| 29/11/2008 13h18min
Ele deixa as muletas de lado e senta à mesa. Ela aproxima a cadeira de rodas e estica o braço para pegar um pão e passar margarina. É cedo da manhã e Domingos Antônio Brilhante, 70 anos, e Lorena Linhares de Queiroz, 59, estão nas redondezas da Usina do Gasômetro, em Porto Alegre, para tomar seu café da manhã. A cena se repete há dois anos nos fins de semana desses dois amigos ("não namorados, embora a gente se goste, seja unha e carne", explica Brilhante), seja inverno, seja verão.
O motivo de se moverem de táxi da Avenida Pernambuco, onde são vizinhos, para o centro da Capital todo fim de semana? Aproveitar a vida, ver os pássaros, a névoa que fecha o horizonte e esconde as ilhas às seis da manhã durante o inverno, conversar. Sobre o acidente de trânsito que ceifou os movimentos de Lorena e o fumo diário de três carteiras de cigarro que amputou a perna de
Brilhante, a opinião é unânime
dos amigos:
— Por que olhar para trás? Para o lado tem tantas coisas piores. Isso (as dificuldades físicas) não impede de curtir a vida. A vida não termina por qualquer coisa — conta ele.
Brilhante diz que sobrevive do pagamento de dois aluguéis e de uma "mixaria" de aposentadoria — isso porque, mesmo sendo advogado, nunca se preocupou em contribuir para a Previdência. Lorena continua trabalhando como professora de matemática e português. Também cuidam da mãe dela, que há cinco anos está imóvel em uma cama, com Alzheimer. Nenhum deles tem filhos.
Sob o sol ainda fraco do início da manhã deste sábado, a dupla espalhava pela mesa frutas, leite, sanduíches. Sorriam e observavam o Guaíba espelhando o céu. Como sempre, levavam largo sorriso no rosto.
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Foto:
Ronaldo Bernardi
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