| 05/06/2010 18h59min
Especializados em polir a imagem dos outros, os marqueteiros ingressam na campanha com a própria reputação balançando. Escândalos que envolveram profissionais do ramo, somados a remunerações astronômicas – e por vezes escusas – nas últimas eleições, debruçaram um estigma sobre a mais criativa atividade eleitoral.
No Estado, partidos já torcem o nariz.
– Está fora de cogitação contratar estrelas – garante o presidente do PSDB, Claudio Diaz, que coordenará a campanha à reeleição de Yeda Crusius.
Um argumento recorrente é que o preço alto dos marqueteiros de primeira linha tornou-se incompatível com a previsão de orçamento. Mas dirigentes partidários admitem que o pior é outra coisa: o aperto na prestação de contas que a Justiça Eleitoral promete para este ano. Aproveitando o desgaste das estrelas do marketing, legendas pechincham como podem na área da comunicação – a parte mais cara das campanhas políticas.
– É uma tendência buscarmos assessoria mais doméstica, com publicitários que trabalhem aqui – afirma Clóvis Magalhães, organizador da campanha de José Fogaça (PMDB).
Duda Mendonça já atuou no RS
Trocando em miúdos: ícones do marketing político brasileiro, que anos atrás coordenaram campanhas milionárias no Rio Grande do Sul, perderam espaço. Duda Mendonça é um exemplo. Símbolo dessa classe contestada – ele assumiu em 2005 ter recebido de Marcos Valério R$ 10,5 milhões em um paraíso fiscal –, Mendonça fez a campanha de Antônio Britto para o governo gaúcho em 1998.
Chico Santa Rita, responsável pela vitória do “Não” no referendo do desarmamento, pensa diferente:
– O problema é que o político brasileiro é despreparado: acha que vai pegar o vizinho, ou um publicitário qualquer, para se dar bem no final. Vai é se ferrar.
Santa Rita talvez seja o maior trauma do PSDB gaúcho. Em 2006, foi contratado pela campanha de Yeda por um preço elevado, se comparado às demais campanhas para o governo: acabou saindo de cena antes da hora, depois de uma ruidosa briga com a futura governadora.
– Aquela experiência com marqueteiro foi uma tragédia que nos custou uma fortuna. Não aproveitamos absolutamente nada do trabalho dele – afirma o dirigente do PSDB, Carlos Callegaro.
Diretor de criação da agência Paim, o gaúcho Fábio Bernardi surge nessa regionalização do marketing. Não cobra a fortuna de um Duda Mendonça – embora um acerto com Fogaça só esteja indefinido porque Fábio pede mais.
– Hoje, tem gente especializada nisso em cada parte do Brasil – diz ele.
Visando à eleição de Tarso Genro, o PT fechou com três publicitários de renome no Estado para atuar na campanha: Alfredo Fedrizzi, da Agência Escala, João Satt, da Competence, e o freelancer Ricardo Silvestrin. Satt tem bom trânsito no governo de Lula, pois atende às contas de Itaipu e do Ministério do Desenvolvimento Social.
– Sinto uma tentativa geral de reduzir custos. São estimativas pé no chão – diz Fedrizzi.
Relação dúbia é porta aberta para desvios
Ao defender a própria categoria, o marqueteiro Chico Santa Rita expõe o que, na sua visão, constitui o primeiro ensinamento nos bastidores da relação entre a publicidade e a política:
– O grande rolo está nos governos, não nas campanhas.
Santa Rita e outros quatro profissionais ouvidos por Zero Hora relatam que algumas agências de propaganda, quando prestam serviços para o poder público, superfaturam seus preços para alimentar um caixa 2. Esse suposto dinheiro desviado, com o consentimento do governo, entraria na campanha seguinte do partido.
Não é a maioria das agências que fomenta tal prática – portanto, é uma injustiça demonizar a profissão, alerta o cientista político Benedito Tadeu César, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Outra conduta controversa é mais comum: durante a campanha, o partido promete à agência a conta do governo, caso vença a eleição. Para que isso ocorra, a licitação de publicidade é feita com cartas marcadas.
– Essa prática pode ser considerada imoral, é lógico que ninguém deveria compactuar com isso. Mas é o jogo do mercado, as agências competem entre si. A legislação é que deveria coibir isso – diz Benedito.
Especialista em direito eleitoral, Antônio Augusto Mayer dos Santos propõe: toda empresa que presta serviços ao governo deveria ser proibida de contribuir com as campanhas.
Chico Santa Rita conclui:
– É importante lembrar que o culpado nunca foi o marketing político. Os culpados são os maus profissionais e os maus políticos. É como você culpar a cirurgia plástica porque um cretino matou uma moça durante uma operação. Não pode.
Os homens por trás das candidaturas ao Piratini |
JOSÉ FOGAÇA (PMDB) |
Diretor de criação da agência Paim, Fábio Bernardi deve encabeçar a equipe de marketing. Além de trabalhar nas duas campanhas de Fogaça à prefeitura de Porto Alegre, atuou na reeleição de Fernando Henrique. |
TARSO GENRO (PT) |
Três publicitários estão confirmados no comando do marketing: Alfredo Fedrizzi, da Agência Escala, João Satt, da Competence, e Ricardo Silvestrin – que é freelancer e será o diretor de criação. Silvestrin trabalhou com Tarso em 2002. |
YEDA CRUSIUS (PSDB) |
Embora já tenha sondado o publicitário paulista Zeca Freitas, por enquanto o PSDB foca em pesquisas de opinião. Traumatizado pela experiência com Chico Santa Rita, em 2006, o partido evitará grandes estrelas. |
Os responsáveis pela imagem dos postulantes ao Planalto |
DILMA ROUSSEFF (PT) |
O marqueteiro é João Santana, que em 2006 comandou a campanha de Lula à reeleição. Ex-sócio de Duda Mendonça – que após o mensalão perdeu a conta do governo federal –, Santana fez a campanha de Antonio Palocci (PT) à prefeitura de Ribeirão Preto, em 2000. |
JOSÉ SERRA (PSDB) |
Há 16 anos trabalhando para o PSDB, Luiz Gonzalez retoma a parceria com Serra. Em 2006, o marqueteiro criou a campanha que elegeu o tucano governador de São Paulo. No mesmo ano, entretanto, viu seu cliente Geraldo Alckmin perder a disputa à Presidência. |
MARINA SILVA (PV) |
Marqueteiro de Lula nas campanhas de 1994 e 1989, Paulo de Tarso assumirá a campanha de Marina. Ele deve contar com o apoio do cineasta Fernando Meirelles, que atuaria como voluntário. Tarso também trabalhou para o PSDB no governo FH. |
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