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Esportes  | 10/10/2010 10h11min

Paulo Odone: “Não pensamos em vender ninguém”

Presidente eleito do Grêmio conversou com Zero Hora e clicEsportes


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Eleito na quinta-feira à noite para o quinto mandato como presidente do Grêmio, o advogado e deputado estadual Paulo Odone, 68 anos, conversou na sexta-feira com integrantes das equipes de Esporte de Zero Hora e do clicEsportes. O sucessor de Duda Kroeff foi recebido em almoço no prédio de ZH para falar sobre os planos para os próximos dois anos. Com o discurso de que é preciso recuperar a hegemonia no futebol gaúcho, ele prometeu a manutenção dos jogadores, o crescimento com a conclusão da Arena e uma boa relação com a torcida Geral.

Acompanhado do futuro vice de futebol, Antonio Vicente Martins, ainda encontrou tempo para brincar com o período acumulado na presidência do Grêmio:

– Vou fazer 10 anos de Grêmio. Poderia colocar uma placa lá em casa.

A seguir, os principais trechos das duas horas de entrevista:


Zero Hora – Qual é a diferença deste novo mandato para os outros, sobretudo em 2005, quando o senhor pegou o Grêmio em dificuldade terrível?
Paulo Odone – A diferença maior é que fui (em 2005) por indignação, com o Grêmio na Segunda Divisão, em uma situação terrível, completamente insolvente, sem time. Ah, mas tinham os meninos (Anderson, Lucas e Carlos Eduardo). Não era como agora, que a gente vai assumir e há um clima de transição. Já está marcado: quinta-feira é a primeira reunião com o presidente Duda Kroeff.

ZH – O senhor tentará renovar com o Jonas?
Odone – Tem que fazer, mesmo que vá vender depois. Senão, acaba saindo como o Ronaldinho.

ZH – Será difícil a renovação?
Odone – Faz parte do jogo profissional, ele tem a ambição dele. Quando tratarmos o contrato vamos ver o que é melhor. Claro que é complicado. A essa altura o jogador deve se achar o melhor centroavante do país, está valorizado, deve querer jogar em grandes times.

ZH – O senhor falou das saídas. Será preciso vender por questão de finanças, no ano que vem?
Odone – Não acho que o Grêmio esteja na fase de ter de vender por causa das finanças. Tem de investir se quiser mesmo fazer o que o torcedor está ávido. Está louco por um título mundial, Libertadores. Não dá para começar desmontando o que tem de bom. Tem que aproveitar, melhorar. Não pensamos em vender ninguém.

ZH – Onde serão buscadas as parcerias para contratar?
Odone – No mercado. Não tenho nada para oferecer concretamente, hoje. O cara da Unimed do Rio investe lá. O Sonda investe grosso no Internacional. Quase 80% do elenco do Internacional é de investidores, e não vou criticar isso. Ganharam os títulos, o torcedor deles está feliz da vida. A Traffic é outra que investe. O Grêmio, eu o percebo um pouco fora disso.

ZH – Como será a nova estrutura do futebol?
Antonio Vicente Martins – O que temos planejado é contratar um profissional que será esse executivo remunerado, com perfil bem claro. Que tenha capacidade de fazer essa execução. Serei vice de futebol, com coordenação política, com dois assessores nessa parte. Vão decidir comigo e com o executivo.

Em vídeo, Odone explica sua relação com Renato:





ZH - Haverá renovação com Renato?
Vicente – É uma opção que temos. É fundamental fazer toda a avaliação, mas é evidente que pelo resultado de campo ele está se apresentando como alternativa forte. Vamos conversar com o Alberto Guerra, o Rui Costa, que estão lá dentro.
Odone – E com o próprio (Renato). Só dá para dizer que é o Renato depois de uma primeira conversa com ele.

ZH – Surgiram informações de bastidores de que o Renato não teria o modelo tático que o senhor sempre gostou, fora daquele perfil de força defensiva. É isso mesmo?

