A CAMINHO DA ESCOLA

Sofreu vários formas de violência física e moral. Chegou a levar uma paulada na cabeça. O marido acabou se suicidando. Teve três filhos com ele

questão da violência contra a mulher da área rural também permanece invisível para a escola. Quando vem à tona, é mais pela sensibilidade do professor do que propriamente por uma política educacioal. É o que observa a pedagoga Noeli Gemelli Reali, professora da Universidade Federal Fronteira Sul (UFFS), com sede em Chapecó, e doutoranda em Educação na UFSC. Para ela, a sala de aula é o lugar indicado para o enfrentamenteo dessa realidade, pois trabalha com crianças e adolescentes muitas vezes inseridos num contexto familiar de tensão permanente. Meninos e meninas que não têm referências para aprender sobre outras formas de convívio além do que presenciam em casa.

— Quando a criança está envolvida em um ambiente em que a figura da mulher passa pelo deboche, humilhação, ofensa, violência, inclusive a física, é assim que ela aprende. Se os meninos aprendem a ser violentos, por consequência, tornam-se homens violentos. Da mesma forma, meninas que aprendem a ser submissas se tornam  mulheres submissas.

 Noeli lembra do ditado “em briga de marido e mulher, ninguém mete a colher”. Para ela, a expressão ensina que a violência é legítima e protege o agressor.

— Nós entendemos que numa briga de marido e mulher, quando extrapola, quando vai para o campo da violência física, da humilhação, da subjugação e que põe inclusive em risco a vida da mulher e da família, a gente mete a polícia, mete os vizinhos, mete as amigas e os amigos, e a escola também.

Também professora da UFFS, Valdete Boni atua na área de Ciências Sociais e concorda que o espaço educacional precisa assumir o debate. Inclusive porque, ao longo dos anos, mulheres que vivem no campo tiveram menos acesso ao estudo e isso fez com que tenham ficado longe de algumas discussões, como de gênero. Nos últimos tempos, observa, a situação mudou com a saída das meninas para estudar fora. Ao retornarem, elas acabam levando outras reflexões para dentro das famílias. Mas, por se tratar de um processo de construção histórica, há muito para ser feito sobre o forte moralismo, o controle e o domínio fundamentados na cultura do patriarcado.

Para Justina Cima, da coordenação estadual e nacional do Movimento de Mulheres Camponesas (MMC), o assunto não é novo. A discussão está presente desde o começo da articulação do movimento, em 1983, assim como a educação popular.

Ao identificar a questão da  baixa escolaridade entre as mulheres mais velhas, o MMC escolheu a educação popular como uma das bandeiras. Mas também estimulou as mulheres a retomar os estudos no ensino regular.

— Hoje, temos muitas companheiras que foram para o Ceja (Centro de Educação de Jovens e Adultos), Exame Nacional do Ensino Médio (Enen), cursos de graduação. Esse processo também impacta, pois é mais fácil agredir uma mulher que não tem condições de conversar com a sociedade sobre sua dor e sofrimento do que aquela que consegue se articular — diz Justina.

ENTREVISTA: JUSTINA CIMA,

COORDENAÇÃO ESTADUAL MMC/SC

ENTREVISTA: VALDETE BONI,

PROFESSORA DA UFFS

ENTREVISTA: NOELI GEMELLI

REALI, PROFESSORA DA UFFS

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DC: NAS REDES

Material publicado em 1º de julho de 2017