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 | 25/09/2006 10h25min

Sindicalista confirma existência de serviço secreto do PT

Setor do partido existia desde a campanha de 1989

Flagrado prestes a comprar um dossiê antitucano, o serviço secreto do PT desta vez fracassou. Mas, desde 1989, vinha colhendo uma série de sucessos nos bastidores de disputas presidenciais. Com baixas eventuais, a central de denúncias do PT continua ativa. Um dos que confirmaram a Zero Hora a existência do grupo é o sindicalista Wagner Cinchetto, 43 anos.
 
Jornalista, ele atuou por dois anos na Força Sindical (entre 1991 e 1993), de onde saiu atirando petardos contra o então presidente Luiz Antônio de Medeiros.

Cinchetto, que nos últimos anos atuou como "consultor informal" da Central Única dos Trabalhadores (CUT), admitiu ontem, em entrevista por telefone a ZH, ter integrado o grupo que gestou três montagens de dossiês contra adversários de Lula na campanha presidencial de 2002: contra os vices de Anthony Garotinho (PSB) e Ciro Gomes (PPS) e contra José Serra (PSDB).

Outros integrantes, segundo Cinchetto, eram Ricardo Berzoini (presidente do PT, afastado semana passada da coordenação de campanha de Lula) e Oswaldo Bargas (também afastado da cúpula da campanha), amigo de Lula desde os tempos do sindicalismo em São Bernardo do Campo (SP). As reuniões ocorriam num escritório da Rua Haddock Lobo, nos Jardins, em São Paulo.

Cinchetto, atualmente rompido com o PT, ressalva: 

– Não que fizéssemos algo ilegal. Nunca entrou dinheiro na nossa história, a meta era tornar público coisas contra os adversários e interceptar denúncias contra nosso pessoal. 

O setor do partido especializado em atacar adversários é chamado por muitos militantes de Abin (referência à agência que sucedeu o Serviço Nacional de Informações do regime militar). Outros preferem o apelido de KGB, numa lembrança ao serviço secreto da extinta União Soviética, matriz ideológica de fundadores do núcleo.

Surgida logo depois da primeira derrota de Lula à Presidência, esta central de boatos e contra-insurgência teve como um dos mentores José Dirceu, o deputado federal paulista que 16 anos depois seria cassado por envolvimento no mensalão.

Dirceu pregava no PT a necessidade de reagir a golpes baixos como o uso, por Fernando Collor, do depoimento da mãe de Lurian, filha de Lula: na TV, ela declarou que à época da gravidez o petista a pressionara a abortar. A bomba, lançada às vésperas da eleição de 1989, ajudara a derrubar as pretensões do petista.

Desde então o PT agiu mais como estilingue do que como vidraça nas disputas presidenciais, sempre com base no núcleo de inteligência.

Um dos primeiros "agentes" da Abin do PT foi Waldomiro Diniz, braço-direito de Dirceu, homem de confiança de Lula. Caixa da campanha de Dirceu a deputado federal, Diniz conviveu com ele em Brasília por 12 anos.

Era Diniz quem carregava dossiês que alimentaram a mídia nas CPIs de PC Farias e dos Anões do Orçamento, além de petardos contra o governo FH, como as denúncias contra o chefe de gabinete do presidente tucano, Eduardo Jorge.

Diniz mudou-se com Dirceu para a Casa Civil quando Lula se elegeu. Conforme petistas confidenciaram a ZH, Diniz era o encarregado na Casa Civil de negociar emendas parlamentares com vistas a resolver problemas de congressistas nas votações de interesse do governo. Ele sairia das sombras para a má fama após ser filmado negociando com um empresário do ramo de jogos propina para subvencionar campanhas políticas. Seria o primeiro grande escândalo no governo Lula.

HUMBERTO TREZZI/ZERO HORA
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