| 02/03/2005 14h24min
Após o assassinato da missionária norte-americana Dorothy Stang, em fevereiro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que o crime era uma resposta dos grileiros à política ambiental do governo na região amazônica – tese reiterada por vários ministros nas últimas semanas. Este, porém, não é exatamente um discurso com o qual concordam ambientalistas e grupos ligados a questões agrárias.
– É uma avaliação um pouco superficial a respeito da raiz do problema. A Dorothy lutava pelos projetos de desenvolvimento sustentável há anos e sempre houve denúncias sobre ameaças. Se fosse uma resposta, não seria a irmã Dorothy a assassinada, mas sim alguém relacionado ao governo – disse o coordenador de áreas protegidas da Amazônia do Greenpeace, Carlos Ritti.
Depois da morte da missionária, o governo anunciou um pacote com oito medidas, como a criação de duas unidades de conservação no Pará e a interdição de uma área de 8,2 milhões de hectares, localizada na margem esquerda da rodovia BR-163. Além disso, o governo decidiu enviar mais de 2 mil homens do Exército para a região.
Mas as disputas pela terra no Pará e em outras regiões brasileiras são longas. Só no ano passado, 36 pessoas morreram no país em decorrência de conflitos agrários. O desmatamento na Amazônia atingiu em 2004 entre 23,1 mil e 24,4 mil quilômetros quadrados, segundo estatística do ministério do Meio Ambiente.
É por isso que a coordenadora do programa de política e direito do Instituto Socioambiental (ISA), Adriana Ramos, acredita que a morte de Stang foi apenas mais um capítulo de uma batalha histórica na região amazônica. Ela ainda coloca pessoas do próprio governo como empecilhos ao fim da exploração na região.
– A ênfase do governo ao agronegócio não tem visão crítica do impacto que ele causa no meio ambiente – afirmou a coordenadora.
– Além disso, alianças políticas com grupos historicamente opositores do meio ambiente impedem que o governo avance no que se esperava dele. Amir Lando (ministro da Previdência), por exemplo, sempre foi um grande opositor das causas socioambientais – acrescentou.
Um dos coordenadores nacionais da Comissão Pastoral da Terra (CPT), Isidoro Rezers, que há 30 anos trabalha com a questão agrária no país, sobretudo na Amazônia, amplifica essa visão aparentemente contraditória entre preservação e expansão econômica.
– Há duas ações contraditórias do governo, uma de criar reservas extrativistas a partir das populações locais e outra de estímulo do Ministério da Agricultura à expansão da fronteira agrícola. Por essa contradição, o conflito estourou – disse.
– Lula disse que não existe incompatibilidade entre agronegócio e reforma agrária, mas acreditamos que há, pois o agronegócio em nenhum momento respeitou o meio ambiente – acrescentou.
Rezers afirmou ainda que o Ministério do Meio Ambiente tem uma posição "frágil porque sentiu a pressão dos madeireiros e certa forma atendeu", estimulando os grileiros a agirem na região, inclusive com o uso da violência.
A assessoria de imprensa do Ministério do Meio Ambiente não emitiu comentários até o início da tarde desta quarta.
As informações são da agência Reuters.
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