O Projeto
Quem são e o que querem os eleitores de Santa Maria
Arte Charles Segat
Santa Maria tem 203 mil eleitores aptos a irem às urnas em 2 de outubro para escolher quem comandará a cidade a partir de janeiro do ano que vem. Até o momento, mesmo sendo fundamentais no processo político e eleitoral, essas pessoas eram anônimas nas suas características e nos seus desejos. E foi exatamente para saber quem são esses santa-marienses, quais são seus anseios e o que esperam do futuro gestor da cidade, que o projeto Diário nos Bairros/Eleições 2016 percorreu os 41 bairros do município e ouviu mais de 500 moradores que responderam como o próximo prefeito pode fazer a diferença na vida deles. O trabalho resultou em 41 reportagens, publicadas entre 6 de junho e 15 de agosto.
Do total de moradores ouvidos, 470 têm domicílio eleitoral em Santa Maria e formam uma mostra dos eleitores da cidade: a maioria mulheres, com idades entre 17 e 83 anos, escolaridade até o Ensino Médio, renda de até R$ 3.310 e com muito interesse no pleito municipal (confira aqui o perfil).
Durante três meses (de 4 de abril a 13 de julho), a equipe do Diário percorreu cada rua, ruela, beco e estrada nas cinco grandes regiões da área urbana que formam Santa Maria (a área rural será tema de outra matéria). Nesse período, a reportagem ouviu reivindicações de comunidades que, há décadas, dizem estar abandonadas pelo poder público.
Fizeram parte dos relatos, histórias de moradores que ajudaram a formar as comunidades, como o seu João Maria de Oliveira, 72 anos. Quando ele foi morar no Uglione, há 45 anos, o bairro nem tinha esse nome. Era uma área rural. Da porta da casa, à época, o pedreiro podia ver um vasto campo com alguns animais e uma lavoura de mandioca. Com o passar dos anos, viu o local ser povoado, mas sem a infraestrutura básica necessária para acompanhar o desenvolvimento populacional do local. Ainda hoje, o esgoto e o lixo das casas vão parar na sanga que corta o bairro.
De leste a oeste, norte a sul
As realidades são bem diferentes e contrastantes. Enquanto, em alguns bairros, os próprios moradores dizem não ter do que reclamar, em outros, falta o básico para viver, como redes de água, de luz e de esgoto tratado.
Se, na periferia, o desafio é garantir a infraestrutura mínima necessária para viver bem, na área central, é a segurança que mais aflige os moradores. E, em qualquer ponto da cidade, a saúde aparece como necessidade urgente de investimentos. Infraestrutura, segurança e saúde foram as três áreas eleitas como prioritárias pelos moradores dos 41 bairros da cidade.
De acordo com o cientista político Benedito Tadeu César, obras públicas, incluindo mobilidade urbana, saúde, educação e segurança são as áreas onde o governo tem a obrigação de investir, independentemente da ideologia do gestor. Há níveis de competência entre os governos estadual, federal e municipal, no entanto, que são definidos constitucionalmente. Mas cabe sempre ao gestor municipal mediar e buscar recursos e empreendimentos dos demais níveis de governo para atender necessidades do seu município. Mas qual é a melhor forma de aplicar os recursos disponíveis?
– Em uma democracia, deve caber à população definir suas prioridades e, para isto, ela precisa ser ouvida – diz César.