Notícias

 | 16/06/2008 04h12min

Busatto diz que subestimou CPI e conflito entre Yeda e Feijó

Ex-chefe da Casa Civil anunciou que lançará um blog

Em férias na Bahia, o ex-chefe da Casa Civil Cézar Busatto decidiu falar no domingo sobre o drama que está vivendo. Dizendo que a CPI do Detran era "uma dor de cabeça permanente" para o governo, Busatto anunciou que pretende lançar um blog. A seguir, uma síntese da entrevista.

Clique no gráfico abaixo para ver vídeos, imagens e reportagens sobre a crise no governo estadual:



Zero Hora - O senhor viajou para descansar. Por que decidiu falar agora?

Cézar Busatto
- Estão saindo versões nacionais extremamente maldosas e injustas. Estão repassando a versão de que eu teria comprado Feijó, levado proposta de negociata, e isso é falso. Estão passando a idéia de que sou corrupto ou fui corrompê-lo. Isso está fora da minha vida pública, não sei fazer isso, não tenho nada a ver com com fraude do Detran.

ZH - O senhor acredita que possa haver irregularidades no Banrisul?

Busatto
- Isso o Ministério Público que tem de dizer. A estas alturas tem de se investigar tudo, porque a partir do que aconteceu no Detran tudo fica sob suspeita.

ZH - O senhor está afirmando que a partir da fraude do Detran "tudo fica sob suspeita". Por que o senhor não se manifestou antes sobre a necessidade de esses órgãos serem investigados?

Busatto
- À CPI do Detran, eu disse exatamente isso. Que acho que aquilo que está acontecendo no Detran pode ter acontecido, sim, em outros órgãos.

ZH - Mas o senhor disse isso depois de a conversa gravada ter vindo à tona. Por que não disse antes, como chefe da Casa Civil, por exemplo?

Busatto
- Tenho dito isso ao longo de toda minha vida pública. Li à CPI texto de livro que escrevi, de 2005, no qual digo textualmente que a ocupação de cargos pelos partidos, da forma como se dá, é a porta de entrada para atividades possivelmente ilícitas, para a utilização de recursos públicos para financiamento de campanhas. Proponho a profissionalização do serviço público e mudar as formas de financiamento das campanhas. Agora, é verdade que, como chefe da Casa Civil, tenho de operar nos marcos da política vigente. Se alguém tivesse me chamado para fazer discussão sobre ocupação de cargos públicos e financiamento de campanhas, eu teria dito o que sempre disse em livros.

ZH - O que consta no trecho que não não foi tornado público?

Busatto
- Um monte de denúncias de irregularidades que ele diz que existem no Banrisul.

ZH - São denúncias novas ou as que já estão sendo investigadas?

Busatto
- Ele disse que parte delas encaminhou ao Ministério Público e parte não.

ZH - Algumas são inéditas?

Busatto
- Sim, ele estaria segurando, foi o que deu a entender. Ele tem cinco volumes de investigação que mandou fazer em empresa especializada. Depois falou das desavenças que tem com a governadora Yeda Crusius e os problemas que teve na busca de recursos para a campanha, que tem muitas informações sobre isso e que um dia divulgaria.

ZH - Haveria irregularidades com recursos para a campanha?

Busatto
- Ele afirma que sim.

ZH - De que tipo?

Busatto
- Não sei, ele disse que há irregularidades.

ZH - Ele explicou o que seriam as irregularidades?

Busatto
- Explicou.

ZH - O que seriam?

Busatto
- Ele tem de dizer. Disse que tem irregularidade no financiamento da campanha de Yeda. Quem puxou toda essa conversa de irregularidades foi ele. Começa dizendo que tem uma quadrilha mandando no Banrisul e no Detran. Depois, mostra que tem centenas de denúncias de prática irregular da diretoria do banco, do Fernando Lemos (presidente do Banrisul). Depois ele mostra que tem irregularidades na campanha. E eu tenho de trabalhar sobre o argumento dele. Na minha tentativa de encontrar ponto de conciliação, tento dizer para ele "tudo bem".

ZH - Quando o senhor falou que Detran e outros órgãos eram fontes de financiamento para todos os governadores, o que queria dizer?

Busatto -
Exatamente isso. Que todos esses órgãos públicos, na medida em que foram repartidos partidariamente nos diferentes governos, foram usados pelos partidos para beneficiar candidatos de muitas maneiras. Valia a pena fazer essa investigação: como o Banrisul beneficia os candidatos vinculados à diretoria do banco? A diretoria é definida partidariamente. Quantos deputados se elegem depois de serem diretores do Banrisul? Tu achas que exatamente isso acontece por quê? Quantas pessoas se elegem ou se elegeram utilizando os recursos que, todos os indicativos demonstram, que foram transferidos para campanhas eleitorais do Detran?

ZH - O senhor fala de financiamento legal?

Busatto
- Legal, evidentemente, mas quem sabe aí tenha outras coisas. Eu estou falando em legais. Mas será que não tem também ilicitudes no meio disso tudo?

ZH - O senhor tem algum indício dessas ilicitudes?

