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 | 09/08/2010 16h57min

Bruno Senna: “Se não correr, vou vender coco”

Em entrevista coletiva, piloto mostra confiança ao falar de expectativas para próxima temporada na F-1

Em entrevista coletiva em São Paulo, onde passa as férias da Fórmula-1, Bruno Senna, piloto da Hispania, falou sobre o seu atual momento na Fórmula-1 e comentou a temporada 2010, destacando os problemas que viveu na equipe e sobre seu futuro na categoria.

Leia a entrevista coletiva de Bruno Senna:

Fórmula-1 diferente do quanto imaginava?

A Fórmula-1 é bem diferente das outras que precedem porque outras coisas movem a categoria, é muito política, as pessoas estão sempre lá negociando, olhando pro futuro delas, as movimentações são muito grandes. A quantidade de gente é muito grande, é difícil conhecer todos do padock, conhece os rostos, mas não as pessoas. Depois de alguns anos você conhece todo mundo. Tenho boas amizades, é um ambiente pouco menos pessoal do que tinha na Fórmula-3. É muito mais pessoal a experiência do que na Fórmula-1.

Avaliação da evolução do carro da Hispania

Tivemos um grande processo de aprendizagem, teve que começar a temporada sem fazer testes, não estava nem perto do limite do carro. A gente vem trabalhando, conhecendo mais o carro, a gente está numa posição que sabemos tirar o máximo do carro. Tivemos pequenas melhoras de permonance, o tanque de combustível, por exemplo, a parte eletrônica do carro também foi desenvolvida. O carro sempre tem evoluções na eletrônica, as pessoas fazem sempre melhorias, experimentamos coisas novas a cada final de semana. Isso que conseguimos melhorar até agora.

Próximo Grande Prêmio

A pista de Spa é bastante conveniente para o nosso carro, tem certa eficiência. Vamos estar numa posição mais competitiva com as duas mais novas. Em monza vamos ter que trabalhar mais, ter mais velocidade na reta. Vamos trabalhar mais isso para tirar o melhor do carro. Spa deve ser a melhor corrida do ano.

Pior carro?

O carro de corrida tem se desenvolvido, no começo da temporada era difícil, quando não conhecia o carro, estava num caminho errado do acerto. Na Hungria estávamos tentando passar por cima de algumas deficiências do carro, as coisas foram um pouco frustrantes. Estamos limitados em cima do que fazer no carro. É um carro que, considerando o tempo que tivemos para melhorar, está tendo uma perfomance razoável.
Motor Cosworth

Não tive nenhum problema grave, tivemos pequenas perdas de potência, mas não era nada grave. Tem muita potência em alto giro, um carro com pouca aderência na tração, que não é nosso carro, se torna mais difícil de pilotar. O motor tem prioridade de potência máxima, eles têm nos ouvido em relação a isso. Vamos usar em Spa os motores mais fortes que temos.

Dificuldades Financeiras

Todo piloto tem que mostrar serviço todo dia, não tem muita diferença nesse sentido. Acho que a restrição financeira causa mais dificuldades em termos de desenvolvimento do carro, é a parte onde mais atrapalha. A equipe tem condição de rodar até o final do ano. A questão é que não é que nem a Red Bull, que pode testar grandes coisas nos finais de semana. São coisas que temos com menos frequência, e na Fórmula 1 tem que se desenvolver constantemente, para poder se manter competitivo. Poucas equipes no Grid tem garantias de que vai estar lá. a Fórmula 1 não está em um momento difícil. Adoraria dizer que a equipe vai estar lá, mas muitas equipes podem ter a mesma resposta, não é tão simples. Seria ótimo escolher para que equipe vou, mas na Fórmula 1 as coisas são mais difíceis. Estou trabalhando para ter o melhor desenvolvimento para este ano. O objetivo é ficar por muitos anos na Fórmula 1, temos de trabalhar para garantir. De uma forma ou de outra vou estar na Fórmula 1. Isso vai depender de muitas variáveis que ainda não estão definidas.

Tem mostrado talento?

