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A Secretaria de Imprensa do Palácio do Planalto divulgou nesta quarta, dia 26, o conteúdo da carta enviada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao Papa João Paulo II. A correspondência foi entregue pelo ministro do Desenvolvimento Agrário, Miguel Rosseto, que esteve nesta quarta na Cidade do Vaticano em audiência com o Papa. Na carta, o presidente lembra sua trajetória pela defesa da justiça social e pela construção de "uma sociedade fraterna e igualitária" e destaca a prioridade central de seu governo, que é o combate à exclusão social e à fome.
Lula reforça a posição brasileira contrária à guerra no Iraque, ao dizer que o combate à fome é a única luta que deve ser travada por um líder mundial. Ao encerrar a carta, Lula deseja que toda a humanidade possa ouvir os apelos do Papa pela paz e firma um compromisso de manter o Brasil engajado pelo entendimento pacífico dos povos.
• Veja íntegra da carta enviada por Lula ao Papa:
"Santíssimo padre,
É com grande satisfação que envio a sua santidade, pelo elevado intermédio do ministro de Estado do Desenvolvimento Agrário, senhor Miguel Rossetto, meus mais sinceros cumprimentos e votos de bem-estar.
Como é do seu conhecimento, com o apoio de expressiva maioria do povo brasileiro, assumi, desde o mês de janeiro, a honrosa e grave responsabilidade de conduzir o governo deste nosso País, que de um lado tem sido tão abençoado por Deus e que, de outra parte, revela uma face triste e inaceitável da desigualdade e da exclusão econômica e social de milhões de seres humanos.
Santíssimo padre, desde o início de minha trajetória de militância sindical, social e política, estabeleci como princípio e objetivo central de minha vida a luta pela justiça social, pela construção de uma sociedade fraterna e igualitária, na perspectiva claramente determinada pelo Evangelho.
Sendo assim, ao assumir este governo, estabeleci, com minha equipe, como prioridade central, o combate a toda forma de exclusão, que neste País tão rico e fecundo, tem sua expressão principal, no flagelo da fome, que atinge, impiedosamente, milhões de brasileiros.
Temos consciência de que esta exclusão é o fruto amargo de um modelo de sociedade injusto, concentrador de renda e que contradiz com os princípios elementares do humanismo e do cristianismo. Temos, ao mesmo tempo, a consciência de que a mudança deste modelo constitui um processo de largo prazo, com o desenvolvimento de um novo modelo de desenvolvimento que deverá ser elaborado em diálogo democrático com toda a Sociedade. No entanto, santíssimo padre, os famintos e excluídos não podem esperar.
Por isso, nosso governo lançou uma grande campanha, um desafio aos brasileiros, para que todos se mobilizem nesta perspectiva da solidariedade, da partilha do pão, do trabalho, do saber, da cultura. Esta campanha, que recebe o título de PROGRAMA FOME ZERO já começa a alcançar, felizmente, grande repercussão e deverá estabelecer uma lógica de ação que começa a presidir os principais atos deste governo e, esperamos, de toda a Sociedade. Tenho dito com toda insistência possível, que a ÚNICA GUERRA LEGÍTIMA QUE UM GOVERNO NESTE MUNDO PODE E DEVE DESENVOLVER É A GUERRA CONTRA A FOME, CONTRA A MISÉRIA E A EXCLUSÃO QUE OFENDEM A DIGNIDADE DOS FILHOS DE DEUS.
Nesta perspectiva a condução de uma reforma agrária justa, o apoio combinado à pequena agricultura familiar que gera emprego e contribui para a fixação do homem no campo, com o apoio à grande produção de alimentos com moderna tecnologia, constitui preocupação primordial de nosso governo.
Neste sentido, quero destacar o apoio e a participação fundamental das Igrejas, e, particularmente, da Igreja Católica. Sou testemunha do papel decisivo que ao longo destes anos a nossa Conferência Nacional dos Bispos do Brasil tem exercido na defesa dos direitos humanos, no combate a toda forma de exclusão, dando assim coerência ao seguimento dos princípios evangélicos.
Para nós será sempre de fundamental importância continuar contando com o apoio, a participação e a consciência crítica da Igreja.
Santíssimo padre, neste momento em que a humanidade vive um momento tão doloroso, possa o meu País e o mundo ouvir sempre a sua voz, seguir seu exemplo de busca da PAZ entre os povos. Tenho certeza de que o nosso governo e todo o povo brasileiro estaremos sempre à sua disposição para toda iniciativa que signifique esta busca incessante da harmonia e da PAZ.
Aproveito a oportunidade para renovar a sua santidade a expressão de meu mais profundo respeito e minha mais alta consideração."
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