| 01/12/2009 05h31min
Há uma questão importante neste imbróglio todo envolvendo a necessidade de o Grêmio perder para o Flamengo na última rodada se quiser impedir o Inter de ser campeão brasileiro.
O sistema de pontos de corridos não tem nada a ver com o constrangimento na Azenha ou na Padre Cacique.
Se o Inter chega ao fim do Brasileirão dependendo de resultados paralelos para ser campeão é por pecados seus e de mais ninguém. Bastaria não ter patinado tanto em casa. O campeonato começou no dia 19 de maio. De lá para cá foram sete meses e jogos para todos os gostos. Colorados racionais concordarão comigo.
Vale o mesmo raciocínio para o Grêmio. Esta situação humilhante de ficar feliz por perder um jogo fora de casa depois de passar o ano todo perdendo jogos fora de casa é culpa do próprio Grêmio, incapaz de
somar pontos longe do Olímpico. E nunca, em nenhum momento, ter
postulado o título. Nenhum gremista racional deixará de concordar comigo: o Grêmio é grande demais para se contentar em ser mero coadjuvante.
Desde que foi adotado em 2003, tudo é culpa dos pontos corridos. Até enchente é culpa dos pontos corridos. Os argumentos foram caindo aos poucos. Primeiro, não havia emoção nas rodadas finais. Bem, se o que estamos vivendo não é eletrizante, com o título em aberto até o último suspiro do campeonato, não entendo mais nada.
Depois, veio a questão do público. Sem uma final, os estádios ficariam vazios. Bastou a torcida se acostumar e compreender a lógica da disputa que aí está: Maracanã, Mineirão, Morumbi, Parque Antártica, Couto Pereira, Aflitos, estádios lotados ou quase sempre lotados. Mesmo o Olímpico, sem nunca o Grêmio ter brigado pela taça, recebeu bom público.
Agora, com o episódio da torcida do Corinthians feliz por perder para o Flamengo e prejudicar o São Paulo, aliado ao do Grêmio na
última rodada, culpa-se a fórmula. É um erro. A
cadeira foi feita para sentar, mas se um maluco a espatifa na cabeça de alguém a mesma cadeira torna-se arma mortal.
Se há jogo de cartas marcadas, é pela índole do futebol brasileiro. Ou pela ausência de punição. Na Itália, quando houve suspeitas de falcaturas em resultados arranjados, sobrou até para o Milan, que foi rebaixado sem dó nem piedade. Talvez seja o que falta no Brasil. De qualquer forma, não será todo o ano que se repetirá situações como esta.
A lógica é sempre existir algum interesse em disputa: título, vaga na Libertadores, um lugarzinho na Sul-Americana, a luta contra o rebaixamento. E, com o tempo, isso tende a acabar. Quem entregar em um ano, sabe que pode ser vítima do mesmo mal no ano seguinte, até todos aprenderem. Quem diz isso é Tcheco: uma tese interessante.
Além do mais, pontos corridos não é inimigo do mata-mata. Eles não são antagônicos. Os dois podem e devem conviver juntos para harmonizar a
temporada.
O torneio mais
importante do continente é mata-mata, assim como a Copa do Brasil e os Estaduais. Qual o problema de contarmos com apenas um de pontos corridos, para garantir aos clubes atividade o ano todo? E facilitar a venda de pay-per-view e do campeonato para o mundo todo, com jogos definidos e sem virada de mesa?
Mata-mata e pontos corridos têm defeitos e qualidades, cada um a seu tempo. O que não pode é se jogar a culpa até do apagão e das enchentes nos pontos corridos. Aí vira birra, radicalização.
E esse nunca foi o melhor caminho para nada.
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