Odone – Me perguntaram sobre o que achava logo que o Grêmio trouxe o Renato. Olha, acho que o Renato é um treinador que um dia pode treinar o Brasil e que a contratação foi menos por convicção de time do que jogada política para distensionar o ambiente e trazer o torcedor de volta. Na minha ótica, o Grêmio formou o elenco de forma equivocada. Eu teria começado tentando construir o time de trás para a frente.

ZH – O senhor acha que terá diálogo com Renato?
Odone – No meu último ano aqui ele foi visitar o Olímpico. Nos encontramos no museu. Fechamos a porta. Ele foi mostrar para a filha os gols de Tóquio. Ficamos os três. Quando olhei, aquele baita homem com as lágrimas correndo. Saí e disse para ele: “Tu estás me devendo um campeonato. Espero que venhas aqui pagar um dia”. Por causa de um Gre-Nal, em 1982. Eu era vice de futebol. Nós íamos passar por cima do Inter. Com cinco minutos, o Inter fez um golaço. Ele não aguentou a frustração e foi reclamar com o Carlos Martins (árbitro). Continuou e o Martins deu amarelo. Caminhou, voltou, veio para a frente do Martins e ele não teve outro jeito: vermelho. Perdemos o Gre-Nal. E ele ia ganhar o campeonato sozinho.

ZH – O senhor se surpreende com esse Renato sem reclamações?
Odone –
Espero que seja um amadurecimento. O problema do Renato era sua inconstância. Estou contente de vê-lo com esse perfil.

ZH – O senhor tem ideia de como receberá o clube financeiramente?
Odone –
Tenho receio do que vou ver. Espero que não seja tão enlouquecido. O clube tem problemas. A antecipação da TV até setembro (de 2011). O Gauchão está todo antecipado. O contrato com a Puma está prorrogado, todo recebido por três anos.

ZH – De onde sairá o dinheiro, então?
Odone –
Temos um projeto de plano de capitalização, em que entram Banrisul e outros. O plano é viável. Se a gente conseguir tocar isto adiante, pode achar uma fonte nova de renda. A partir da semana que vem nós vamos desvendar o que é de bom e o que é de ruim. Também não achamos que vamos encontrar um paraíso, mas não deve ser nada inadministrável.

ZH – O Grêmio terá algo parecido com o que fez o Inter, que se inspirou no próprio Grêmio e estabeleceu metas como ganhar Gre-Nal e títulos importantes?
Odone –
A receita é clássica: não perder Gre-Nal. Não precisa nem ganhar o Gauchão, basta não perder o Gre-Nal. Não pode perder Gre-Nal, se possível vencer o Gauchão e depois se pensa em título nacional, que é mais complicado ainda.

ZH – Mas qual é a meta?
Odone –
O Grêmio tem que tentar a Libertadores e o Mundial. Se receber o time na Libertadores, vão nos cobrar para ganhar. Mas estou torcendo para receber o time na Libertadores. Aí pode investir pesado.

ZH – Muitos internautas cogitam a volta do Ronaldinho. Existe essa possibilidade?
Odone –
Falam, mesmo?
Vicente – Mas falam por bem ou por mal?

ZH – Só perguntam.
Odone –
É engraçado, pois o Ronaldinho tem dificuldades até de entrar no Olímpico. Quem pede o Ronaldinho não acompanhou a saída dele.
Vicente – O Ronaldinho é o inverso do Renato na relação com o torcedor.

ZH – Não tem como repavimentar este caminho?
Odone – Acho muito difícil. Prefiro o Renato (risos).

ZH –
Qual será a política para as categorias de base?
Odone – Tem de ver o que está sendo feito. Com Rodrigo Caetano, eu acompanhava. Pelo menos uma vez por semestre, ele reunia o povo dele e expunha o trabalho, as metas e o que estava sendo alcançado, com custos.

ZH – Rodrigo Caetano será a primeira grande contratação?
Odone – Do Vicente e minha. O problema é que o mercado não tem muitos nomes. Tem o Eduardo Maluf, do Cruzeiro, que agora está no Atlético-MG. Fizemos aquela experiência com o Mário Sérgio que se frustrou.

