Notícias

Itapema FM  | 25/04/2014 09h20min

Cadeirantes da Grande Florianópolis contam como resgataram a autoestima com o esporte

José Paulo Schoeller, Jordana Muller da Costa e Alexandre Rodrigues Martins mantêm rotinas normais mesmo depois de lesões na medula

Mariana Gianjoppe  |  mariana.santos@diario.com.br

Cadeirantes da Grande Florianópolis provam que é possível resgatar a autoestima e a independência com a ajuda do esporte. Eles são bem mais ativos do que muita gente que não tem limitações físicas, e procuram levar uma vida normal. Ainda assim, sonham com a cura da lesão na medula, causa defendida pela corrida mundial Wings For Life World Run, que ocorrerá em Florianópolis no próximo dia 4 de Maio.

No começo é sempre um baque, define o atleta catarinense José Raul Schoeller. Há quase sete anos, um acidente de carro na BR-101, no sul do estado, lesionou suas vértebras cervicais. Depois de passar meses no hospital, ele teve de encarar o que parecia impossível na época: viver em uma cadeira de rodas. Mas um documentário transformou a sua perspectiva. O filme apresentava o rúgbi em cadeira de rodas, que virou a sua maior motivação. Diferentemente do tradicional, disputado em campo, a versão adaptada é jogada dentro de quadra, com quatro atletas de cada lado e regras próprias. No entanto, a intensidade e o contato seguem como características principais.

— Quem não conhece tem muita curiosidade, não imagina que um cadeirante seja capaz de jogar um esporte com tanto contato, quedas, que exija tanta força. É uma maneira diferente de enxergar a deficiência — comenta Schoeller.

Medalha de bronze no Panamericano de 2013 com a Seleção Brasileira, o jovem de Palhoça, que aos 22 anos está prestes a se formar na faculdade de direito, credita ao esporte sua maior conquista desde o acidente: a independência.

— Hoje não me importo mais em estar ou não em uma cadeira de rodas. Torço pela cura da lesão na medula, mas não é algo que me consome. Meu maior foco no momento é estar nos Jogos Paralímpicos de 2016 — afirma.

Quem também tem comemorado muitas vitórias é a cadeirante Jordana Muller da Costa. Mas não se trata de títulos ou medalhas, no último fim de semana, por exemplo, a conquista foi sair do trabalho, ir ao aeroporto, pegar um avião, participar de uma festa de aniversário e voltar no dia seguinte para Florianópolis. Tudo isso sozinha.

— Hoje tenho uma vida completamente dentro da normalidade e o esporte foi essencial neste processo de adaptação — conta.

A bancária também sofreu lesões na medula em um acidente de carro. Aconteceu em junho de 2010, às 6h da manhã, quando repetia a rotina semanal de ir para Rio do Sul à trabalho. Ainda nos primeiros meses de recuperação, experimentou a natação e se reencontrou. Aos 32 anos, ela gosta de servir de exemplo positivo para quem acha que viver em uma cadeira de rodas é o fim do mundo. Mas ressalta que não é vítima nem heroína.

— Levo a minha vida como todo mundo, tentando ser feliz. Claro que gostaria de voltar a andar, facilitaria muito o meu dia a dia. Por isso acredito na cura, tenho que acreditar. O esporte é importante até para isso, já que temos que estar saudáveis e preparados fisicamente para caso um dia a cura seja descoberta — aponta.

Alexandro Rodrigues Martins passou por uma situação revoltante. Ao sofrer um assalto na Palhoça, em 2008, levou um tiro na coluna que o tornou paraplégico, aos 23 anos. Porém, ele não se abalou. Menos de um ano após o incidente, foi convidado a integrar a equipe de basquete sobre rodas Tubarões de Floripa, e os treinos e competições tomaram o espaço de qualquer lamentação. O melhor que o esporte lhe proporciona? Saúde, autoconfiança e muitas amizades.

— Nunca tinha praticado um esporte de alto rendimento. No máximo uma pelada com os amigos de fim de semana. O basquete me levou a muitos lugares que não conhecia e me possibilitou diversas conquistas, já cheguei inclusive a treinar com a Seleção Brasileira. Mas o mais importante foram as amizades que fiz no caminho, poder ajudar e ser ajudado.

Hoje casado e com o filho prestes a completar um ano de idade, Alexandro guarda dois grandes sonhos: vestir a amarelinha para defender o Brasil lá fora e recuperar os movimentos.

— Faltam investimentos e interesse em mais pesquisas na área. Acredito que se fosse investido mais na saúde, em vez de gastos desnecessários, não demoraríamos a encontrar a cura.

Serviço da corrida

Data: 4 de maio
Horário: 7h
Local da largada: Via Expressa Sul, na Capital, próximo ao Trevo da Seta. O percurso passa por estradas, praias e trilhas, sendo classificado como a "Corrida na Natureza".
Distância: de 1km a 100km. A competição é para corredores de todos os níveis, desde amadores até atletas profissionais.
Inscrições: até domingo pelo site www.wingsforlifeworldrun.com .
A prova: meia hora após a largada, um carro parte perseguindo os corredores em cada uma das mais de 40 localidades do mundo que recebem a corrida simultaneamente. Quando o atleta é ultrapassado pelo carro seguidor, a prova dele termina. os últimos a serem alcançados, considerando os resultados de todas as sedes, serão os vencedores globais.
Causa nobre: Ao participar do evento, os atletas ajudarão milhares de pessoas ao redor do mundo, já que 100% dos rendimentos da corrida serão revertidos para o Wings For Life, uma fundação que financia pesquisas para encontrar a cura para lesões na medula espinhal.
Escala global: o mundo inteiro vai correr ao mesmo tempo. Milhares de competidores largarão simultaneamente em todos os continentes do planeta. Até o momento são 34 locais confirmados. Florianópolis foi escolhida para abrigar o evento no Brasil pelo visual que proporciona aos atletas.

DIÁRIO CATARINENSE
Joon Ho Kim / ADEACAMP

José Raul Schoeller superou o acidente de carro por meio do rúgbi
Foto:  Joon Ho Kim  /  ADEACAMP


Comente esta matéria

Notícias Relacionadas

23/04/2014 07h11min
"O mais emocionante sobre a corrida é não ter linha de chegada", comenta diretor de prova da Wings For Life Run
29/03/2014 15h31min
Exemplo de superação, Fernando Fernandes é embaixador da corrida Wings For Life World Run
Sintonize a Itapema em Florianópolis 98.7, em Joinville, sintonize 95.3

Grupo RBS Fale Conosco | Anuncie | Trabalhe no Grupo RBS - © 2009
clicRBS.com.br • Todos os direitos reservados.