Busatto
- Nesse caso do Detran está muito claro, há fortes indícios de que houve desvio ilegal de recursos públicos para financiar candidatos, partidos, para financiar políticos. Participei da CPI da Segurança Pública, na época do governo Olívio Dutra, e lá também houve muitos indícios, é verdade que não se comprovaram, preciso reconhecer, mas havia muitos indícios de que a compra da sede do PT e outras formas de benefícios partidário ocorreram por meio de métodos suspeitos.

ZH - O senhor acha que agora haverá comprovação?

Busatto
- Estou torcendo para que sim. Porque é preciso nesse país mudar essa promiscuidade, essa relação incestuosa que se forma entre o interesse público, Estado e os interesses de negócios, privados intermediados pelos agentes partidários.

ZH - O dinheiro do Detran pode ter ido para a campanha da governadora?

Busatto
- Acho que pode ter ido para muitas campanhas.

ZH - Inclusive a da governadora?

Busatto
- É uma coisa a ser investigada. Não vou dizer que sim nem que não porque não sei, mas é uma questão fundamental a ser investigada. Se o preço que estou pagando ajudar a fazer essa investigação com seriedade, com profundidade, não para fazer o espetáculo e depois tudo continuar como antes, mas que seja efetivamente conseqüente essa investigação, quem sabe ela possa ajudar sim esse país a ser um pouquinho melhor.

ZH - O senhor deu mais de 10 horas de explicações à CPI do Detran. Ainda assim, 61,8% disseram em pesquisa publicada por Zero Hora aprovar a atitude do vice-governador ao gravá-lo. Como o senhor interpreta esse resultado?

Busatto
- Compreendo a atitude das pessoas. Estão identificando a gravação da minha conversa junto com as gravações das conversas que desvendam a fraude do Detran. Para as pessoas, é como se tudo isso fosse a mesma coisa. Elas querem acabar com a corrupção, elas querem acabar com essa sujeira, isso é positivo. Infelizmente, isso acabou acontecendo em cima de um episódio que não é uma atitude de corrupção, não é uma atitude de suborno como alguns tentaram dar a entender.

ZH - Na pesquisa, 60,8% disseram que o senhor tinha más intenções no que disse ao vice-governador. Qual é a sua opinião?

Busatto
- Não sei o que as pessoas quiseram dizer com más intenções. De fato, eu errei. Quando eu converso com o vice-governador, mesmo que ele tenha me induzido a isso, acabo discutindo a questão do financiamento de campanhas e do loteamento de cargos públicos. Realmente comecei a trabalhar nos marcos da política tradicional que se pratica, e as pessoas estão condenando isso. Respeito essa condenação.

ZH - O senhor está magoado?

Busatto -
Apalavra certa é dolorido, machucado. Não é mágoa, sinto muita dor, muito sofrimento porque estou passando por algo pelo que nunca passei na minha vida: não sou deputado, não sou secretário, não sou nada, voltei a ser funcionário público. Toda a minha equipe foi desmobilizada, faz 14 anos que está comigo.

ZH - A demissão foi injusta?

Busatto
- A governadora não tinha outra coisa a fazer, pela exigência que partiu de dois partidos da base, sem os quais ela não consegue governar, que é o PP e o PMDB. No fundo, a governadora não queria aceitar a minha demissão, mas ficou sem alternativas.

ZH - O senhor voltou a conversar com a governadora?

Busatto
- Não. Pretendo por um bom tempo cuidar mais de mim porque paguei muito caro por tudo isso. Às vezes fico me perguntando se devia ter saído da prefeitura, onde estava fazendo um trabalho belíssimo com o programa de governança solidária local. Acabei indo para o governo para ajudá-la. Sinceramente subestimei duas coisas: a questão política eu sabia que ia tirar de letra, mas subestimei a CPI do Detran e o grau de conflito da governadora com o vice. Esses dois erros me custaram muito caro, foi aí que fui derrotado.

ZERO HORA
Daniel Marenco / 

Busatto compareceu à CPI do Detran no último dia 9
Foto:  Daniel Marenco


Comente esta matéria

Notícias Relacionadas

15/06/2008 22h11min
Delson Martini depõe nesta segunda na CPI do Detran
15/06/2008 17h42min
Idéia da expressão República de Santa Maria não partiu de Yeda, diz Fona
15/06/2008 15h43min
Tarso diz que governadora gaúcha se mostra tensa e instável
15/06/2008 11h55min
Revista diz que Yeda culpa Tarso por crise política no RS
13/06/2008 15h04min
PSDB identifica movimento político para derrubar Yeda
13/06/2008 10h18min
Estudantes fazem protesto contra governo estadual e deixam o trânsito lento na Capital
11/06/2008 21h51min
Manifestantes pedem a saída de Yeda do governo
11/06/2008 18h17min
Luciana Genro critica violência da BM em discurso na Câmara
11/06/2008 17h59min
Manifestantes deixam o Parque Maurício Sirotsky Sobrinho
11/06/2008 14h23min
Rigotto: não há elementos para impeachment de Yeda
 
SHOPPING
  • Sem registros
Compare ofertas de produtos na Internet

Grupo RBS  Dúvidas Frequentes | Fale Conosco | Anuncie | Trabalhe no Grupo RBS - © 2010 clicRBS.com.br • Todos os direitos reservados.