| 16/05/2009 05h10min
Cristiane Rochol, Divulgação
Fábio Aurélio Cabral de Menezes tem 11 anos e quer ser Ronaldinho. Até aí, nada de novo. Nem os dentes para frente e a semelhança física são exatamente novidades. Há muitas crianças dentuças por aí. Nove entre dez meninos que adormecem e se imaginam marcando gols nos grandes estádios da Europa têm o astro do Milan como referência durante o sono.
O filho da Dona Miguelina é de Porto Alegre, o que o aproxima do imaginário infantil dos futuros craques gaúchos. É, também, um sujeito de bem com a vida, alto astral, sorridente mesmo diante das críticas — e
elas não têm sido poucas. As crianças se identificam com esta imagem. Faço estas considerações para chegar a um ponto crucial. Que é o
seguinte.
Dizem que Fábio joga como Ronaldinho.
Fábio tem oito irmãos e mora na Vila Bom Jesus com a mãe, a faxineira Marion Terezinha Soares Cabral. Está na 4ª série do Ensino Fundamental, na escola Nossa Senhora de Fátima. Nem sempre ia à escola. Costumava passar boa parte do dia driblando no Parque Marinha do Brasil, onde foi descoberto pelo projeto Social Futebol Clube, da Secretaria Municipal de Esportes de Porto Alegre, uma criação do titular da pasta, João Bosco Vaz.
Ele é uma das mil crianças atendidas pela iniciativa, que conta com 23 professores ex-atletas em 11 núcleos espalhados pela cidade e acaba de entrar em seu quarto ano de trabalho. O objetivo não é formar jogadores para Inter e Grêmio, mas nada impede que isso aconteça. Descobertos pelo Social, Mamute, 13 anos, e Rafael Mattos, 15, já treinam no Olímpico.
Mas voltemos ao Ronaldinho na Vila Bom
Jesus.
Fábio nunca foi muito de estudar. Ronaldinho também não.
Chegava a dormir nos bancos escolares, inclusive. Também costumava se esconder atrás das árvores enquanto esperava o portão do colégio fechar. Assim, tinha álibi para ir ao Olímpico ver o irmão Assis treinar. Fábio teve mais sorte. No Social Futebol Clube, só fica quem estuda de manhã para treinar à tarde e vice-versa. Assim, estuda na marra: do contrário, não joga.
— O que ele faz nos treinos é brincadeira. Tem um canhota primorosa e dribla para todos os lados e direções. Só vendo para crer — testemunha Zeca Rodrigues, ex-técnico do Grêmio e um dos entusiastas do projeto.
— Joga muito. Mas é levado, meio folgado. Agora: o moleque joga demais — concorda Clóvis Meira supervisor do Social Futebol Clube, avisando que hoje, sábado, tem campeonato do projeto no Parque Marinha.
Mas e Fábio, o que acha disso tudo? Quer mesmo ser jogador?
— Ô. Claro que sim. O pessoal já me chama de Ronaldinho. Vou
treinar de ônibus, às vezes direto da escola, sem comer, mas
chego lá. Quero ser Ronaldinho.
Fábio Aurélio pode até não alcançar o sonho de ser Ronaldinho. Não é todo dia que nasce em Porto Alegre um jogador capaz de abocanhar duas vezes o troféu de melhor do mundo. Mas mesmo que não chegue lá, terá valido à pena. Por que investir na educação é o gol mais lindo, revolucionário e transformador de todos.
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