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 | 31/12/2013 06h03min

Celesc e Casan justificam falta d'água em Santa Catarina durante a temporada

Empresas dizem que investimentos estão sendo feitos e que há produção suficiente

Atualizada às 06h03min Cristian Weiss  |  cristian.weiss@diario.com.br

Desde a década de 1990, as cenas se repetem todos os verões no Litoral catarinense e não mais surpreendem. Calor tórrido, torneiras secas e vida às escuras. Casan e Celesc se escusam a respeito das causas da falta de energia e água que atingiram a Grande Florianópolis e parte do Litoral catarinense desde o dia 24 de dezembro.

A Casan assegura que, mesmo com a superpopulação, a produção de água é suficiente e atribui a falta de abastecimento à queda de energia elétrica. Quando falta luz, os motores param, mas o consumo, não. Por sua vez, a Celesc garante que o sistema recebeu investimentos para suprir a demanda, mas as condições do tempo e acidentes que impactaram a rede são as principais causas.

No final de semana, mais de 10 mil unidades ficaram sem luz e 10 cidades ficaram às secas. Segunda-feira, faltou luz nos Ingleses. A Praia da Pinheira, em Palhoça, registra escuridão desde a véspera do Natal. Há quatro dias sem água, Gláucia Maria Rosalino, moradora de Cachoeira do Bom Jesus, na Ilha, recebeu a promessa de que tudo se normalizaria na madrugada de segunda. Não se concretizou.

Moradores reclamam da dificuldade de serem atendidos pelo 0800 das duas empresas, principalmente aos finais de semana. Segunda à tarde, no entanto, a reportagem do DC ligou para os telefones e o atendimento ocorreu em menos de um minuto e meio.

Presente em 200 municípios, a Casan ainda não sabia precisar quantos tiveram o fornecimento prejudicado. Presidente da companhia, Dalírio Beber disse que vai estudar junto à Celesc medidas para atenuar o prejuízo da energia sobre o serviço. Mas nenhum dos órgãos lança uma data para o fim dos problemas. Dos 11 conjuntos de obras e melhorias prometidos pela Casan e pela Celesc em reportagens do DC desde 2012, somente duas já estão em plena operação.


:::Obras previstas pela Celesc


O presidente da Celesc, Cleverson Siewert, responde que investimentos foram feitos desde o ano passado para amenizar a falta de energia na temporada.

Investimentos de R$ 1,75 bilhão entre 2011 e 2015 - R$ 840 milhões já foram aplicados no Estado, mas várias obras estão paradas por impasses ambientais, como o caso da Subestação São José do Sertão e Palhoça Pinheira, em Palhoça, estão paradas há três anos.

Linha de transmissão em Palhoça e subestação de São José do Sertão - Como não obteve licença ambiental, a Celesc construiu ano passado um transformador dentro da subestação Eletrosul. Mas se não conseguir deslanchar a obra em 2014, pode acarretar problemas entre 2014/2015.

Linha de Transmissão entre Tubarão e Sangão - Paralisada por pendências ambientais, foi retomada no início de dezembro. Desde o ano passado estava paralisada no Sul do Estado.

Nova subestação no Vale do Itajaí - Feitas ampliações em subestações e instalação ou troca de transformadores.

Ampliação da capacidade dos transformadores - Para o especialista ouvido pelo DC ano passado, Welson Bassi, do Instituto de Eletrotécnica e Energia da USP, um dos problemas seriam os transformadores urbanos que operam de 5kw a 75kw, quando deveriam ser acima de 100Kw. Segundo o presidente da Celesc, Cleverson Siewert, o dimensionamento da carga tem sido feito conforme a demanda.


"O sistema é desenhado para não ter nenhum problema"


Entrevista com Cleverson Siewert, presidente da Celesc

Diário Catarinense — Qual o motivo das quedas de energia da última semana na Grande Florianópolis?

Cleverson Siewert — Por exemplo, na Palhoça, Pinheira, tivemos dois momentos delicados, um no dia 24, rompimento de um cabo que não conseguimos identificar, pode ter voado um folha de eucalipto, um galho de árvore e rompeu o cabo. E outro foi um abalroamento, uma carreta arrancou um poste e levou um alimentador inteiro. A gente não tem gerenciamento nenhum sobre este tipo de questão. O tempo está ajudando neste mês, temos tido poucos problemas com clima, salvo no Vale do Itajaí, neste exato momento temos problema em Rio do Sul, por exemplo, devido a um temporal.

DC — Até quando faltará luz na temporada em SC?

Siewert —  Enquanto o sistema brasileiro, e não é da Celesc, for aéreo nu, diferente do que acontece nos EUA e Europa, que é subterrâneo, tem facilidade de ter atuação de terceiros na rede. Para ter ideia, 10% das vezes que se fica sem energia é por abalroamento em poste, 30% é por condições climáticas adversas. Enquanto isso acontecer, é absolutamente natural que [as interrupções] aconteçam. Outra coisa, temos um sistema de 1,5 milhão de postes, 150 mil transformadores, 150 mil quilômetros de rede. É um sistema bastante robusto e é um processo natural. O que a gente quer é minimizar. A Celesc cumpriu ao longo de sua história as metas estabelecidas pela Aneel. Dois indicadores básicos: DEC e FEC —  quantidade horas sem energia e quantidade de vezes sem energia, respectivamente —  em dezembro, nossos indicadores estão 40% menores do que em 2011 e 2012.

DC —  A superpopulação na temporada impacta as quedas de energia? O que a Celesc faz para evitar o colapso?

