| 26/08/2010 11h24min
Diplomatas do Brasil, Honduras, Equador e El Salvador chegarão nesta quinta-feira ao estado mexicano de Tamaulipas, no nordeste do país, para identificar os corpos de 72 supostos imigrantes assassinados em uma chacina que expôs o drama da imigração clandestina para os Estados Unidos.
Dois funcionários do Consulado do Brasil devem desembarcar no local das mortes. O Ministério das Relações Exteriores informou que dois representantes seguirão até a região por meio de um avião do governo mexicano.
— A chancelaria mexicana pretende enviar agentes consulares de Brasil, Equador, El Salvador e Honduras a San Fernando, onde estão os corpos dos imigrantes que foram mortos em um rancho próximo a este povoado — informou Marcio Lage, cônsul geral do Brasil no México.
Na terça-feira, militares mexicanos encontraram 72 cadáveres — quatro deles de brasileiros — em um rancho de San Fernando, após a denúncia feita por um sobrevivente do massacre. O equatoriano sobrevivente, de 18 anos, contou ter levado um tiro no pescoço e fingido de morto em meio aos corpos dos outros imigrantes para escapar. Ele denunciou o caso ao exército.
Lage informou que o agente brasileiro verificará os documentos encontrados com as vítimas para identificar sua nacionalidade. A embaixada de El Salvador no México indicou, por sua vez, que ainda não há "dados confirmados" sobre os salvadorenhos mortos. Hugo Carrillo, embaixador do país no México, informou que dois cônsules viajarão nesta quinta-feira para lidar com a situação.
Uma fonte do Ministério Público de Tamaulipas explicou que, segundo a versão do sobrevivente, os assassinos, membros do crime organizado local ligado ao narcotráfico, haviam convidado o grupo para trabalhar para seu bando, com pagamento de 1 mil dólares quinzenais. Ao rejeitarem a proposta, os imigrantes foram atacados pelos traficantes a tiros.
O equatoriano, aparentemente única testemunha do crime, indicou membros do cartel dos Zetas como responsáveis pelas mortes. Ele está em um hospital sob forte vigilância e será receberá proteção do Ministério Público.
O presidente mexicano, Felipe Calderón, condenou "energicamente" o massacre dos 72 imigrantes.
— O presidente Felipe Calderón condena energicamente os fatos nos quais perderam a vida 72 pessoas, supostamente imigrantes — afirma um comunicado oficial da presidência, que enfatiza que a matança aconteceu "dentro de uma luta violenta entre o cartel do Golfo e seus ex-aliados, Los Zetas".
Los Zetas são soldados desertores do exército mexicano que foram recrutados pelo narcotráfico.
— Eles recorrem à extorsão e ao sequestro de imigrantes como mecanismo de financiamento e de recrutamento devido ao fato de estarem enfrentando uma situação muito adversa para abastecer-se de recursos e de pessoas — acrescenta o texto, que atribuiu esse enfraquecimento dos carteis às ações do governo.
O governo dos Estados Unidos, autoridades e entidades dedicadas à defesa dos imigrantes, organizações internacionais e direitos humanos também criticaram a matança. Todos os países que têm cidadãos entre as vítimas já anunciaram que colaborarão com as investigações das autoridades mexicanas.
Imigrantes no território mexicano
Os detalhes da tragédia são desconhecidos. O massacre trouxe para o centro das discussões o drama do sequestro sofrido por milhares de imigrantes que cruzam sem documentos o território mexicano para tentar chegar aos Estados Unidos. Em 2009, a Comissão Nacional de Direitos Humanos registrou a privação da liberdade de 10 mil imigrantes sem documentados em um período de seis meses por parte de integrantes do cartel dos Zetas.
O Estado de Tamaulipas é cenário de violentas disputas entre o cartel de traficantes do Golfo e seus antigos aliados, Los Zetas, liderados por soldados de elite desertores aos quais as autoridades acusam de cometer distintos massacres e de cometer sequestros em massa de imigrantes ilegais. A violência desatada pelo narcotráfico provocou mais de 28 mil mortos desde o final de 2006.
O governo do México mobilizou 50 mil militares para combater os carteis. Nos últimos dois meses e meio, houve no México outros dois grandes descobertas de corpos, em valas clandestinas que, segundo as autoridades, foram usadas por pistoleiros do narcotráfico para livrar-se dos inimigos. Uma delas foi em julho, no estado de Nuevo León (norte).
Confira no mapa o local onde os corpos foram encontrados:
Visualizar Massacre com morte de 72 pessoas no México em um mapa maior
Alejandro Poire, do Conselho de Segurança do México (à esquerda), e o porta-voz da Marinha mexicana, Jose Luis Vergara, durante entrevista nesta quarta
Foto:
Eduardo Soto, AP
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