| 19/11/2003 19h09min
O anúncio do corte de 1,5 ponto percentual na taxa de juros, que agora passa a 17,5% ano ano, superou as expectativas mantidas pelo mercado até a véspera da decisão do Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom). Já na manhã desta quarta, dia 19, com a divulgação de índices que confirmaram a desaceleração da inflação, economistas passaram a apostar em um corte mais acentuado, o que acabou ocorrendo. Com esta redução – sem viés (o que só permite novas alterações na taxa na próxima reunião do Copom), a Selic já acumula uma baixa de nove pontos percentuais nos últimos seis meses.
Os medidores de inflação anunciados nesta quarta foram o Índice de Preços ao Consumidor Amplo-15 (IPCA-15), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que teve variação de 0,17% em novembro, resultado inferior ao de outubro (0,66%); o Índice de Preços ao Consumidor (IPC) da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), de 0,37% na segunda quadrissemana de novembro, o menor registrado desde a terceira quadrissemana de agosto; e o Índice Geral de Preços-10 (IGP-10), com alta de 0,45% em novembro, inferior aos 0,67% do mês anterior.
A desaceleração da inflação também influenciou uma forte baixa nas projeções dos juros negociados na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F). Segundo operadores, o mercado já trabalha com novos cortes da Selic nos próximos meses e a expectativa de juro para janeiro cai de 17,75% para cerca de 17,65% ao ano.
Poucas horas antes do anúncio do Copom, o vice-presidente José Alencar voltar a disparar contra as taxas de juros no Brasil. Segundo ele, os percentuais mantidos são um "despropósito", se comparados ao mercado internacional e que baixá-los é uma decisão política.
– Isso é uma decisão eminentemente política, razão pela qual precisamos convencer politicamente as pessoas que estão obviamente cuidando desta área, porque do contrário vamos pagar tanto juro, que a nossa dívida vai crescendo – avaliou, acrescentando que as taxas atuais fazem com que o superávit, mesmo alto, somente cubra 50% dos juros da dívida pública.
Para Alencar, a compatibilidade com o mercado internacional seria uma taxa real (Selic menos inflação) de 3%, ao ano, para "começar". Mesmo assim, observou, esse percentual seria, no mínimo, três vezes superior às taxas praticadas por 20 países.
– Então, porque pagar taxa despropositada? Essa é a minha briga – observou.
Alencar lembrou que, com taxas de juros incompatíveis com a atividade produtiva é difícil conseguir o crescimento nos patamares que o Brasil precisa. Questionado se está difícil convencer a equipe econômica a reduzir as taxas de juros, o vice-presidente citou o ditado popular que diz que "água mole em pedra dura tanto bate até que fura".
– Nós esperamos que essa água bata e não fure, limpe – concluiu.
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