| 07/03/2005 20h59min
A Comunidade Sul-Americana de Nações, formada por 12 países, deu nesta segunda, dia 7, seu "mais firme respaldo" ao presidente boliviano, Carlos Mesa, na sua tentativa de manter a democracia naquele país. Mesa apresentou nesta segunda sua renúncia ao Congresso, que agora deve decidir se a aceita ou não.
Em uma declaração conjunta emitida em Lima, durante uma reunião de vice-chanceleres do continente, os países pediram ao chanceler peruano e secretário da comunidade, Manuel Rodríguez, que transmita esse respaldo a Mesa. O grupo defendeu Mesa, no governo há apenas 16 meses, "no seu objetivo de manter e consolidar a institucionalidade democrática da Bolívia e de encontrar uma solução para a crise que vive neste momento esse país irmão, que marque o início da conciliação nacional".
Paralelamente, o governo do Brasil manteve na segunda-feira conversas telefônicas com altos funcionários de Bolívia, Argentina e Uruguai, tentando articular uma posição conjunta da região para dar estabilidade à frágil democracia boliviana. Marco Aurélio Garcia, assessor de Política Externa do Palácio do Planalto, disse que conversou com o ministro da Presidência da Bolívia, Juan Galindo, com o vice-chanceler argentino, Jorge Taiana, e com o chanceler uruguaio, Reinaldo Gargano.
– Estamos convencidos de que o mais importante para a Bolívia é que possam ser asseguradas as instituições – disse Garcia.
Ele acrescentou que a renúncia apresentada por Mesa ao Congresso funciona "como um pedido de voto de confiança" e que, pelas informações que recebeu, os funcionários do governo boliviano "estão tranquilos". O Brasil tem importantes investimentos na Bolívia, e só os negócios da Petrobras representam 15% do PIB boliviano. O governo do México também se manifestou a favor de uma saída democrática na Bolívia.
– O único que o México sempre espera nestas situações é que qualquer que seja a decisão que tome o país, independentemente, seja sob os limites democráticos e que sua própria Constituição estabelece – disse o porta-voz da chancelaria, Allan Nahum.
Já o porta-voz do Departamento de Estado norte-americano, Richard Boucher, afirmou que Washington espera "que a atual crise política seja resolvida de maneira pacífica e democrática, consistente com a Constituição boliviana".
– Conclamamos os líderes políticos da Bolívia a trabalharem juntos para alcançar um consenso nacional em favor de uma Bolívia mais estável e próspera.
Mesa, que chegou ao poder em outubro de 2003, depois de uma sangrenta revolta popular que levou à renúncia de Gonzalo Sánchez de Lozada, disse que não terá como se sustentar durante um bloqueio nacional que está sendo preparado pelo Movimento ao Socialismo, liderado pelo deputado indígena Evo Morales. O presidente boliviano assegurou que não está disposto a reprimir esses protestos. Os parlamentares bolivianos deverão decidir se aceitam a renúncia e, conseqüentemente, se mantém a linhagem constitucional ou convocam eleições.
O presidente peruano, Alejandro Toledo, que preside a Comunidade Sul-Americana e a Comunidade Andina de Nações, disse que espera que o Congresso boliviano rejeite a renúncia de Mesa para que a região mantenha a estabilidade democrática.
– Espero que o Congresso boliviano ratifique, reafirme a continuidade de seu presidente. Acho vital dar estabilidade para a governabilidade democrática na região, e vejo que ele está fazendo seu trabalho. Não me meto nos assuntos políticos internos, mas isso é de enorme importância em termos de governabilidade regional – disse Toledo a uma rádio peruana.
Já o secretário-geral da Comunidade Andina, Allan Wagner, emitiu um comunicado dizendo que Mesa "assumiu a Presidência em circunstâncias extremamente complexas e vem exercendo suas elevadas funções com grande compromisso democrático, inteireza moral e visão de futuro para a Bolívia". Ele acrescentou que o bloco andino "está disposto a fazer tudo o que estiver ao seu alcance" para fortalecer sua participação nos processos de integração andina e sul-americana e para garantir a governabilidade da Bolívia.
O presidente argentino, Néstor Kirchner, entrou em contato durante a manhã com Mesa e lhe deu seu apoio, segundo uma fonte da Casa Rosada. A Comunidade Sul-Americana de Nações foi criada em dezembro na cidade peruana de Cuzco. Ela é formada por Brasil, Argentina, Venezuela, Colômbia, Peru, Chile, Equador, Bolívia, Paraguai, Uruguai, Suriname e Guiana.
As informações são da agência Reuters.
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