| 15/01/2007 16h08min
Os países do Mercosul chegam a uma nova reunião presidencial em meio a desavenças, como a relativa às fábricas de celulose uruguaias, que alguns membros chamam de conflitos bilaterais, mas que contaminam o debate e freiam a integração.
O encontro, que deve acontecer na quinta e na sexta e na qual o Brasil passará para o Paraguai a Presidência do grupo, reunirá presidentes dos países-membros (Brasil, Argentina, Paraguai, Uruguai e Venezuela) e de nações associadas (Chile, Bolívia, Equador, Colômbia e Peru).
De todos os conflitos, o mais grave é a disputa entre Argentina e Uruguai pela construção de uma fábrica de celulose da empresa finlandesa Botnia e outra da espanhola ENCE na cidade uruguaia de Fray Bentos, às margens do rio Uruguai, fronteira natural entre os dois países.
Montevidéu considera as fábricas de celulose fundamentais para sua modesta economia e tentou, sem sucesso até agora, levar a disputa para as cúpulas do Mercosul.
Para Buenos Aires, o projeto constitui uma violação do tratado sobre o rio Uruguai, que desde 1975 regula a gestão compartilhada do curso d'água.
Os bloqueios intermitentes de estradas realizados por manifestantes argentinos, que temem a poluição e o prejuízo que as fabricas podem causar ao turismo no balneário de Gualeguaychú, levaram a Ence a construir sua fábrica em outra região uruguaia, mas a Botnia levou adiante a construção de suas instalações.
O Tribunal Arbitral do Mercosul considerou que os bloqueios de estradas eram ilegais e violavam a livre circulação de bens e serviços, mas o Governo argentino não tomou qualquer providência a respeito e o Uruguai recorreu à Corte Internacional de Justiça, de Haia.
O último capítulo da disputa foi a defesa pelo governador da província argentina de Entre Ríos, Jorge Busti, da proibição da venda de madeira ao Uruguai, qualificada de "disparate" pelo chanceler uruguaio, Reinaldo Gargano.
A crise deteriorou as relações entre os dois países, que também se desentenderam sobre tarifas que o Uruguai pretende impor a uma parte do comércio com a Argentina, em resposta ao que considera subsídios do país vizinho a indústrias nacionais.
Por outro lado, a poucos dias da cúpula, Buenos Aires recorreu à Organização Mundial do Comércio (OMC) contra as salvaguardas impostas pelo Brasil à entrada de resinas "pet" (utilizadas na fabricação de recipientes plásticos) produzidas na Argentina.
A medida brasileira foi imposta em setembro de 2005 a pedido da empresa de capitais italiana M & G, que compete no mercado mundial com a Voridian, subsidiária na Argentina da americana Eastman.
Buenos Aires assegura que a queixa na OMC não afeta as relações bilaterais nem repercutirá na cúpula, mas o recurso provocou duras críticas na imprensa brasileira, onde se teme a piora das relações entre os dois países e o enfraquecimento do bloco.
Os integrantes do Mercosul também têm rixas com os países associados. A Bolívia, por exemplo, vê com reservas a intenção brasileira de construir duas represas no rio Madeira, para instalar, no futuro, duas usinas hidroelétricas.
Segundo a Bolívia, o projeto, que será analisado por técnicos dos dois países para dissipar os temores de La Paz, pode causar danos ao meio ambiente e afetar a atividade pesqueira na região.
O Equador, por sua vez, denunciou as pulverizações aéreas do herbicida glifosato, que a Colômbia realiza em áreas próximas à fronteira comum para erradicar os cultivos de coca, que, segundo Quito, prejudicam a saúde de seus cidadãos e do gado, alem de atingir as plantações equatorianas de produtos legais. A Colômbia, entretanto, considera que a substância não provoca esses efeitos.
Nesta crise, o presidente do Equador, Rafael Correa, teve o apoio do venezuelano, Hugo Chávez, e espera que outros países sul-americanos o sigam.
A Argentina protesta contra as salvaguardas impostas pelo Chile a importações de laticínios para proteger a competitividade de sua indústria e que prejudicam as exportações argentinas.
Além disso, o Uruguai reivindica maior "flexibilidade" nas normas do Mercosul para facilitar as negociações, individuais ou em bloco, com outros países. A medida, segundo Montevidéu, daria às economias menores uma via alternativa de escape, mas encontra forte resistência de outros membros.
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