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Presidente boliviano fala em golpe, e violência continua

Cinco pessoas morreram nesta segunda, elevando para 42 o total de vítimas em confrontos

O presidente da Bolívia, Gonzalo Sánchez de Lozada, denunciou a existência de um plano golpista financiado no Exterior para destruir a democracia no país, onde outras cinco pessoas morreram nesta segunda, dia 13, elevando para 42 o número de vítimas fatais durante os atuais protestos contra o governo.

– É importante dizer hoje a todo o povo da Bolívia que eu não vou renunciar – disse Sánchez, cujo mandato começou em agosto de 2002 e se estende até 2007. Ele fez uma declaração à nação em sua residência oficial, localizada na zona sul de La Paz.

Depois do pronunciamento, o comando das Forças Armadas deu respaldo ao presidente e advertiu aos setores em conflito que o Exército vai preservar a ordem e a tranqüilidade em todo o país.

Enquanto isso, houve novos incidentes na região de El Alto, cidade nos arredores da capital, provocando cinco mortes. Em quatro semanas de confrontos, já são 42 vítimas fatais.

Pelo menos outras 150 pessoas ficaram feridas na pior onda de violência urbana e rural desde a restauração da democracia na Bolívia, em 1982, segundo entidades de direitos humanos.

– A Bolívia está em perigo; abriga um grande projeto subversivo organizado e financiado a partir do Exterior – disse o presidente, um empresário da mineração, de 73 anos, sem dar detalhes. – Mas não vão tomar o governo com um golpe – acrescentou.

Tentando acalmar os ânimos, Sánchez suspendeu na manhã de segunda por decreto, toda a nova exportação de gás boliviano, enquanto a sociedade não se pronunciar em um processo de consultas e debates que vai até 31 de dezembro.

O projeto de exportação de gás por um porto chileno foi o estopim dos protestos, embora o governo não tenha definido nem selecionado a eventual saída do produto pelo país vizinho. Existe na Bolívia um sentimento disseminado contra o Chile, país responsável pelo fim do acesso marítimo boliviano, na guerra de 1879.

Mesmo assim, o deputado indígena Enrique Quispe, líder dos bloqueios montados pelos camponeses desde 15 de setembro, rechaçou a proposta do presidente como sendo um engodo.

– O decreto sobre o gás é um decreto. Mais um dos milhares assinam os governos. Os indígenas não deixarão a luta até que o Gringo se vá a seu país, os Estados Unidos – disse ele a emissoras de rádio, em alusão ao apelido do presidente, que viveu e estudou nos EUA antes de entrar para a política boliviana.

No domingo, 26 pessoas morreram em El Alto, segundo a Assembléia Permanente de Direitos Humanos, principal entidade do setor no país. O grupo, que tenta sem sucesso mediar o conflito junto com a Igreja, disse que os incidentes de El Alto configuram "não um confronto, mas um verdadeiro massacre".

Sánchez de Lozada disse que o suposto movimento golpista quer transformar a Bolívia em uma "ditadura sindical" e afirmou que Quispe e o também deputado Evo Morales, líder dos plantadores de coca, "não vão ter sucesso".

Depois do pronunciamento presidencial, Morales falou às rádios pedindo que os trabalhadores "ocupem as minas de Gonzalo Sánchez de Lozada"

– O presidente precisa ir embora. Depois de semelhante massacre, como o de ontem em El Alto, o pedido é "Fora Goni!" – disse Morales, antes do discurso presidencial, mencionando outro apelido de Sánchez.

Nesta segunda, o presidente perdeu o importante apoio político de seu vice, Carlos Mesa.
– Não posso aceitar que o governo proponha a resposta ao conflito pela via, simplesmente, da imposição da autoridade, sem importar-lhe o custo de vidas humanas – disse Mesa, um ex-jornalista novato na política, que goza de amplo prestígio.

Mesa, 53, disse que não pretende renunciar ao cargo de vice de Sánchez nem à Presidência do Congresso, que exerce por ser o segundo na linha de poder. Mostrando as fissuras dentro do governo, o ministro do Desenvolvimento Econômico, Jorge Torres, do Movimento de Esquerda Revolucionária (MIR), deixou o seu cargo.

Mas o porta-voz presidencial, Mauricio Antezana, disse que Torres apresentou razões "estritamente pessoais" para a decisão.

Nesta segunda, as manifestações paralisaram completamente La Paz, por causa de uma greve de motoristas de ônibus.  Grupos de manifestantes fizeram passeatas e alguns deles destruíram bens públicos, o que levou à mobilização de tropas de choque. Segundo as rádios locais, dezenas de pessoas ficaram feridas nos confrontos.

 
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