| 19/07/2005 22h44min
Um contradição saltou aos olhos dos integrantes Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) dos Correios durante o depoimento do secretário-geral licenciado do PT, Silvio Pereira. Ele afirmou hoje que sabia que o tesoureiro licenciado do partido, Delúbio Soares, procurava empréstimos para saldar dívidas partidárias. Porém, não possuía detalhes sobre esses financiamentos, nem mesmo sobre os valores contraídos. Contudo, em depoimento na semana passada ao Ministério Público, Delúbio Soares afirmou que Pereira sabia dos empréstimos bancários e de sua destinação.
– A única coisa que sei é que Delúbio estava procurando recursos bancários – ressaltou Pereira.
A dívida de quase R$ 40 milhões acumulada desde 2002 pelo Partido dos Trabalhadores, estimativa divulgada hoje pela Executiva Nacional do PT, seria de responsabilidade exclusiva do ex-tesoureiro do partido, Delúbio Soares, de acordo com o ex-secretário. Pereira acrescentou ainda acreditar que também o ex-ministro José Dirceu não sabia do que acontecia. O depoimento dele se estendeu por mais de 12 horas.
Silvio Pereira repetiu à CPI que nunca ouviu falar em pagamento de mesadas a políticos, como já havia dito em entrevistas à imprensa. Ele é acusado pelo deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) de comandar o "mensalão" junto com Delúbio Soares. Pereira também disse que nunca foi próximo de Marcos Valério - acusado de ser o operador do "mensalão". Segundo o secretário-geral licenciado, seu contato com Valério resumiu-se a reuniões em 2003 para analisar propostas do publicitário para as campanhas eleitorais de 2004.
Ao ser indagado pelo deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR) sobre uma declaração do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu publicada na revista Veja, o ex-coordenador-geral do PT Sílvio Pereira disse que ficou "profundamente magoado e triste" com o teor da afirmação. Segundo a revista, Dirceu teria dito que, se a CPI dos Correios fosse minimamente competente, incriminaria Pereira e o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares. No entanto, segundo o ex-secretário, Dirceu divulgou uma nota negando a declaração.
– Como a revista não publicou a réplica, fico com a palavra de Dirceu – disse Pereira.
Pereira afirmou ainda que coordenava as indicações de pessoas para cargos de confiança no governo federal.
– Mas quem nomeou foi o governo, eu nunca nomeei ninguém – disse Pereira, que não ocupava cargo na administração pública.
Pereira desmentiu a informação de que ocupasse uma sala no 4º andar do Palácio do Planalto para receber políticos em busca de cargos no governo.
Silvio Pereira disse que não fazia intermediação entre empresas e governo. Mas o deputado Antônio Carlos Magalhães Neto levantou suspeitas na relação dele com o dono da empresa GDK, que tem um contrato com a Petrobras para construção de uma plataforma de petróleo no litoral do Rio.
Conforme o Jornal Nacional, Silvio Pereira passou por outra contradição em seu depoimento. O senador Álvaro Dias, do PSDB, quis saber dele se o PT tinha uma conta corrente no Banco do Brasil, em Belo Horizonte. Silvio Pereira respondeu que não sabia. O senador Álvaro Dias apresentou então a cópia de um documento, assinado por Silvio Pereira, com um dos balanços do PT. No balanço consta essa conta corrente de Belo Horizonte.
Na CPI, Silvio Pereira se recusou a falar sobre seu patrimônio, exatamente porque há muitas suspeitas de que os bens são incompatíveis com seus rendimentos.
As informações são da Agência Câmara e Senado.