| 05/09/2009 22h30min
Ídolo colorado, campeão da América e do Mundo pelo Inter, Fernandão ainda está magoado com o vice de futebol do Inter, Fernando Carvalho. Na sexta-feira, após o treino no centro de treinamento do Goiás, o jogador fez um forte desabafo contra o dirigente.
– Quando a gente sai de perto e passa a conviver um pouco mais de longe, começa a ver o caráter das pessoas. A maior decepção que eu tive até hoje no futebol foi essa pessoa – resmunga.
Fernandão não cita o nome do desafeto. Admite que guardava respeito e admiração pelo vice de futebol Fernando Carvalho, mas expõe sem pudor os motivos que culminaram no ruidoso rompimento entre o maior dirigente da história do Inter e a estrela de suas principais conquistas.
O litígio se esboçou já nos primeiros contatos após os rumores de que o jogador estava abandonando o Al Gharafa, do Catar, para onde havia se transferido em junho de 2008. Ao tentar repatriar o craque, Carvalho enviou um e-mail. Fernandão não gostou do tratamento, considerado desrespeitoso em comparação à forma como o clube o havia assediado em 2004, quando desembarcou no Beira-Rio.
– Pegaram avião e vieram aqui (em Goiânia). Agora me mandaram e-mail. E-mail você manda para jogador que você não conhece – pontua.
O jogador dá de ombros, enxuga o suor do rosto e exibe o desconforto com a polêmica envolvendo os e-mails trocados com Carvalho. Na quarta-feira, o dirigente mostrou a correspondência ao colunista de Zero Hora Wianey Carlet. Nos e-mails, o Fernandão que conquistou a torcida surge deselegante, por vezes grosseiro. O jogador nega qualquer reação deseducada. E lança um desafio a Carvalho.
– Se ele autorizar, eu pego todos os e-mails e mostro para a imprensa toda. Mostrar para um jornalista só é falta de ética.
Fernandão só escanteia o rancor ao lembrar do retorno a Porto Alegre na semana passada. Diz que estava feliz, sentia-se recompensado pelo carinho da torcida colorada que foi recebê-lo no Salgado Filho, embora agora ele envergasse a camisa verde e branca do Goiás. Os fãs o seguiram no hotel e o aplaudiram até mesmo no campo do RS, em Alvorada, onde a equipe fez o último treino antes do jogo contra o Inter.
O sorriso se esvai em muxoxos, contudo, ao comentar o tratamento dispensado à torcida e aos ex-colegas de clube tão logo pisou no gramado do Beira-Rio. Fernandão havia estreado pela Goiás uma semana antes, quando jogou 30 minutos do segundo tempo do jogo contra o Santos, na grama encharcada da Vila Belmiro.
A partida contra o Inter seria a primeira entre os titulares do time no qual começara sua carreira há 15 anos, justamente contra a equipe que o consagrou. Não estava recomposto fisicamente, fruto de mais de um mês de inatividade, tampouco parecia seguro na carga emocional. Antes de a bola rolar, Fernandão não procurou os antigos companheiros de time. Sequer respondeu aos gritos da torcida colorada que o ovacionava.
– Disseram que fui insensível. Quem diz isso é quem nunca jogou bola, quem não sabe como a coisa funciona. Eram os jogadores do Inter que tinham que vir me cumprimentar. É assim no futebol. Se o jogo fosse aqui em Goiás, ai sim eu iria até eles – argumenta Fernandão, revelando apego a uma estranha ética da bola.
O jogador, contudo, reconhece que falhou com a torcida. Alega que estava conversando com os jogadores no centro do gramado, sem perceber a homenagem que vinha das arquibancadas. Quando se deu conta, afirma, os gritos haviam cessado.
A expulsão aos 13 minutos do primeiro tempo, num lance confuso com Magrão, acabou abreviando seu polêmico retorno ao gramado onde marcara o milésimo gol da história dos Gre-Nais.
Fernandão quer esquecer o jogo contra o Inter, a expulsão e Fernando Carvalho. O craque está em casa em Goiás, perto da família, dos amigos, e faz planos no novo time.
– Agora eu entendo uma frase que disseram ao Iarley no Beira-Rio quando ele foi embora: "a fila anda". Estou muito feliz aqui e quero ser campeão brasileiro pelo Goiás.
ZERO HORA