Acho que sim, as pessoas sabem ver isso, comparam equipe, comparam com o companheiro. Mas em muitas corridas é possível ultrapassar o potencial do carro e mostrar um bom serviço. Claro que é mais difícil, é um desafio bem grande, mas sei que tem gente que está prestando atenção e gostando do trabalho que estou fazendo. Tive uma curva de desenvolvimento bem grande desde o início do ano. Acho que a ultima corrida, na Hungria, foi uma bela corrida, tirei o máximo do carro por um maior tempo. Temos um pouco mais de informação sobre o carro e vimos que as condições não estavam tão boas. A performance foi bem boa.

E-mail

Não sei da onde surgiu. Os rumores vão muito livres pela Fórmula-1. A verdade é o que a equipe soltou, estão dando oportunidades para outros pilotos. Claro que não fiquei contente, quero estar sempre no carro, mas são coisas que estão fora do nosso alcance. Temos que trabalhar para estar sempre no carro. Sobre o Chandkok, não sei o que vai acontecer.

Lucas Di Grassi

Ele está muito bem, teve uma situação difícil porque ele está acima do peso do companheiro. Ele está se tornando competitivo, vamos ver se estamos juntos no ano que vem, batendo roda que é sempre muito bom.

Relacionamento Yamamoto/Chandkok

o Karum é uma pessoa extremamente agradável, tranquilo, sempre conseguimos trabalhar muito bem, trocar informações sobre o carro. O Yamamoto é novo, é agradável também, não tivemos nenhum problema. Em performance ainda estou um pouco acima dele, aprendemos um com o outro, mas não temos nenhuma dificuldade entre a gente. Os pilotos tem sempre de se ajudar, se o relacionamento for ruim, é mais difícil tirar o máximo do carro.

Críticas do Massa são justas?

É muito fácil de julgar a atitude do outro quando não está na pele da pessoa, cada um faz o que acha correto de fazer em cada situação. Crítica é fácil para as pessoas que estão de fora, mas antes de falar mal sobre o outro, as pessoas deviam estar mais informadas ou não comentarem sem ter a informação.

Conversas

Espero que 100%. Infelizmente não posso dizer com certeza. Em 2008 para 2009, na Honda, a chance parecia muito boa de ficar. Previsão não funciona, só funciona contrato assinado. Tenho boa chance de estar lá. Sempre há conversas, saber o que está acontecendo. Conversa oficial não tem, mas estamos vendo a melhor opção.

Nova substituição

Chance existe. Existe chance de acontecer qualquer coisa, mas a probabilidade não é alta. Eu devo estar correndo em todas as provas até o fim do ano.

Sabia da situação carro / noção de risco

Sabíamos que corria risco numa equipe nova, não tem uma estrutura que saiba como funciona. Mudou essencialmente desde que assinamos o contrato. As condições mudaram bastante. Felizmente fizemos um contrato que era bom, firme. Nunca tem como prever o que vem na frente, mas com a experiência que obtive durante esses anos tive chance de fazer um contrato que contorne certas situações, não tem muito questão de decepção. Tem que aceitar as dificuldades e aceitar a oportunidade. Para mim é isso esse ano. Eu estou aproveitando, levo assim essa situação. Tudo que tenho que fazer é tirar o máximo da situação. Se ficar pensando "preciso passar a Virgin", não tiro o máximo do carro. Tenho que mostrar espírito de guerra. Está funcionando! Adoraria estar num carro que pudesse lutar pelo campeonato. Espero estar em alguns anos.

Torcida

Nenhum piloto torce pelo outro. Em termos de probabilidade, a Red Bull está muito forte. O Webber ta fazendo um trabalho muito sólido. Tem que ver se alguns erros de estratégia não vão tirar o campeonato dele. A Ferrari vai estar muito forte em Spa, e com esse sistema novo de pontuação, uma vitória pode fazer diferença. A briga está acirrada e os cinco primeiros têm chances de ser campeão.

Comparações com o Ayrton

Comparações sempre existiram, aprendi a lidar. Tenho tranquilidade. As pessoas esperam um pouco mais do que é possível, essa que é a dificuldade. O pessoal acha que posso pegar uma corrida de chuva e quase ganhar como meu tio em 84. A Fórmula-1 mudou muito, é bom que as pessoas saibam disso. A visão romântica tem que diminuir um pouquinho.