Siewert — Não, nosso sistema é bastante robusto. E é mensurado para isso. Tem capacidade transformadora de 6.500 MvA de potência e o nosso pico máximo de consumo normalmente acontece em fevereiro de 4.200 MvA. Claro, nos preparamos cada vez melhor para isso. Quando chega setembro, principalmente na região litorânea a gente procura fazer limpeza dos isoladores, manutenção preventiva. Temos a Operação Verão, busca e contratação de equipes maiores, entre Litoral e interior são 48 equipes a mais, dispostas em regiões específicos. Mas o sistema em si é desenhado para que não se possa ter nenhum problema, independente da região e do momento do ano.

Diário Catarinense — O que a Celesc está fazendo para atender melhor o usuário? Terá reforço no feriado?

Cleverson Siewert —  Nosso atendimento de call center e emergencial é de 24 horas por dia. Uma série de medidas foram tomadas no segundo semestre para tentar compensar essa forma de comunicação. Desde novembro temos um novo provedor do serviço. Tínhamos em média no horário de pico até outubro 35 atendentes, hoje temos 70 e devemos chegar a 100 em janeiro. Conseguimos automatizar serviços para liberar o call center para emergência. Desde dezembro temos a possibilidade de avisar que está sem energia por SMS. Dos nossos 2 milhões de clientes, 700 mil já têm o celular cadastrado. Quando cai a luz, imediatamente recebe mensagem da Celesc informando que a gente já sabe.

::: Obras previstas pela Casan

Ampliação da ETA Morro dos Quadros, em Palhoça - Atende 70% da capital, além de de Biguaçu, São José, Santo Amaro da Imperatriz e Palhoça. Aumentará em 50% o abastecimento, mas atraso de seis meses adiou a conclusão para agosto.

Duas novas adutoras em São José e Florianópolis - Duas adutoras de até 1.200 mm de diâmetro: uma para conduzir a água tratada na ETA Morro dos Quadros desde o Trevo de Forquilhinha, em São José, a Capoeiras, em Florianópolis, e outra abastecerá as regiões do Itacorubi e Norte da Ilha. Parte já foi implantada. Prazo de execução é de 18 meses.

Estação de Tratamento central de Florianópolis - Desconhece. No lugar, Beber apresenta o estudo da captação de 4 mil litros por segundo do Rio Tijucas, para suprir o abastecimento desde Bombinhas, Porto Belo até Biguaçu e seguir ao Norte da Ilha. Custará R$ 300 milhões, à espera de recursos do Ministério da Integração Nacional. Foi concluída também a ampliação de 5 para 20 litros por segundo da estação da Daniela (Norte da Ilha). Ratones, Cacupé e Canasvieiras também terão novos poços.

Aumento de captação do Rio D'Una, em Imbituba - Não ocorreu. Sistema está sendo municipalizado.

Reforma das estações de Laguna - Estudo contratado para reavaliar alternativas para Laguna e Pescaria Brava.

Porto Belo e Bombinhas - Casan inaugurou em dezembro a revitalização da Estação de Tratamento de Água de Porto Belo, que dobra a capacidade de captação e tratamento de água para a cidade, para a vizinha Bombinhas e ameniza o problema na temporada.


"Isso vai continuar"

Entrevista com Dalírio Beber, presidente da Casan

Diário Catarinense — Por que falta água no Litoral? Não é possível implantar uma estrutura que dê conta da superpopulação do verão?

Dalírio Beber — A produção de água dá para abastecer na plenitude. Quedas de energia interrompem uma parte de captação, tratamento e distribuição. E quando existe o retorno da energia, o fornecimento não é tão veloz. Como existe consumo quadriplicado — devido ao turismo — tem demanda de água muito acima do que a corriqueira. Mesmo assim estamos com produção de água suficiente para atender até mesmo esse grande fluxo.

DC — Há mais de duas décadas o problema se repete. Até quando faltará água na temporada?

Beber — E isso vai continuar. Se tu fores olhar no Rio Grande do Sul, são 11 ou 14 cidades que estão sem água, porque as populações têm aumentado e as captações têm se manifestado insuficiente. No caso da Grande Florianópolis, estamos promovendo uma grande obra de melhoria no processo de tratamento da ETA Morro dos Quadros, em Palhoça. Em Florianópolis esperamos que se chegue um dia passar uma temporada sem faltar água. Teríamos passado nesta, se não fosse a falta de energia.

DC — A solução não é implantar geradores? Quantas cidades apresentam problema de abastecimento?

Beber — Se pensar em colocar gerador em todos os pontos, o custo vai ser enorme. Manter essa estrutura toda exclusivamente para 10 ou 15 dias por ano, quem vai pagar é a população residente. Nenhuma cidade teve problema porque faltou água, só por falta de energia. Estamos em contato com o presidente da Celesc (Cleverson Siewert) para diminuir o impacto das quedas de energia sobre o sistema da Casan.

DC — O que estão fazendo para atender melhor a população? As pessoas estão reclamando do atendimento...

Beber — Vou atrás para ver se tem problema para colocarmos em dia. Estamos com toda a diretoria de operação em plena atividade. Temos pessoal no Norte da Ilha, em Porto Belo e Bombinhas, onde existe uma população flutuante bastante significativa.

DIÁRIO CATARINENSE
Marco Favero / Agência RBS

Em FLorináopolis, água de rio é utilizada como alternativa em camping no Leste da Ilha
Foto:  Marco Favero  /  Agência RBS


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