Um clima de perplexidade tomou conta da França nesta segunda-feira, dia 22, um dia depois de o candidato à Presidência de extrema direita, Jean-Marie Le Pen, ter conquistado uma inesperada vitória, ao tirar o socialista Lionel Jospin da disputa e se habilitar para o segundo turno, quando enfrentará o atual presidente do país, Jacques Chirac (da União pela República, centro-direita). A eleição que provocou um terremoto político na Europa e encerrou a carreira política de Jospin promete continuar revelando surpresas. Inimigos históricos, a esquerda de Jospin e a direita de Chirac vão estar unidas no segundo turno, marcado para 5 de maio.

Protestos estouraram nas ruas das principais cidades francesas ainda na madrugada. Cerca de 10 mil manifestantes saíram às ruas de Paris para protestar contra Le Pen. 
 
A conquista de Le Pen, líder da Frente Nacional e que defende uma forte política contrária à imigração, foi vista com reservas por grande parte das lideranças políticas internacionais. Ao tomar conhecimento dos resultados, o premier sueco, o social-democrata Goran Persson, pediu união contra o extremismo e a xenofobia. O primeiro-ministro da Polônia, o social-democrata Leszek Miller, alertou que Le Pen é uma ameaça à ampliação da União Européia.

O mais importante partido religioso de Israel, o Shas, foi categórico – pediu que os judeus da França se mudem para Israel a fim de escapar do "anti-semitismo francês". O presidente Fernando Henrique Cardoso não quis comentar o resultado.

Apesar da forte reação de perplexidade, Le Pen não tem a menor chance de conquistar a presidência – pesquisas indicam que Chirac pode obter até 80 % dos votos no segundo turno.

Apesar de Le Pen ter roubado a cena nos últimos dias, Chirac é o grande vitorioso desta eleição. Político hábil, Chirac já assumiu uma postura de "conciliador nacional". Nesta segunda, afirmou que o país está "ferido" pela presença de Le Pen no segundo turno.