Michael Schumacher

Passar três anos longe é difícil. Mudou muito, os pneus são muito diferentes. É uma mudança essencial na forma de pilotar o carro, no balanço. Não tem ninguém bobo na Fórmula-1. Se acharam que o Schumacher chegaria e passaria por cima do Rosberg, estavam enganados.

Passo atrás no ano que vem

Tem que saber lidar com as opções, se for a única opção na mesa, claro que tem que levar em consideração. O objetivo é ficar como piloto. Se não, vou vender coco na praia. Existem outras opções, pretendo continuar na Fórmula-1, manter o foco é muito importante, não é hora de pensar nisso. É possível que não dê certo, mas existem opções. Acreditamos que seja possível continuar.

Por que o foco na Fórmula-1?

É o lugar onde estão os melhores pilotos de monopostos, é a categoria mais competitiva do mundo. Não tem razão para procurar outro lugar a não ser a Fórmula-1. Para começar você aprende muito mais sobre a estrutura quando está numa equipe pequena. Aprendi na primeira corrida. Vi os caras montando o carro, um piloto nunca tem a experiência de ver isso. O piloto sempre vê o carro pronto. A parte técnica que você aprende é extensa, os detalhes estão expostos para o piloto. Em uma equipe mais experiente o piloto não participa de tantos detalhes quanto na nossa. Cresci muito tecnicamente, você aprende a lidar com as pessoas. Tendo menos gente na equipe, acaba participando mais da vida um do outro, para trabalhar de uma forma mais positiva do que quando está numa equipe de 500 pessoas e conhece 15.

O que mudou na equipe?

Essencialmente mudou quem é o responsável pelo desenvolvimento do carro. Parte da equipe se tornou autônoma em relação ao desenvolvimento. Quando tinha a Dallara como fabricante, só eles podiam acabar decidindo. Hoje em dia é mais aberto.

Adversários

O Webber está surpreendendo, tendo uma temporada muito boa. O Kubica é um cara espetacular, o Hamilton está bem, o Button está fazendo boas corridas. O Alonso está com bom trabalho na Ferrari, Rubinho está ensinando muito o Hulkenberg. Tem bastante gente fazendo bom trabalho. Não existe decepção, performance é performance. Tem que acelerar mais para ser mais rápido. Existe um número de variáveis muito grande para ser melhor que o outro. É muito fácil ter dificuldade para aquecer os pneus, como o Massa tem dito. As vezes um carro combina mais com o estilo de pilotagem. Não adianta taxar o Felipe. Ele está lá, todo mundo sabe que ele é muito bom.

Igualdade de condições ou equipe com piloto mais experiente e os carros não sejam iguais?

É importante o seu companheiro ter experiência. Demora mais tempo para conseguir tirar o máximo do carro. Claro que a questão é igualdade, é melhor estar com um novato para competir de igual para igual, mas são raros os casos que existe essa diferença muito grande no carro.

A prova mais complicada?

A corrida mais complicada foi Montreal. Tivemos problema grave com o consumo de pneu, o asfalto e a combinação dos compostos de pneus, tornaram a corrida interessante pra quem assiste, mas muito complicado para nós. A Fórmula-1 poderia receber um pouco mais de dificuldade.

Schumacher foi desleal?

Acho que foi uma manobra demais, passou do limite. Se procurar na internet, não faltam acidentes por falta de responsabilidade pelo cara que está sendo ultrapassado. Ele sabe que passou do limite. Espero não ver mais esse tipo de situação para não dar o exemplo para molecada que está subindo. Já passei por isso em 2006, fui ultrapassar um cara, ele me fechou, e eu capotei. Não é uma situação muito agradável.

Jogo de equipe da Ferrari

Acho que o jogo de equipe é bom quando o campeonato está decidido, quando tem uma situação favorável ao outro, porque você ajuda o companheiro. Todo mundo faz, prioriza quem luta pelo campeonato, mas o jogo de equipe não é positivo e é ruim para o esporte.

LANCEPRESS
Divulgação, Sutton Images / 

Bruno Senna falou das comparações com o tio
Foto:  Divulgação, Sutton Images


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