| 06/09/2009 16h05min
É no olhar infantil da pequena Nina Dias, de oito anos, que Dunga enxerga o fim da ruptura entre a seleção e a torcida brasileira. Na tarde deste domingo, Dunga desabafou contra a campanha para tirá-lo do comando da seleção desde que assumiu o cargo, após a Copa do Mundo de 2006.
A força para as palavras do treinador não veio somente pela classificação antecipada para o próximo Mundial. Na folha de papel que recebeu da criança, o recado era claro: “você é um chefe e tanto”. A fisionomia geralmente sisuda dele sucumbiu ao elogio. Orgulhoso por causa da homenagem, exibiu o desenho para os flashes.
– Mesmo com a cara de bravo, as crianças gostam e são sinceras. Não têm falsidade. O vínculo das crianças com a seleção brasileira está retornando e fico feliz com isso – disse o técnico, enquanto era aguardado pela própria Nina e por quase uma dezena de meninos e meninas no saguão do hotel em que a seleção está hospedada, em Salvador.
A pequena fã de Dunga
foi na contramão das impressões
rotineiras e garantiu não vê-lo como malvado ou carrasco.
– Ele tem cara de bonzinho – disse, econômica nas palavras.
Medidas contra possível “oba-oba”
Mas para agir e conseguir resultados no Brasil, Dunga esteve longe da “bondade”. A conduta perniciosa tão criticada na Copa do Mundo de 2006 foi repelida com dureza. Apoiado pelo presidente Ricardo Teixeira, o treinador pregou o fim dos privilégios – para imprensa e jogadores – e incutiu nos atletas a necessidade de “valorizar cada instante na seleção”.
O recado era direto. Em meio à eliminação na Alemanha surgiram notícias de desleixo de medalhões e lamentos sobre a tradicional cultura do oba-oba. Segundo a análise do próprio Dunga, após os títulos da Copa América, da Copa das Confederações e a classificação antecipada para o Mundial da África do Sul constata-se que a resposta às mudanças foi positiva.
– O grupo entendeu a forma de
trabalhar e a postura que o jogador tem de ter quando está aqui. São
necessários orgulho, prazer e satisfação de vestir esta camisa – disse Dunga.
Ele prosseguiu e explicou o porquê de manter-se fiel ao trabalho que traçou. Mesmo sendo massacrado, de acordo com o site Globoesporte.com.
– Falaram que era ditador, mas se estourar a bomba vai para cima de quem? Tenho que tomar posição. Se der errado não vão perguntar para o guarda, mas para mim. Visto a camisa da seleção brasileira, que é o orgulho do meu país.
Dunga agradece elogios de repórter
A mágoa de Dunga com aqueles que convivem rotineiramente com a seleção evidenciou-se quando, no meio da entrevista coletiva, um dos repórteres o parabenizou pela classificação antecipada.
– Muito obrigado. Enfim alguém reconheceu isso. Ontem (sábado) a primeira pergunta depois de ganharmos da Argentina
foi se eu não achava que eles tinham falhado muito – declarou.
Pouco tempo depois, outro
elogio. Mas desta vez partiu de um jornalista chileno. O estrangeiro também lembrou o clamor público pela demissão do treinador após a derrota para a Argentina nas semifinais dos Jogos Olímpicos de Pequim, em 2008.
– Não pediram minha cabeça. Mas sim cabeça, corpo e alma. Gostaria que todos torcessem pelo Brasil como você torce pelo Chile – cutucou o treinador.
O Brasil volta a campo na próxima quarta-feira contra o Chile, no estádio de Pituaçu, em Salvador. A partida, pela 16ª rodada das eliminatórias para a Copa do Mundo começa às 21h50m, de Brasília.