| 21/05/2007 08h12min
A agenda do ministro de Minas e Energia, Silas Rondeau, em Assunção, foi atropelada pela Operação Navalha. Ele interrompeu a participação em um seminário entre empresários brasileiros e paraguaios para dar explicações sobre as denúncias de que teria recebido R$ 100 mil da empresa Gautama. O ministro classificou as acusações de boatos e que "tomou todas as providências que um ministro tem que tomar em um momento como esse". Silas Rondeau, no entanto, afirmou que não conversou com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre o assunto.
— É importante que se tenha em mente que não se deve julgar por boatos. O meu chefe de gabinete não é a pessoa supostamente envolvida no problema. O suposto assessor não é do ministério. Nós tomamos todas as providências que um ministro tem que tomar em um momento desse. Esse assunto está sendo conduzido muito bem. Temos o ministro Tarso, o Paulo Sérgio, diretor da Polícia Federal. Não podemos nos basear em informações que surgem a cada
momento.
Ao ser informado
de que havia, com a Polícia Federal (PF), provas de seu envolvimento no caso, o ministro foi enfático. Ele também negou ter no ministério algum funcionário chamado Sérgio Luiz Sá — um suposto servidor do ministério, que teria esse nome, foi preso na Operação Navalha.
O ministro, que à noite saiu para jantar com a comitiva do presidente Lula, na residência oficial do presidente do Paraguai, Nicanor Duarte, disse estar convicto de que a PF e o Ministério Público "elucidarão" a questão de seu suposto envolvimento no caso. Ele afirmou desconhecer a denúncia.
Para Silas, que nesta segunda-feira inaugura a operação de mais duas usinas em Foz do Iguaçu, as denúncias não passam de ilações que tentam nublar o pacote de medidas bem intencionadas do Plano de Aceleração do Crescimento (PAC) — que, para ele, estão acima de qualquer denúncia.
Nitidamente desconfortável durante a tarde, o ministro assegurou que se sente à vontade no cargo. Mas lembrou que quem
decide sobre a permanência de ministros é
o presidente Lula.
— Estou absolutamente à vontade (de continuar no governo). Até o momento em que o presidente, que é dono do cargo decidir sobre isso. Não tenho nada a temer em um processo como esse. Estou absolutamente convicto que não existe nada que venha a comprometer. Isso será provado na Justiça.
Lula não falou sobre a situação do ministro. Preferiu dar uma força a Romário, que fez no domingo seu milésimo gol. Ao sair da reunião com os empresários, ligou para o jogador:
— Acabou a angústia. Você é um exemplo para o Brasil — disse o presidente, pelo celular.
Relatório da PF acusa o ministro
No relatório enviado ao Superior Tribunal de Justiça (STJ), a PF acusa o ministro de prática de corrupção passiva. O documento é categórico e afirma que Rondeau recebeu a quantia de R$ 100 mil em seu gabinete, em Brasília, no dia 13 de março deste ano. O dinheiro, segundo a PF, teria sido
levado por emissários do empresário Zuleido Veras, dono da empresa Gautama,
que está no centro do esquema de desvio de recursos públicos. “Apurou-se ainda que Silas Rondeau (ministro das Minas e Energia) recebeu, por meio de Ivo Almeida Costa (assessor especial do ministério), a quantia de R$ 100 mil, entregue por Maria de Fátima, uma vez que teria destinado recursos oriundos do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) para convênio que beneficiaria a construtora Gautama", diz o relatório da PF.” De acordo com o relatório da PF, quem levou o dinheiro, no dia 13 de março deste ano, ao ministério foi Maria de Fátima Palmeira, diretora comercial da Gautama em Brasília e presa na semana passada na Operação Navalha. Com gravações telefônicas e imagens de circuito interno do próprio ministério, a Polícia Federal flagrou Fátima entrando no prédio do ministério. Lá, ela encontrou-se com Sérgio Pompeu Sá, lobista que teria intermediado o suposto pagamento de propina ao ministro. Ele a esperava no gabinete de Rondeau.
Segundo a PF, o dinheiro foi repassado ao ministro
por seu
assessor especial Ivo Almeida Costa, que também está preso. Ivo também aparece nas imagens e leva Fátima até a saída, após o encontro.
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