| 04/02/2005 19h50min
Os arrozais do Rio Grande do Sul enfrentam um paradoxo climático. Enquanto o sol escaldante do verão garante a luminosidade perfeita para o desenvolvimento dos grãos, a estiagem faz evaporar açudes e barragens, tornando escassa a água para irrigação. A situação é crítica porque mais da metade do 1,03 milhão de hectares semeados estão na fase reprodutiva ou de maturação, nas quais a abundância de água é fundamental para a cultura.
Na Fronteira Oeste, os produtores estão exasperados. Rezam por chuvas forte nas próximas duas semanas. Se isso não ocorrer, podem abandonar até 15% da mais vasta área dedicada ao arroz do Estado, com 279 mil hectares. Em São Gabriel, com 30 mil hectares de lavoura, a seca é considerada a pior dos últimos 35 anos.
– Esse é um período intermediário da produção, e as lavouras já estão no limite. Os próximos 15 dias são cruciais. O produtor vai olhar mais para o céu do que para o chão – diz o presidente do Instituto Riograndense do Arroz (Irga), Pery Sperotto.
O começo de 2005 não tem sido mesmo fácil para os arrozeiros. Se na maior parte do Estado falta água, onde ela sobra o problema é outro. À beira de um dos maiores reservatórios de água doce do planeta, os produtores com lavouras entre Pelotas e São Lourenço do Sul enfrentam um grau de salinização da Lagoa dos Patos raramente visto.
Conjugado à seca, o efeito do avanço do mar sobre a lagoa é devastador para o arroz. Como a estiagem faz minguar os afluentes, a água agora salgada da lagoa invade os arroios, dando uma coloração esverdeada aos mananciais. Porém, o mesmo fenômeno que transforma a paisagem vai matando pouco a pouco as lavouras. Sem alternativas, os produtores estão parando de bombear água.
– Não sei o que é pior: ver tudo seco na volta ou a água logo ali e a gente sem poder puxar – resigna-se o arrozeiro Eduardo Ribeiro, de Pelotas.
A esperança dos produtores reside na chegada de um velho conhecido dos gaúchos: o El Niño. As previsões meteorológicas apontavam o surgimento do fenômeno climático ainda na primavera e um verão chuvoso. Com base nisso, muitos adiantaram a semeadura dos campos.
– Fomos traídos pelo atraso do El Niño – afirma Sperotto.
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