Prepare-se para assistir às 19h30min desta quarta-feira um duelo de pranchetas. Estreante no comando do Grêmio, Julinho Camargo, 40 anos, chamou a atenção nos treinamentos da semana por não largar as anotações táticas. Enfrentará em Sete Lagoas justamente o técnico que consagrou o instrumento. Esbanjando experiência, Joel Santana, 62, leva sua prancheta para onde for. Mais do que a velha mania, Joel está em alta na Toca da Raposa. Vai embalado para cima de um Grêmio renovado, em busca de afirmação.

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Descontraído e espontâneo, Joel é conhecido pelo seu estilo irrequieto em campo e pelas frases de efeito aos microfones. Mantém em Minas a faceta folclórica consagrada no Rio. Ainda não decorou os nomes dos jogadores do Cruzeiro. Para facilitar, improvisa apelidos nos treinos. No caso de Julinho, é ele quem precisa se apresentar. Em sua primeira chance num grande clube, rejeita rótulos. Entende que ser "gritão" ou "calmo" depende da necessidade da partida. Também relativiza a prancheta. Diz usá-la apenas em treino, como mais uma ferramenta.

— Em alguns momentos, é melhor mostrar ali na prancheta o detalhe que você quer. Só falar, às vezes, o jogador não percebe bem a intenção. Mas é só um artifício para o trabalho — explica.

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> Bons atacantes e com sede de gols   

Estilos e trajetórias à parte, Julinho medirá forças com um Joel em ascensão. Eliminado precocemente da Libertadores nas oitavas de final, o Cruzeiro de Cuca naufragou numa profunda depressão. Nem o título estadual curou as feridas. Em cinco rodadas, nenhuma vitória - senha para a troca de comando. Joel Santana foi chamado para enfileirar duas vitórias e restabelecer a paz pelos corredores azuis.

O técnico tem dois méritos indiscutíveis em sua curta trajetória no Cruzeiro. Melhorou o astral do grupo e alterou a postura do time. A parte tática é semelhante, a equipe atua num 4-4-2, com três volantes e apenas Montillo na armação. A diferença, no entanto, está na proposta. Nota-se, hoje, um Cruzeiro mais pegador. Diferente da era Cuca, com Joel os volantes sobem menos, assim como os laterais.

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Os cuidados defensivos deixaram Montillo mais à vontade para armar. O argentino começa a voltar a ser aquele meia perigoso do Brasileirão passado. Marcou três gols nos últimos dois jogos. Apesar da evolução, a imprensa mineira ressalva: os resultados apareceram, mas o bom futebol ainda não. O time de Joel é pragmático e não se atira ao ataque. Marca forte e espera o adversário se definir. Não é à toa que todos os gols do Cruzeiro de Joel foram marcados no segundo tempo.

Por falar em gols, Saimon e Rafael Marques enfrentarão uma dupla de ataque sedenta. Artilheiro da Libertadores, Wallyson ainda não marcou no Brasileirão. Thiago Ribeiro também passa por jejum. Na verdade, o único atacante que marcou em sete rodadas foi o reserva Anselmo Ramon. Bem ao seu estilo, Joel tranquiliza os avantes ansiosos e diz que a responsabilidade de marcar gols é de todos os jogadores. E também usa seu próprio exemplo como alerta: um time remotivado com um novo técnico pode incomodar. A equipe deve se repetir: Fábio; Vítor, Naldo, Gil e Diego Renan; Marquinhos Paraná, Fabrício, Leandro Guerreiro e Montillo; Wallyson e Thiago Ribeiro.

Em três dias de contato com os atletas, Julinho já mostrou que também pode ser carismático, à sua maneira. Arrancou elogios dos experientes Gilberto Silva e Douglas, sobretudo em relação ao aspecto tático. Mas Julinho também tem personalidade. Disse respeitar o legado de Renato Portaluppi, mas que, a partir de agora, vale o seu nome no Grêmio. Joel que se cuide nesta quarta-feira.