| 03/01/2014 22h20min
Com a escassez, veio o desespero — da compra (de quem está sem água e se dispõe ao pagamento extra serviço público) e da venda, dos que enxergaram nos problemas de abastecimento um lucrativo negócio de temporada. E aí é que surge uma indústria paralela de distribuição de água, que se aproveita da ineficiência das estatais que deveriam atender os consumidores.
Existem dois tipos de mercado: as empresas legalizadas, que atuam durante o ano todo e aproveitam o aumento da demanda para triplicar o preço do produto, e aquelas que nascem da oportunidade.
Uma carga de 20 mil litros de água, que abastece principalmente restaurantes e hotéis, está custando cerca de R$ 2,5 mil em Florianópolis (em Balneário Camboriú pode chegar até R$ 2,7 mil) — um aumento de mais de 300% se comparado ao preço da baixa temporada, que varia entre R$ 800 e R$ 1 mil. Já quem quer encher a caixa d'água de casa tem que desembolsar entre R$ 350 e R$ 500 por 2 mil litros de água.
Sem fiscalização, empresas ilegais pegam carona na busca pelo lucro
Por não existir um banco de dados único na Vigilância Sanitária, que é quem fiscaliza o negócio, não há como saber com exatidão a quantidade de estabelecimentos que distribui água potável com o uso de caminhão-pipa. A estimativa é de que não chegue a 10 o número de empresas legalizadas no Estado. E justamente pela falta de rigor é que surge a brecha para pegar carona na busca pelo lucro, mesmo sem garantia da qualidade do produto.
— Isso é uma máfia, todo mundo quer se aproveitar e ganhar dinheiro fácil. Surge uma nova indústria de distribuição de água — diz um empresário do ramo que, por medo de retaliação, prefere não ser identificado.
Ele conta que as empresas legalizadas estão sendo procuradas por um grupo de pessoas interessadas em alugar os caminhões-pipa, para também investir no negócio, mas sem esclarecer de onde captaria a água. Outro grupo, sabendo que o aumento da procura estaria comprometendo os reservatórios particulares, estaria se dispondo a comercializar água de fontes desconhecidas. No negócio legal, as empresas têm os próprios poços artesianos, perfurados e fiscalizados com autorização do Estado.
Caminhões de limpeza de fossa e esgoto estariam sendo usados para distribuir água potável em Balneário Camboriú
Sem garantia, a população fica a mercê da qualidade da água que compra. Há suspeita de casos, principalmente em Balneário Camboriú, de empresas especializadas na limpeza de fossas e esgoto que estariam usando os mesmos caminhões do transporte dos resíduos para distribuir água, o que é crime — além de provocar riscos à saúde. A denúncia já chegou ao Ministério Público Estadual, que vai investigar o caso.
Os caminhões são parecidos, o que para um leigo dificulta diferenciar um tipo do outro somente pela parte externa. Ambos podem ser construídos com o mesmo material (ferro), porém os específicos para distribuição de água são revestidos com uma pintura epóxi, indicada para armazenar alimentos e evitar a contaminação. Sem a pintura, apresenta materiais tóxicos à saúde, segundo o gerente de vigilância sanitária e ambiental da prefeitura de Florianópolis, Artur Jorge Amorim Filho.
— A água armazenada em lugar impróprio pode gerar desde contaminação microbiológica (diarreia e vômito) até intoxicação e doenças mais graves, como a hepatite — alerta.
Para saber se a empresa que você contratou é segura:
- Toda empresa fornecedora de água potável precisa ter cadastro na Vigilância Sanitária do município em que atua. Certifique-se de que existe alvará de licença e peça o laudo de potabilidade, que atesta a regularidade do funcionamento.
- Se o preço cobrado pela água estiver muito abaixo das outras empresas, desconfie. Pode haver problemas tanto na captação (as empresas privadas que estão legalizadas têm os seus próprios poços de captação) como no transporte, o que compromete a qualidade da água.
- Preste atenção no veículo em que a água é transportada. O caminhão precisa ser específico e exclusivo para o carregamento de água potável. Peça para ter acesso ao documento de licenciamento ou entre em contato com a equipe de vigilância do município.
A Casan utiliza caminhões-pipa de empresas privadas para prestar o serviço de abastecimento de água. São seis veículos contratados, quatro deles na agência de Canasvieiras, para atender o Norte da Ilha (os outros dois estão em Bombinhas e, quando necessário, também atendem a Grande Florianópolis). O abastecimento é gratuito e deve ser solicitado pelo consumidor:
- Para solicitar o serviço o consumidor precisa entrar em contato com a companhia, via Central de Atendimento: 0800-643-01-95.
- A solicitação gera um protocolo, que será atendido conforme a demanda.
- Quando o protocolo chega à equipe técnica é feito um cronograma de atendimento, sempre por ordem de chegada dos pedidos. A Casan não informou o tempo médio que se leva entre o pedido e o abastecimento.
- O serviço é gratuito e qualquer cobrança tem conotação criminosa e deve ser denunciada. O consumidor deve procurar primeiramente a Casan, se não conseguir atendimento pode recorrer ao Procon e à Agência Reguladora de Serviços de Saneamento Básico (Agesan).
- Todos os caminhões-pipa utilizados pela Casan estão identificados com um adesivo.
Sem água na rede pública, moradores recorrem à distribuição privada
Foto:
Felipe Carneiro
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