| 07/04/2007 15h01min
Os controladores de vôo são, infelizmente, apenas parte do problema na aviação brasileira. Nos últimos anos, os investimentos não acompanharam o crescimento do setor, que se expande 13% ao ano desde 2003. Segundo especialistas, o problema é grave porque o planejamento de investimentos vem sendo adiado há décadas.
- Há uma mistura de problemas políticos com problemas técnicos - diz João Batista Camargo Júnior, professor da USP, especializado na área.
O estrangulamento do aeroporto de Congonhas, em São Paulo, por exemplo, foi previsto no final da década de 70, quando o governo militar sugeriu a construção de um novo aeroporto na região. A recomendação jamais foi levada a sério. A Infraero pretende investir R$ 6 bilhões nos aeroportos até 2010, mas, conforme a Agência Nacional de Aviação Civil, o valor é suficiente apenas para adequar as instalações à atual demanda - e não para prevenir o crescimento futuro. Abaixo, confira os principais problemas na infra-estrutura
aérea brasileira e suas
possíveis soluções.
Falta de pessoal
Problema - O déficit de controladores de vôo é a parte mais evidente do problema. Hoje, cerca de 2,7 mil atuam no espaço aéreo brasileiro. Segundo o diretor técnico do Sindicato Nacional das Empresas Aeroviárias, Ronaldo Jenkins, a defasagem seria de 300 profissionais. Controladores e ex-controladores ouvidos por Zero Hora, porém, estimam que seriam necessárias 3 mil contratações. De acordo com Celso Klafke, presidente do Sindicato dos Aeroviários do Rio Grande do Sul, as empresas também não contrataram funcionários no ritmo necessário para atender bem o usuário nos aeroportos.
Solução - A Aeronáutica ampliou os concursos para controladores. Neste ano, serão formados 363 profissionais. O governo estuda a contratação emergencial de controladores estrangeiros, treinamento de militares para a aviação comercial e, em caso de emergência, chamar profissionais
aposentados. Estima-se que seja preciso cinco anos de experiência para
atuar em centros movimentados, como São Paulo.
Congestionamento de São Paulo
Problema - O conjunto de aeroportos da capital paulista está sobrecarregado. Somente o terminal de Congonhas (foto) reuniu 12% dos passageiros brasileiros no ano passado. Enquanto tem capacidade para o tráfego de cerca de 12 milhões de pessoas, Congonhas opera hoje com 18,5 milhões.
Solução - De acordo com Cláudio Jorge Pinto Alves, pesquisador do Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA), a solução é construir um novo aeroporto na região metropolitana de São Paulo. O governo teria discutido a inclusão da obra no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), mas o projeto foi engavetado em razão dos custos. A nova instalação custaria R$ 5 bilhões, quase todo o orçamento da Infraero para os próximos quatro anos - que é de R$ 6 bilhões. Outra solução é ampliação de Viracopos, em Campinas, mas a obra dependeria da
construção de um meio de transporte rápido entre São Paulo e a cidade, como um
trem bala.
Por enquanto, a Infraero apenas trabalha na construção do terceiro terminal e da terceira pista de Cumbica, em Guarulhos, que ajudaria a aliviar o problema.
Dificuldades de comunicações
Problema - Controladores dizem que há pontos cegos de visualização e de rádio entre Brasília e Manaus, além da baixa qualidade de áudio. Dificuldades com a língua inglesa e falta de qualidade de transmissão dificultam a comunicação (na foto, a torre de controle em Porto Alegre).
Solução - A comunicação entre bases e aeronaves deverá ser substituída pelo padrão de troca de dados. O Departamento de Engenharia de Computação e Sistemas Digitais da Escola Politécnica da USP estuda um novo sistema que eliminaria parte da comunicação por voz, o que amenizaria problemas de língua e de falta de qualidade de áudio.
Conservação das
pistas
Problema - Nos aeroportos de maior tráfego, há borracha acumulada na pista em razão do atrito dos pneus com o
solo, o que diminui a aderência das pistas e as condições de pouso. Congonhas foi fechado várias vezes nos últimos meses em dias de chuva por esse motivo. Em outros locais, como Porto Alegre, a pista não é grande o suficiente para grandes aviões lotados de carga.
Solução - Manutenção periódica. O problema é que, a cada novo trabalho, a pista é interditada e diminui a capacidade do aeroporto - como acontece hoje em Congonhas, que passa por obras. Das oito principais obras da Infraero para os próximos anos, cinco incluem trabalhos em pistas. Outra solução é prever áreas de pouso e decolagem maiores para aeroportos importantes, como o Salgado Filho.
Manutenção e modernização de equipamentos
Problema - Além de gastos em radares e equipamentos modernos, a aviação civil depende de manutenção constante, mas falta dinheiro para todas as tarefas. Em 2006, o governo aplicou apenas metade do previsto
para recuperação da infra-estrutura de aviação. Em março, um raio destruiu
o ILS (foto), equipamento que permite pousos em dias de nevoeiro no aeroporto de Congonhas. O instrumento levou um mês para voltar a funcionar: os testes esbarraram no fato de que um dos aviões de testes da FAB estava com o trem de pouso danificado.
Solução - Evitar o contingenciamento de recursos para Aeronáutica e Infraero. Há, ainda, problemas de concentração: Brasília monitora muitos vôos. Além de investimentos nos Cindactas existentes, como o de Curitiba, já previsto, seria necessária a construção de um novo Cindacta no Sudeste - em Belo Horizonte, de preferência.
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