| 13/06/2009 17h24min
Decano dos treinadores da Série A, Carlos Alberto Parreira enfrenta o Grêmio neste domingo, às 16h, no Maracanã. Aos 66 anos, Parreira voltou ao Fluminense pela quarta vez. Assumiu o time em março, 10 meses depois de deixar a seleção da África do Sul. Parreira conversou com ZH na quinta-feira à noite, logo após uma palestra do motivador Evandro Mota aos atletas do Fluminense na Granja Comary, em Teresópolis (RJ). Falou sobre o Grêmio do amigo Paulo Autuori e criticou o esquema 3-5-2. Aposta em um brasileiro campeão da Copa Libertadores, acredita na vantagem do Beira-Rio na Copa do Brasil e compara a venda de Cristiano Ronaldo à aquisição de um quadro de Van Gogh ou Picasso:
Zero Hora – Após anos em seleções, por que voltar a um clube brasileiro?
Carlos Alberto Parreira – Passei 18 meses treinando a seleção da África do Sul. Voltei ao Brasil por razões familiares. A vida estava tranquila, mas, depois de 40 anos no futebol, senti falta de
adrenalina na vida. No final de 2008,
tive convites para voltar ao Exterior, treinar o Flamengo e o Fluminense. Em março, recebi um ultimato do Fluminense e voltei.
ZH – O senhor treinou o Inter em 2001, como vê o clube agora?
Parreira – Em 2001, com o time em reestruturação, Fernando Miranda, o presidente da época, fez um trabalho árduo para sanear o clube. Vendeu Rockemback e Lúcio e não pôde investir no time. O Carvalho deu continuidade ao trabalho. Hoje, o Inter é case no Brasil, um modelo a ser seguido. Me sinto orgulhoso de ter feito parte desse processo.
ZH – O senhor já enfrentou uma invasão de treino, com agressão ao volante Diguinho nas Laranjeiras.
Parreira – Aquilo foi injustificável, algo feito por um grupo de 30 vândalos. Nossos resultados não são ruins como aquela gente fez parecer. O trabalho está em fase de consolidação. A Unimed esgotou a sua capacidade de investimentos para 2009, tivemos apenas o Fred como
contratação de peso, estamos promovendo juniores devido às
dificuldades financeiras.
ZH – Por que o retiro na Granja Comary?
Parreira – O campo das Laranjeiras está em reformas e não poderíamos utilizá-lo durante alguns dias, daí, a ideia da Granja Comary. Também serviu como um retiro antes da partida contra o Grêmio. Treinamos bem e tivemos uma boa palestra com o Evandro Mota.
ZH – Também serviu como preparação especial para enfrentar o Grêmio?
Parreira – O Grêmio sempre foi um adversário difícil. O Brasileirão é o único campeonato do mundo com 17 campeões diferentes em 39 edições. Dos atuais times da Série A, 14 já foram campeões nacionais.
ZH – Como é a sua relação com Paulo Autuori?
Parreira – Tenho grande admiração por ele. Falávamos muito quando ele estava no Catar. Quase me levou para lá, me ajudou em conexões com o príncipe, seria meu cicerone em Doha. Ele é um profissional que orgulha
a categoria dos técnicos.
ZH – Contra o Fluminense, o Grêmio passará a
jogar no 4-4-2. Isso pode ser benéfico ao seu time?
Parreira – Não creio. Gosto muito do 4-4-2, é o melhor esquema. É utilizado há 50 anos e é o sistema de jogo de 90% das equipes e seleções do mundo. O brasileiro se adapta melhor ao 4-4-2 do que ao 3-5-2. Estamos na contramão da história: quando todos estão largando o 3-5-2, muitos times brasileiros jogam com três zagueiros. Fico surpreso com isso, pois o mundo todo já abandonou esse sistema. Mas, enfim, esquema bom é o que ganha.
ZH – Quais as suas apostas para as finais da Libertadores e da Copa do Brasil?
Parreira – A Libertadores terá um brasileiro campeão, é certo. Talvez até mesmo uma final entre brasileiros. Já na Copa do Brasil, vejo Inter e Corinthians como times muito parecidos, mas acredito que o último jogo em casa (no Beira-Rio) será uma boa vantagem.
ZH – Dunga foi o seu capitão em 94. Como o senhor analisa o trabalho dele na
Seleção?
Parreira – A dificuldade dele foi no
começo. A não-aceitação inicial da mídia e do público foi superada. Conversei com o Dunga algumas vezes. Nada de conselhos, acho que ele não precisa. Foi a três finais de Copa. O Brasil do Dunga é o mais forte candidato a ganhar a Copa.
ZH – O que lhe pareceu a venda de Cristiano Ronaldo para o Real Madrid por R$ 254 milhões?
Parreira – Não vou discutir se a mercadoria vale ou não. No mercado, os quadros de Van Gogh, de Picasso, atingem € 50 milhões. Se tem alguém que paga é porque vale. É difícil quantificar talento. Acho que levará pelo menos uma década até esta marca ser batida, mas tenho certeza de que em dois anos o Real terá recuperado todo o investimento no Cristiano Ronaldo somente com o marketing em cima dele. Acabará saindo barato.