dizer que a nossa majestade vai se casar de novo com uma princesa bávara, que sempre para nós colonos alemãs era uma sorte.
Mesmo numa viagem anterior o rei presenteou a cada família 4 mil réis (ou 1 Carlin), pois ele é muito social e bondoso com os alemães.
Depois de receber a carta, nós esperamos, queridos pais, que logo escrevam, como vai a terra natal, se vocês estão com saúde e todos vivem ainda, porque somos muito curiosos, em ouvir dos nossos pais, amigos, parentes e conhecidos as novidades em geral, já que tudo é querido e importante para nós, o que nós ouvimos da nossa terra natal, principalmente da nossa região.
Queridos pais, eu peço, quando queiram escrever, aí tem de ir viajar para Mainz ou Frankfurt, para averiguar com vários comerciantes, quais correspondências têm para Hamburgo, Bremen, Altona ou Amsterdã. Se vocês encontrarem um, paguem o selo e peçam para enviar a carta para a sua Excelência Senhor José Almeida de Miranda, no Rio de Janeiro, o qual imediatamente mandará a carta para mim. Pois este é um homem muito bom com os alemães, muito bem relacionado com o rei, que o nomeou diretor dos alemães.
Assim como está o endereço escrito, deve ser escrita a carta, senão a carta não chegará ao Sr. Miranda.
Querido cunhado Korrel e cunhada, a minha esposa sempre tem o grande desejo de ter vocês no Brasil. Seria desejável que venham para cá e vivam em tranquilidade e paz. Bem, aqui vocês viveriam sem preocupações, por que aqui não precisam pagar tributos. Aqui se falava na Alemanha em 10 anos livres. Aqui moram portugueses, franceses, ingleses e vários alemães em número grande, que nunca pagaram algo.
Peter Rheinheimer de Altenklein, meu vizinho, Phillip Hoffman de Zozenheim, sua mulher nascida em Eppelsheim, meu vizinho, estão todos ainda alegres e com saúde.
Nós teríamos ainda mais para escrever, mas já que o espaço é pequeno demais, assim terminamos e desejamos que vocês escrevam logo e que Deus todo-poderoso queira vocês com saúde.
Saúdem todos os amigos e todos que perguntarem por mim, principalmente o prefeito Wick, a mulher e os filhos dele. E o Peter Maurer com esposa e filhos, Knopf Valentim.
O endereço a mim é o seguinte: Dal Senghor, Valentino Knopf, Murator bella Colonia das Irres Jusquilhas as Jorres, Provincial di S. Pedro d'Alcantara.
Esta carta a mim deve ser lacrada e colocada num envelope e mandada com o endereço que segue para Rio de Janeiro, mas deve ser assinada por um comerciante ou professor de escola: Alla Sua Excellenza Senghor Jose Almeira de Miranda, Directore das Colonos Allemaas. Rio de Janeiro.
Tradução de Eberhard Josef Albert
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VIAGEM PARA A AMÉRICA
Origem e destino de
Valentim Knopf no Brasil
Nesta etapa, incrementava-se o mapa da colonização germânica, do qual esse Canofre – que pode ter vindo da denominação Knopf – iria figurar. Documentos mostram que o imigrante de 27 anos estava entre os passageiros do navio Kranich, comandado pelo capitão Klauss Frederico Becker, e que fez sua segunda viagem ao Rio de Janeiro em 18 de maio de 1826. Com ele vieram 40 famílias, 216 pessoas a bordo, destinadas à Colônia de São Leopoldo.
A vinda de Valentim Knopf foi consequência da política de imigração do governo brasileiro. Dois anos antes do primeiro desembarque, um emissário viajou para a Europa. Era o major Georg Anton von Schäffer, o qual recrutou interessados em se mudar para o Brasil.
Para convencê-los, acenou com vantagens. Foram oferecidas: passagem às custas do governo; concessão gratuita de um lote de terra de 78 hectares; subsídio diário de um franco ou 160 réis a cada colono no primeiro ano e metade no segundo; e certa quantidade de bois, vacas, cavalos, porcos e galinhas, na proporção do número de pessoas de cada família.
FOTO ÂNGELA BASTOS
DA TERRA | Rüdiger, parente distante de Dirceu
na Alemanha, também mantém a casa da família em uma
área rural e tira o sustento da agricultura. FOTO ÂNGELA BASTOS
NA PEDRA | Lápides no cemitério de Esselborn
revelam o passado da família. FOTO ÂNGELA BASTOS
Reportagem
ÂNGELA BASTOS
É repórter especial e há 20 anos trabalha no Diário Catarinense. Para esta reportagem multimídia, dedicou dois anos e sete meses de apuração.
angela.bastos@diario.com.br
Fotografia
CHARLES GUERRA
Repórter fotográfico e há 15 anos atua no Grupo RBS. Registrou em imagens o cotidiano da família protagonista desta reportagem.
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julia.pitthan@diario.com.br
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Trilha sonora original
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Trilha sonora
TÁCIO VIEIRA
GUSTAVO RODRIGO DE SOUZA
WAGNER SEGURA
Tradutores
ÂNGELA INÊS RAUBER
CATARINA SIARLI KORMANN
EBERHARD JOSEF ALBERT
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