Tweet
Compartilhar

Siga informações do Inter no Twitter

Um telefonema da Espanha surpreendeu ontem Andrigo, o guri de escassos 15 anos do Inter que desperta interesse de Barcelona, Manchester United e Inter, de Milão:

– Você está em alta, hein. Tem foto sua na revista Trip daqui.

Andrigo mal responde. Espinhas no rosto, basta melena castanha de emo, relógio importado, pulseirinha e roupa da cabeça aos pés da Nike, o garoto recém deixava uma reunião no Beira-Rio em que tratara do seu projeto de vida: ou fica no clube ou parte de vez para a Europa.

Nada ficou acertado. Uma decisão tão drástica assim parece não atormentá-lo. Desde que foi escolhido melhor jogador e goleador do mundial de clubes Sub-15 na Inglaterra e os europeus o tiraram da paz da sua cidade, Estrela, Andrigo de Oliveira Araújo participa de reuniões seguidas com empresários e dirigentes cuja única pauta é o seu futuro. Além das provas do 1ª ano do Ensino Médio do colégio Presidente Roosevelt, tem de se preocupar com cifras. Ofereceram-lhe uma montanha de € 5 milhões (cerca de R$ 11,5 milhões), salários de R$ 50 mil semanais e uma babilônia de privilégios. Ou seja, por que não ir?

O problema é que, aos 15 anos, seu contrato é apenas amador, e o Inter receberia uma indenização irrisória em caso de transferência. Só no dia 27 de fevereiro, quando completar os 16 anos, terá condições de assinar contrato profissional. Até lá, Inter, Andrigo e família discutem um acerto-tampão. Há uma outra forte ponta nesse negócio: o empresário Delcir Sonda e sua empresa DIS, o ramo esportivo do Grupo Sonda, investem no garoto e na família e amarram uma relação para o futuro. Para onde for, o Sonda negociará.

Há um mês, Andrigo chegou fazendo festa em Estrela na carona de um City preto. Alardeou o Bairro Boa União, onde mora, todo contente com a novidade que trazia: o carro era presente de Sonda para o pai, Paulo Araújo. Não fica aí. A família já está de olho em uma nova casa em zona mais nobre da cidade – a menos que eles se transfiram de vez a Porto Alegre e façam investimento na Capital. De onde vem o dinheiro? Do Grupo Sonda. Recentemente, pai, mãe e filho tomaram o avião para assistir ao casamento de um sócio do Sonda em São Paulo. Voltaram há pouco para discutir o destino do prodígio. Com alguma frequência o empresário surpreende a família com um mimo.

No dia 12 de setembro, Andrigo ainda vivia no alojamento do Beira-Rio. Entediado, sem ter o que fazer, o garoto foi assistir a Inter e Goiás. Tinha o convite para ocupar e ficar à vontade no camarote do Grupo Sonda.

Os primeiros a vislumbrar a mina de ouro são desconhecidos. Antes do estouro de Andrigo, a família recebeu uma proposta de R$ 300 mil para tirar o guri do Inter. Soube dela por um intermediário, que não identificou o verdadeiro interessado.

A mãe, Nadir Tereza, é a mais contundente com relação ao destino do filho. Por ela, garoto e a família tomariam o rumo da Europa. Mas não é o que pensa Andrigo. Ainda. Nadir vende lanches que produz em casa. Paulo Araújo faz as entregas e dirige uma pequena empresa de segurança.

– Não é por ser meu filho, mas ele joga muito – gabou-se Nadir.

– Quero que seja feita a vontade do garoto – disse Paulo, um ex-atacante do São José, no início dos anos 80.

A estante da sala dos Araújos exibe cinco a seis troféus obtidos por Andrigo desde os 12 anos. O último deles é a chuteira de ouro de melhor jogador do Mundial Sub-15 da Inglaterra. Foi o que ele mostrou ao repórter Cícero Copelo, em reportagem da RBS TV de Santa Cruz do Sul:

– Eu estava só treinando, com a minha vida. De uma hora para outra, eu cresci – declarou na reportagem.

Há outro detalhe na história de Andrigo. Ainda pequeno, recebeu convite para treinar no Grêmio. Foi o seu irmão, Paulinho, hoje lateral-esquerdo dos juniores do Inter, que não permitiu.

Leia mais sobre o Inter na edição desta sexta de Zero Hora.