| 31/05/2006 13h24min
O advogado Sérgio Wesley Cunha, preso por desacato à autoridade durante acareação na CPI do Tráfico de Armas, pode sair do episódio sem denúncia formal contra ele. Ele ameaça processar os integrantes da comissão e a Câmara dos Deputados por abuso de autoridade, calúnia e difamação.
Passada uma semana do episódio, o acusado pelos deputados de ser pombo-correio do crime organizado continua solto. Nesta quarta, se reúne com seu advogado, Ademar Gomes, da Associação dos Advogados Criminalistas de São Paulo (Acrimesp), para discutir ações contra os deputados e aguarda notas taquigráficas do depoimento e da acareação para sair da defesa para o ataque. Gomes confirma que haverá uma ação contra os deputados.
– Não há justificativa legal para que eles me denunciem. Eles me acusam de corrupção ativa, mas não têm provas. O próprio funcionário da Câmara diz que eu não paguei nada pelo CD e não prometi pagar nada depois – diz Sérgio Wesley.
O advogado é acusado de ter comprado de Arthur Vinícius Pilastre Silva, funcionário terceirizado da Câmara federal, cópia do conteúdo reservado dos depoimentos do delegados do Departamento de Investigações Criminais (Deic) de São Paulo à CPI do Tráfico de Armas. Com ele estava também a advogada Maria Cristina Rachado, que defende Marcos Camacho, o Marcola, acusado de liderar o crime organizado no Estado.
O advogado afirma que estuda processar os deputados por abuso de autoridade, injúria e calúnia e responsabilizar a Câmara dos Deputados. Um dos motivos é ter sido preso durante a acareação. Ele diz que o crime de abuso de autoridade não é passível de prisão. E argumenta que, embora tenha saído algemado do plenário, acabou sendo liberado depois de assinar apenas um termo circunstanciado.
– Foi uma farsa. Não existe prisão por desacato, muito menos seria necessário eu sair algemado. Eles prepararam tudo para a foto. Não tinha por onde eu sair ou fugir – reclama.
Wesley afirmou que apenas reagiu a uma provocação do deputado Arnaldo Faria de Sá:
– Fui enxovalhado. Ninguém tem sangue de barata-resume.
Acusado durante a acareação de ser advogado da facção criminosa que comandou os ataques terroristas a São Paulo, Sérgio Wesley afirma que a acusação é improcedente, pois não existe a figura jurídica da facção. Segundo ele, tampouco cabe a argumentação dos deputados de que o conteúdo da fita possa ter contribuído para a rebelião nos presídios ou para os ataques em São Paulo.
Sérgio Wesley argumenta que uma transferência do porte da anunciada pela Secretaria de Administração Penitenciária de São Paulo, de mais de 700 presos, não seria feita em dois dias.
– Já estava sendo preparada há muito tempo – declarou.
A CPI que investiga o tráfico de armas volta a se reunir nesta quarta-feira. O presidente da comissão, Moroni Torgan, vai pedir a prorrogação do prazo de funcionamento por mais 11 dias. Há ainda pedidos para que sejam convidados a depor o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, e o diretor geral da Polícia Federal, Paulo Lacerda.
AGÊNCIA O GLOBO