| 07/04/2007 15h20min
Dúvidas, compromissos perdidos, jornadas desgastantes. Algumas das sensações experimentadas pelos passageiros nos dias críticos do apagão aéreo também tiveram lugar no outro lado do balcão do aeroporto.
Encarregados de equilibrar-se entre as más notícias dos vôos atrasados e os humores exaltados dos viajantes em espera, os atendentes das companhias aéreas tornam-se vítimas de xingamentos e até de agressões.
No Salgado Filho, são em torno de 250 profissionais, chamados de agentes de aeroporto. Vender bilhetes, orientar os passageiros, realizar o check-in e prestar informações no saguão e na sala de embarque são suas principais tarefas. A pior delas tem sido também uma das mais freqüentes: comunicar que um avião atrasado ainda não tem horário definido para decolar. Desde o acidente entre o Boeing da Gol e o jato Legacy em setembro do ano passado, contam os funcionários do solo, a rotina tem sido pontuada pelos atrasos.
- A coisa está tão banalizada
que as pessoas se surpreendem quando o
vôo está no horário. Uns já acham que meia hora de atraso é lucro - conta uma agente que trabalha no setor há 16 anos (os nomes dos entrevistados foram omitidos porque muitos são orientados pelas empresas a não dar declarações).
Conforme o tempo extra de espera, os funcionários observam a transformação do estado de espírito dos clientes, que pode passar rapidamente do espanto e da ânsia por informações à irritação e ao desrespeito. Enquanto isso, para acomodar todos os passageiros dos vôos atrasados de seu turno, os funcionários têm a jornada de seis horas diárias ampliada. Nos dias mais dramáticos, o tempo de trabalho pode até dobrar, o que segundo o Sindicato dos Aeroviários é ilegal.
- Tem muita humilhação. As pessoas te chamam de mentirosa. Uma colega grávida já ouviu de um passageiro: "tomara que você perca o bebê!" - conta uma atendente. - Assim como eles (os passageiros) estão atrasados, a gente também está trabalhando há muitas horas, às vezes perdendo aula -
completa a universitária
de 21 anos.
Sala atrás do balcão se torna refúgio
Profissionais novos e experientes concordam: o momento mais difícil da crise foi o fim de semana passado, quando os vôos chegaram a ser interrompidos. Pelos relatos, houve exageros no aeroporto Salgado Filho: carrinhos de bagagem foram quebrados, uma porta de vidro foi deslocada a pontapés, uma loja de passagens foi invadida, uma agente teria levado um tapa. Outra funcionária foi atingida diretamente: no final da tarde do dia 31, ao avisar sobre o atraso de um vôo, ela levou uma cusparada de um viajante.
- A gente se mantém firme, como se nada tivesse acontecido. Mas, se alguém te tocar, tem que chamar a segurança - diz a agente de 28 anos.
Se a tensão aperta, o refúgio para os uniformizados - cujo salário médio é de R$ 1 mil - são as salas de despacho. Atrás dos balcões de check-in, são procuradas para uma pausa ou um gole d'água.
Em contato
com o público, os agentes estão longe de serem os responsáveis pelos
atrasos - o que pode trazer uma dose extra de angústia.
- São pessoas que têm muita responsabilidade, mas não necessariamente conseguem ter o controle sobre o que acontece. Uma pesquisa indica que pessoas nessa condição apresentam 67% mais chances de ter problemas de saúde por causa do estresse - diz Ana Maria Rossi, doutora em Psicologia Clínica e presidente da International Stress Management Association no Brasil.
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