| 25/05/2008 12h46min
O domingo 25 de maio de 2008 ficará eternizado na história do esporte brasileiro como o dia da aposentadoria do maior tenista que o país já teve. Tricampeão de Roland Garros, único tenista sul-americano a liderar o ranking de entradas da ATP e dono do posto por 43 semanas, Gustavo Kuerten colocou um ponto final em sua gloriosa carreira. Em 1h49min de uma atuação que evocou nostalgia nos fãs brasileiros que cativou, Guga foi derrotado na primeira rodada de Roland Garros pelo francês Paul-Henri Mathieu, cabeça-de-chave número 18 e atualmente na 19ª colocação do ranking, por 6/3, 6/4 e 6/2.
Tenista de médio escalão no circuito masculino, tendo como melhores resultados na carreira quatro títulos de torneios menores (Moscou, Lyon, Casablanca e Gstaad), Mathieu entra para a história como o último tenista a vencer Guga. Em 2002, o francês havia conseguido feito semelhante, aplicando a última derrota a outro ex-número um do mundo: Pete Sampras, no Torneio de Long Island-2002 – a penúltima do gênio norte-americano (Sampras, vale lembrar, aposentou-se com o troféu do Aberto dos Estados Unidos daquele ano).
A partir de agora ex-atleta, Guga deixa o tênis com 20 títulos ATPs na carreira e outros feitos inéditos: foi o primeiro tenista após o mito sueco Bjorn Borg a faturar Roland Garros três vezes (e juntando-se ao grupo de tricampeões que até então contava apenas com o tcheco Ivan Lendl e Mats Wilander) e o único a se sagrar campeão de um torneio ao vencer em dias seguidos os norte-americanos Sampras e Andre Agassi (na Masters Cup de Lisboa-2000).
Além disso, Gustavo Kuerten continua como o terceiro tenista com menor ranking a faturar um título de Grand Slam: em 1997, quando surpreendeu o mundo com a taça do Aberto da França, o brasileiro magricela de 20 anos aparecia na 66ª colocação da lista. Os únicos que aparecem à frente de Guga na estatísticas são o australiano Mark Edmondson, campeão do Aberto da Austrália-1976 quando figurava em 212º do mundo, e o croata Goran Ivanisevic, vencedor de Wimbledon-2001 quando era 125º.
Enquanto o mundo se comove com o fim da carreira profissional de Gustavo Kuerten, seu algoz segue para a segunda rodada de Roland Garros. Mathieu enfrentará na etapa seguinte da competição o vencedor do embate entre o espanhol Oscar Hernández e o tcheco Ivo Minar.
O adeus
Trajando o mesmo modelo azul e amarelo que o consagrou 11 anos atrás mas longe daquela forma física, Guga entrou em quadra para sua última partida como profissional visivelmente emocionado. Aplaudido por toda a arena Philippe Chatrier, com praticamente todos seus 15.166 lugares ocupados, o veterano não escondeu a emoção e derrubou algumas lágrimas antes de iniciar o embate com Mathieu.
Com alguns lampejos da velha forma, Guga não conseguiu manter o placar parelho durante muito tempo no primeiro set. Após ceder três break points no quarto game, o brasileiro teve seu serviço quebrado e viu o francês abrir 3/1. Na disputa seguinte Kuerten chegou a ameaçar o saque do rival com 0-30, mas Mathieu retomou o controle dos pontos e ampliou o placar para 4/1. Com uma quebra de vantagem sobre o catarinense, o francês manteve o ritmo e, em 31 minutos, pôs fim ao primeiro set com um placar de 6/3.
A segunda etapa da partida foi diferente. Com o direito de abrir o set com o saque, Guga venceu os três primeiros games de saque e mostrava confiança e um bom repertório de golpes. Além de sua conhecida e eficiente esquerda paralela, o ex-número um do mundo ainda arriscava boas bolas curtas e subidas à rede.
Mas a paridade do placar acabou no sétimo game, quando Kuerten teve os primeiros break points contra. Embora tenha conseguido salvar o primeiro ponto de quebra, Guga viu seu saque ser vencido pelo francês, que pela primeira vez no set assumiu a dianteira: 4/3.
Guga, contudo, não se desmotivou. Pelo contrário, e logo no oitavo game acertou duas paralelas incríveis com sua esquerda na seqüência, faturou sua primeira quebra de saque no jogo e devolveu o equilíbrio ao placar, com 4/4.
No nono game, porém, o brasileiro voltou a ter o serviço ameaçado após Mathieu abrir 15-40 e ter duas chances para retomar a frente do placar. Kuerten salvou o primeiro break com um ace e o segundo ao forçar uma esquerda cruzada, devolvida na rede pelo francês. Após a igualdade, o representante da casa teve sua terceira chance de vencer o saque de Guga e não desperdiçou e voltou a ter vantagem na parcial.
No intervalo do nono para o décimo game, o ex-número um do mundo pediu pela primeira vez o atendimento em quadra, com dores nas costas. Depois da paralisação, Mathieu faturou quatro pontos consecutivos e pôs fim ao segundo set com o placar de 6/4, obtido após 41 minutos.
Com 2 a 0 de desvantagem no placar, Guga ainda viu Mathieu quebrar seu saque já no terceiro game do terceiro set, abrindo 2/1 e ampliando para 3/1 na seqüência. O ex-número um do mundo, visivelmente prejudicado por conta do condicionamento físico, aproveitou seus últimos momentos como tenista profissional para interagir com o público parisiense, que por sua vez já ensaiava alguns gritos de despedia ao xodó brasileiro.
O catarinense ainda teve a chance de conseguir sua última quebra de saque no sexto game, quando chegou a 30-40, mas foi impedido pelo francês, que manteve o serviço e chegou a 4/2. Mesmo com o desempenho minado pela condição física, Guga venceu o ponto mais bonito da partida e foi aplaudido de pé pelos mais de 15 mil espectadores na quadra Philippe Chatrier: acuado quando o adversário estava à rede, o brasileiro aplicou um belo lob. Mathieu evitou ser encoberto pela bola de Kuerten e ainda desferiu uma bola curta. Os dois tenistas trocaram voleios na rede até que Guga aplicasse uma bela passada no rival.
O francês quebrou mais uma vez o saque de Guga, que antes de disputar seu último game na carreira assistiu a uma linda ola da torcida francesa. Após cinco pontos, Mathieu chegou a 40-30, com o match point, salvo pelo brasileiro com uma linda passada.
O último ponto da carreira de Guga, no entanto, veio logo em seguida. Com uma deixadinha na rede, o principal representante do tênis masculino brasileiro concluiu sua passagem pelo esporte. E, mais uma vez, aplaudido de pé.
GAZETA PRESS