| 07/04/2007 14h42min
Situação não mudou
Mesmo depois de sucessivas reuniões com o governo, os controladores aéreos ganham os mesmos salários e continuam sob igual regime, sob o estresse do excesso de trabalho. Ou seja, estão mantidos os motivos para insatisfação, agravados por uma investigação que pode culminar em severas penas, previstas no Código Penal Militar. Os controladores só admitem a aplicação do Regulamento Militar, que prevê máximo de 30 dias de detenção. Se a prisão for de mais de dois anos, provocam expulsão da Aeronáutica.
O governo recuou em todos os pontos do acordo feito para encerrar a paralisação de 30 de março - anistia, gratificação e desmilitarização. E não pretende conceder reajuste salarial para os sargentos-controladores, já que teria de fazer a mesma coisa com os demais postos nas três forças.
- Não há como aumentar o salário de R$ 2 mil e não fazer a mesma coisa com os outros - diz o vice-líder do governo na Câmara,
Beto Albuquerque (PSB).
Acordo foi
descumprido
Desarticulado pela ausência do presidente, em viagem aos Estados Unidos e com os ministros mais ligados à área fora de Brasília, o governo enviou o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, para negociar um acordo que fizesse os amotinados retornar ao trabalho. Depois, deixou Bernardo sozinho ao dizer que não cumpriria as promessas do ministro.
- O Paulo Bernardo agiu na hora da crise aguda. Mas o presidente já deixou muito claro que o assunto é militar - afirma Albuquerque, confirmando que o acordo, de fato, não será cumprido.
Interrompida no final da manhã, a reunião que detalharia os termos do acordo teve de ser retomada à noite, apenas com a presença de um representante dos civis, Jorge Botelho, e um dos militares, Wellington Rodrigues. Mesmo reconhecendo a forte pressão das Forças Armadas contra o acordo, os controladores ficaram ainda mais frustrados com a atuação do governo.
Indefinição do
governo
Entregar a tarefa de negociar punições,
remuneração e desmilitarização à Aeronáutica equivale a postergar novamente uma solução. O comando é contrário à transferência dos sargentos para a área civil, exige o cumprimento do Código Penal Militar e não tem autonomia para conceder reajustes salariais.
Paulo Bernardo afirmou, sexta-feira, que só no início desta semana vai conversar com o comandante da Aeronáutica, Juniti Saito, para saber como ele quer conduzir a questão. Um plano para resolver a crise é adiado há mais de seis meses, desde que a colisão com um jato Legacy provocou a queda de um Boeing da Gol, causando 154 mortes.
- O comando anterior da Aeronáutica foi frouxo na solução desse problema - reconhece o coronel da reserva Geraldo Cavagnari.
- É preciso um ministro (da Defesa) que tenha energia para isso e um governo que instrua o ministro - argumenta João Roberto Martins Filho, presidente da Associação Brasileira de Estudos de Defesa.
Poder de
pressão
Ao cruzar os braços e parar por seis horas
quase todos os aeroportos do país, em 30 de março último, os controladores de vôo mostraram o poder que têm. Antes da forte reação das Forças Armadas ao acordo obtido, a euforia tomava conta dos responsáveis pela mobilização.
- Aprendemos que podemos parar o país e exigimos ser ouvidos. Chega de arbitrariedade e desrespeito - chegou a dizer um dos sargentos que liderou o movimento.
Minada pela possibilidade de abertura de um inquérito policial militar e pela forte rejeição da opinião pública, a autoconfiança da categoria abrandou. Mas ainda que a Aeronáutica assegure ter, agora, um plano de contingência, a curto prazo é difícil substituir um grande número de operadores. E embora estejam cientes dos riscos de uma atitude radical, perceberam que até o presidente da República - ainda que tenha sido por pouco tempo - cede diante de uma mobilização como aquela.
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