O
exercício de resumir três décadas de reportagem em uma lista com apenas 30 acontecimentos é o mesmo exercício de registrar em um breve documento o curso de uma história. Nas páginas que se seguem, estão elencados em ordem cronológica os eventos e as imagens que, de alguma maneira, impactaram a vida dos catarinenses. A lista, porém, de forma alguma pretende dar conta da totalidade do que foram esses 30 anos de desenvolvimento, mudanças e, no caso do Diário Catarinense, de muito trabalho. Tentamos contemplar um pouco de cada assunto e de cada região, sem esquecer dos maiores acontecimentos nacionais e até mesmo internacionais que tiveram reflexo em Santa Catarina, das tragédias climáticas e dos acidentes rodoviários que ainda hoje nos assombram até as grandes festas, shows e conquistas do esporte. Esperamos que o leitor possa, neste especial, se identificar com este enorme desafio que foi transformar quase 11 mil edições em 30 momentos históricos.
30
MOMENTOS EM QUE A HISTÓRIA PASSOU PELO DC
MOMENTOS MARCANTES EM FOTOS
MOMENTOS MARCANTES EM VÍDEOS
Levantando bandeiras
E
m 30 anos, foram muitas as vezes em que o DC assumiu intensamente o papel de repercutir e ampliar os apelos da população catarinense, dando voz às causas sociais que, em diferentes épocas e contextos, ganham a atenção dos leitores. Um dos papéis do jornal, em seu lugar de protagonista da comunicação no Estado, é reverberar os anseios da sociedade e cobrar mudanças do poder público, priorizando as pautas que emanam da coletividade e que afetam um grande número de pessoas. De tempos em tempos, o jornal se lança na missão de detectar quais as causas percebidas como as mais urgentes pelos leitores e, partir daí, uma grande força-tarefa é montada para investigar o assunto, ouvir personagens e ajudar a deflagrar processos de mudança. Nas páginas a seguir, conheça alguns exemplos.
– Sim, vamos fazer –respondeu-lhe Pedro Sirotsky.
A partir de então, uma grande mobilização tomou conta de Santa Catarina. Como resultado, um milhão de assinaturas que sensibilizaram o Governo Federal. Em setembro de 1994, 500 mil assinaturas recolhidas foram entregues ao então presidente da República, Itamar Franco. No ano seguinte, outros 500 mil nomes chegaram ao presidente Fernando Henrique Cardoso.
– Sabe-se lá quantas vidas foram salvas– sugere Margot, hoje aposentada e moradora de Jurerê Internacional.
A leitora não foi apenas a autora da carta que deu origem ao abaixo-assinado. Apoiada e motivada pelas iniciativas do jornal, que desencadeou ampla cobertura editorial e deflagrou intensa campanha publicitária, teve um empenho pessoal ajudando a sensibilizar muita gente: políticos, empresários, comerciantes, moradores.
Marco Favero
– Lembro que escrevi uma carta para os síndicos de prédios coletarem assinaturas dos moradores. O Nestor, meu marido, visitou 117 condomínios no Centro de Florianópolis, para entregar as correspondências.
Margot trabalhava na Receita Federal e aproveitava o intervalo do almoço para conversar com diretorias de escolas, gerentes de órgãos públicos, comando da Polícia Militar, assessoria do arcebispado, gerências de shopping centers, representantes de entidades de classe, de clubes de serviço e prefeituras onde se realizariam festas públicas e grandes eventos.
O objetivo era aproveitar os espaços e pedir para que as pessoas aderissem à causa. Até para a maçonaria Margot pediu ajuda. Não existiam redes sociais, como Twiter e Facebook, e nem celular. O telefone ainda era discado, mas a campanha não parava. Edições inteiras do jornal tratavam do assunto, assim como uma intensa campanha: as pessoas vestiam camisetas e havia distribuição de brindes, como folders, leques e cartazes.
Além da boa receptividade nos diferentes segmentos da sociedade catarinense, Margot relembra de gratas surpresas:
– Uma vez fui levar familiares na rodoviária e lá estava uma moça pedindo assinaturas. Outra vez me deparei na entrada do shopping com uma banquinha e a moça me perguntou: a senhora já assinou o abaixo-assinado pela duplicação da BR-101?
Mas é a lembrança de um dia em que foi pegar um táxi que emociona Margot.
– Um dia eu chorei. Entrei em um táxi e tinha um adesivo: ‘Duplicar a BR-101, uma questão de vida’. Não se falava em morte, mas em vida. Eu olhei e todos os táxis perfilados tinham o mesmo adesivo. Até hoje me emociono com isso– diz com a voz embargada.
Margot esteve duas vezes em Brasília quando os abaixo-assinados foram entregues e também em cerimônias relacionadas à duplicação. Dia 5 deste mês, estará na Assembleia Legislativa de Santa Catarina recebendo uma homenagem pelos 30 anos do DC. Para ela, a semente foi lançada em terra fértil e por isso o êxito da campanha e o marco tão positivo.
Em 2005, durante o primeiro governo do presidente Luís Inácio Lula da Silva, começaram as obras de duplicação nos lotes catarinense e gaúcho. Hoje, a rodovia ainda não está totalmente duplicada, mas uma das obras mais emblemáticas foi finalizada em julho de 2015, a ponte Anita Garibaldi, de 2,3 quilômetros, estaiada, promessa cumprida pela presidente Dilma Rousseff. Assim como o túnel do Morro do Formigão, em Tubarão. Estima-se para que a conclusão final (em linha reta) ocorra falte cerca de seis quilômetros, referentes à transposição dos morros dos Cavalos (Palhoça) e Formigão (Tubarão).
ASSISTA À entrevista com Margot Teixeira
5 temas que ainda são manchete
O
tempo é mesmo uma grandeza relativa: enquanto muitos lugares, pessoas, cenários e hábitos mudaram radicalmente ao longo desses 30 anos, outros dados e fatos parecem ter sofrido pouco ou nada com a passagem de três décadas. Se por um lado não sofremos mais com a difteria que paralisava atividades no Estado em 1986, nem com a inflação astronômica que alterava o preço dos produtos quase que diariamente, por outro ainda padecemos dos problemas decorrentes das grandes quantidades de chuva que, volta e meia, atingem o Estado, causando estragos e até mesmo mortes. Já a duplicação da BR-101 evoluiu bastante, mas ainda não saiu das páginas do jornal. Confira ao lado 5 temas que há 30 anos aparecem na capa do DC.