— Cavenaghi voltou ao seu primeiro amor.

A frase é de Martín Manzur, editor da revista El Gráfico, da Argentina, e dimensiona com precisão a revolução de Fernando Cavenaghi. Quatro meses depois de deixar o Inter com apenas dois gols em 13 jogos, o atacante reencontrou a paz no River Plate, clube que o revelou. Ídolo, capitão e líder do time de Matías Almeyda, Cavenaghi, 28 anos, é peça fundamental na luta do "Millonario" para retornar à elite do futebol argentino após o traumático rebaixamento no primeiro semestre.

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O grande trunfo para a boa fase de Cavenaghi é a paciência. Não dele, mas da torcida, que jamais se exasperou com a seca de gols do atacante, ao contrário do que acontecera no Inter. Demorou quatro jogos para balançar as redes, diante do Quilmes, no empate em 1 a 1 - no Beira-Rio, levou nove jogos. Contra o Atalanta, atingiu o auge. Marcou três vezes na goleada por 7 a 1. Soma cinco gols em 11 jogos. É o artilheiro do time, o terceiro no geral da B Nacional. Mais do que gols, mostra regularidade. Atuou em todas as partidas, sempre num "bom nível", garante Mazur.

> "Torito" e o River

_5 gols em 11 jogos
Artilheiro do time na B Nacional
_River - líder invicto
23 pontos - 6 vitórias e 5 empates
Enfrenta o Aldosivi (18º) no sábado


Verónica Drygailo, setorista do River no jornal Olé, ressalta a aplicação tática do atacante. No 4-4-2 de Almeyda, Cavenaghi muitas vezes deixa a área e busca o jogo no meio-campo, abre espaços para a chegada dos meias e dos laterais. Gols e empenho formam uma mistura contundente e que conquista a torcida. Sua rotina é recheada de autógrafos, abraços e aplausos. O canto é o mesmo dos tempos áureos do River: "El Cavegol, el Cavegol...".

— Foi o último grande artilheiro do River (2000-2004). Por isso, conta com uma paciência superior a que ele poderia ter em outros clubes como Rússia, França, Espanha ou Brasil — atesta Mazur.

Além de ser o jogador mais querido pelos "hinchas", outro fator ajudou para o recomeço de Cavenaghi: o conforto de casa. Verónica Drygailo avalia que o jogador passou por muitas mudanças nos últimos anos. Desde 2010, vestiu três camisetas diferentes, tendo que se adaptar rapidamente a três países completamente distintos (França, Espanha e Brasil). Em Buenos Aires, tem seu porto seguro. Vive num bairro reservado na zona norte da capital argentina com a esposa e os dois filhos. Seu contrato vence na metade de 2012, mas já manifestou interesse de ficar e encerrar a carreira no River.

Cavenaghi deixou o Inter em junho para cair nas graças da torcida do River
Foto: Divulgação

O dinheiro não parecer ser problema. Não foi quando saiu do vestiário do Beira-Rio e subiu à sala da presidência para comunicar que iria deixar o Inter, em junho. Após a conversa com Giovanni Luigi, teria levado apenas o salário do mês. O motivo de sua atitude intempestiva conta com um avalista que também já saiu do clube. Falcão, então técnico colorado, não desejava mais contar com o centroavante. No vestiário, antes de um treino, teria comunicado a Cavenaghi que o colocaria para treinar no time B. O argentino pediu para sair. Logo depois, encarou o desafio de tirar um gigante das agruras da segunda divisão.

— Ele sente a camisa do River como eu sinto. Além disso, se desprendeu da parte econômica para voltar — declarou Almeyda, que havia pedido pessoalmente ao presidente do River, Daniel Passarella, a contratação de Cavenaghi.

Outros destaques são o goleiro Leandro Chichizola, os meias Ezequiel Cirigliano, Carlos Sánchez e Martín Aguirre. Dos jovens, Ocampos, meia-atacante pela esquerda, é o que mais chama a atenção.

> Você se lembra?

Tratado como a aquisição mais valiosa e impactante do Inter para 2011, Cavenaghi foi recepcionado no Salgado Filho por cerca de 400 colorados no dia 28 de janeiro (foto). Parecia dia de jogo. Até canto personalizado já se ouvia em frente ao portão 5 do aeroporto. Mas a festa terminou por aí. Fernando Otto, empresário que intermediou as negociações, estipulara uma marca de 30 gols para Cavenaghi no Inter. Até hoje não entende os motivos do insucesso do jogador pelas bandas do Rio Grande. Mais do que a concorrência de peso da estrela em ascensão Leandro Damião, Otto credita ao azar pessoal do argentino.

— Tecnicamente, não foi mal no Inter. Mas bola não entrava. Batia nele, na trave, no goleiro — argumenta. — Agora, está fazendo falta (Damião está lesionado e Jô vive má fase).

Apesar dos apuros no Beira-Rio, Cavenaghi conserva alguma relação com o Inter. Mantém linha direta com D'Alessandro, com quem conversa toda a semana. Trocam informações. O meia quer saber como está o seu River Plate - não há mês em que não se noticie um possível retorno dele aos millonarios. Já o atacante também indaga sobre o ex-clube.

— Não, não há (mágoa). Foi importante ter jogado (pelo Inter), mas peguei um campeonato complicado e não fiz muito gols. Mas não houve nada demais. Diante dessa impossibilidade de ficar no Brasil e dessa situação do River, priorizei outras coisas — disse o jogador em agosto, após sua reestreia no River.

Os seis meses em Porto Alegre foram o bastante para não se esquecer da cidade e do time. Mas essa relação é pura amizade. Até porque Cavenaghi já reencontrou no River o seu verdadeiro amor.

Próximos jogos:
30/10 - 18h - Atlético-GO x Inter
06/11 - 19h - Inter x Fluminense
13/11 - 19h - Cruzeiro x Inter