Se treinar até cair ganhar jogo, então o Grêmio que abra o olho. O Liverpool-URU, adversário na pré-Libertadores, treina do amanhecer ao entardecer, faça chuva ou faça sol, em Montevidéu. Foi a maneira encontrada para diminuir a diferença técnica e de estrutura em relação ao rival dos dias 26 de janeiro e 2 de fevereiro.

Fui ver os jogadores em ação no acanhadíssimo CT do não menos acanhado clube de periferia. Eles estão concentrados no bairro Passo de la Arena, um dos mais pobres da cidade. As redes da goleira, ao fundo, são presas por cones, e o campo é irregular e com buracos. São quatro turnos. Isso mesmo QUATRO turnos: 8h, 11h30min, 17h e 20h.

No meio destes períodos, banho, refeições e conversas. A função, comandada pelo técnico Eduardo Favaro e o preparador físico Aldo Galipolo, só termina quando a noite cai, com todos se arrastando pelos cantos. Se houvesse iluminação no CT, posso apostar que entrariam noite adentro.

— Somos assim, trabalhadores humildes. Tomara que a força e o fôlego façam a diferença em nosso favor — afirmou o preparador Aldo Galipodo.

A apresentação oficial foi ontem, mas o grupo trabalhou sozinho, sob o comando do capitão Carlos Macchi, volante de 36 anos. Durante uma semana, antes do fim das férias regulamentares de 30 dias, os jogadores correram sozinhos em um parque.

No Uruguai, não cumprir o prazo de descanso previsto em lei pune clube e jogadores. Eles podem perder o apoio do sindicato em eventuais ações se não cumprirem tudo à risca. Na ânsia de ter alguma vantagem sobre o Grêmio, voltaram a trabalhar mais cedo.

Sem nunca ter vencido um título sequer da primeira divisão (só Segundona, três vezes), o Liverpool treina, treina e treina para surpreender o Grêmio.