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O último Gre-Nal de Carlos Simon seria igual a qualquer outro, não fosse o clássico de despedida do gaúcho que apitou três Copas do Mundo – feito gravado na forma de três estrelas no uniforme verde, junto com o escudo da Fifa. À exceção das reclamações do lado azul, inclusive com queixa de pênalti, Simon saiu de cena de forma discreta. Mesmo que sua personalidade indique o contrário.

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Porque Simon, o público gaúcho sabe, é um homem de opiniões fortes. Encara críticos e não economiza na valorização dos próprios feitos. Mas ontem, no Olímpico, mostrou-se cauteloso. Nada de polêmicas. Nem friozinho na barriga admitiu.

– Estou tranquilo que nem água de poço. Na ponta dos cascos. Vou desfrutar estes 90 minutos – garantiu, na entrada no vestiário do Olímpico, às 16h34min.

Foi instantes após ser recepcionado, por assim dizer, pelos torcedores gremistas que o viram descer da van que transportou a arbitragem direto da casa do próprio Simon. Havia proteção de escolta policial e de seguranças, a fim de evitar surpresas no pátio tomado por torcedores. Eles não perdoaram o homem vestido com terno listrado, com distintivo da Fifa. Provocaram:

– Ó, o Simon! Aproveitem a polícia e prendam o ladrão.

Nada incomum na vida de um árbitro, acostumado a impropérios – mas também a carinho, como Simon nunca cansou de lembrar. Os ossos do ofício de ser protegido renderam amizade com a tropa de choque. No vestiário, pouco depois das 18h, um Simon já fardado, de dilatador nasal, relógio e gel no cabelo, fez questão de posar para foto com os bandeiras Altemir Hausmann e Roberto Braatz, os companheiros de Copa da África.

– É só no olhar – comentou, sobre o entrosamento deles em campo.

Simon recebeu homenagem do prefeito de Porto Alegre

Feita a primeira foto na sala apertada seguida por um longo túnel em direção ao campo, virou-se para quem observava a cena:

– Vamos tirar uma foto, gurizada!

Reuniu soldados da BM e os colegas Jean Pierre Lima e Alexandre Kleiniche. Chegou a faltar ângulo para o fotógrafo, mas todos sorriram. Feito isso, juntou Braatz e Hausmann para palavras de ordem. Fecharam à moda dos jogadores:

– Um, dois, três, arbitragem!

E rumaram ao gramado. Percorreram o túnel escoltados pelos policiais até chegarem à sanfona que os protegia dos torcedores da social do Olímpico. Pisaram no campo para a esperada vaia – praxe da arbitragem –, mas o ranço maior coube a Simon. Eram 18h20min, e todo o estádio xingava o homenageado da tarde.

Sim, porque o principal árbitro da Federação Gaúcha de Futebol recebeu placa comemorativa em cerimônia improvisada, entregue pelo prefeito da Capital, José Fortunati – de uniforme azul, de juiz. Aí, Simon viu-se cercado pelos microfones. Repetiu o discurso da semana, de despedida de uma carreira vitoriosa, e esperou pelos times para as execuções dos hinos do Brasil e do Rio Grande do Sul. Impassível, olhou várias vezes no relógio enquanto a torcida gremista cantava.

Às 18h31min, cumprimentou pela última vez em campo os jogadores da Dupla. Começou pelo capitão gremista, Rochemback – que acabaria corretamente expulso – e terminou em Guiñazu. Dirigiu-se ao meio do campo e, então, apitou o começo do derradeiro Gre-Nal da carreira.