ZH – Paulo Pelaipe se enquadra neste perfil procurado?
Vicente – Acho que não. Ele é conselheiro do Grêmio.
Odone – Caetano moldou um perfil novo de profissional. É um cara extremamente atualizado em modelos de gestão. Os outros tinham aquela coisa de boleiro, lidar com futebol. O Rodrigo tinha essas ferramentas por sua formação profissional.

ZH – O senhor começou a Arena. É por ela que está voltando?
Odone – Uma das razões que me motivaram foi realmente a Arena. Terminá-la e inaugurá-la. Será um novo Grêmio. E o trabalho nesses dois anos para nos adaptarmos ao modelo. Hoje, o Grêmio precisa manter aquela baita estrutura do Olímpico. Acaba isso. Não é com o Grêmio. É com a OAS.

ZH – Isso reduz o quadro funcional do Grêmio?
Odone –
Claro. Não quero fazer pânico, até porque a OAS pode contratar para trabalhar na Arena. Mas fica fora da folha do Grêmio. O Grêmio vai cuidar do futebol, de sua marca e do quadro social. Ponto. O estádio não é com o Grêmio. Passa a ser daqui a 20 anos.

ZH – O senhor tem certeza de que isso se refletirá no campo?
Odone –
Absoluta. Aquilo é uma Bombonera de luxo. O torcedor do Interior virá de caravana.

ZH – O senhor fala com paixão da Arena. Ficou um nó na garganta pela maneira como saiu do processo (o grupo de Odone foi alijado do projeto da Arena com a derrota eleitoral para Duda Kroeff no final de 2008)?
Odone – Quando os grupos do chamado G-7 ganharam a eleição, alguns mais radicais, em vez de estender a mão, colocaram o pé no pescoço. Teve um processo de expurgo. O (Eduardo) Antonini é o símbolo desse negócio. Trabalhou desde a origem na Arena. Recebeu todos os arquitetos. Só podia contribuir. Até não quero falar nisso, combinei com o Duda de não falar. Na política é assim. Quem ganha não pode colocar o pé no pescoço do outro. Assumi o Grêmio liquidado (em 2005) e nunca quis atirar pedra para trás.

ZH – O Grêmio perdeu força política no Brasil?
Odone –
Já esteve em melhores posições. Quando assumi, na Segunda Divisão, havia certo preconceito e ódio na CBF.

ZH – O senhor se preocupa em reposicionar o clube?
Odone –
Tenho boa relação na CBF. Acho que dá para articular.
Vicente – Tem que se reposicionar como protagonista. Ter importância no Clube dos 13.

ZH – Como fica a Geral em sua gestão?
Odone –
Temos boa relação, constante, quase eterna. Tem de ser um canal de diálogo com a Brigada Militar e com eles. É meio complicada, mas está bem melhor do que antes.


CLICESPORTES E ZERO HORA
Gols: Eder Luis aos 15, Jonas aos 41 e Cesinha aos 47 minutos do primeiro tempo; Felipe Bastos aos 24, Jonas aos 28 e Gabriel aos 43 minutos do segundo tempo
Cartões amarelos: Fábio Santos, Rafael Marques, Gilson, Paulão (Grêmio); Dedé, Jumar (Vasco)
Estádio: São Januário, no Rio de Janeiro
Público: 13.651 presentes / 10.743 pagantes
Árbitro: Alício Pena Junior (MG), auxiliado por Helberth Costa Andrade (MG) e Guilherme Dias Camilo (MG).
VASCO GRÊMIO
Fernando Prass, Fagner (Irrazábal), Dedé, Cesinha e Ernani; Jumar, Rafael Carioca (Rômulo), Fellipe Bastos e Felipe (Allan); Zé Roberto e Éder Luís. Marcelo Grohe; Paulão; Rafael Marques e Vilson; Gabriel, Ferdinando (Diego Clementino), Lúcio (Edilson), Douglas e Fábio Santos (Gilson); Jonas e André Lima
Técnico: Paulo César Gusmão. Técnico: Renato.
 
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