| 09/11/2002 18h14min
O clima de cordialidade que por enquanto envolve a passagem de comando no Palácio Piratini não reduz a periculosidade dos temas explosivos negociados durante a transição. A torrente de polêmicas nasce na confusa situação financeira do Estado, passa pelo futuro do Orçamento Participativo (OP), contorna os planos de expansão da Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (Uergs) e deságua no imbróglio previdenciário. Enquanto o desatar de nós não atrapalhar, a tônica será a serenidade.
Além de a transição em Brasília – tocada por Fernando Henrique Cardoso para ser um atestado de amadurecimento institucional do Brasil – funcionar como um parâmetro de civilidade, Olívio Dutra (PT) quer encerrar o mandato de uma maneira distinta do início tumultuado, quando sequer recebeu o governo do antecessor, Antônio Britto (PPS).
– Queremos que a transição recupere o que não ocorreu em 1998. Tenho certeza de que vai ser possível, pois já aceitamos o resultado da eleição – assegura Olívio.
A lembrança de 1998 não está apagada. Guilherme Cassel acompanhou os percalços de quatro anos atrás e agora integra a equipe encarregada pelo PT de negociar a transição. Na sexta-feira, quando o grupo de Olívio entregou aos assessores de Rigotto oito volumes com 2 mil páginas de informações de 80 secretarias, fundações e autarquias, Cassel lembrou com ironia a escassez da posse:
– Olha, é muito mais do que recebemos, porque nós não recebemos nada.
Pelo lado de Germano Rigotto (PMDB), o entendimento das tratativas iniciais é desdobramento natural da postura conciliatória adotada pelo candidato ao longo da campanha. Um dos integrantes da equipe do PMDB, João Carlos Brum Torres, avisa que a concórdia, no entanto, tem um limite:
– A preocupação com o entendimento não significará o encobrimento da realidade.
A situação das finanças está entre os temas que podem desmanchar a sintonia. Tanto que o próximo passo prático da transição será uma reunião de trabalho entre as equipes e o titular da Secretaria da Fazenda do Estado, prevista para os próximos dias. Sem perder a linha diplomática, Brum Torres preferiu não adiantar comentários sobre as contas públicas gaúchas antes de “compulsar as peças”.
De acordo com Cassel, não será por falta de informação que algum impasse vai se instalar na relação entre as equipes, uma vez que o futuro governo já tem acesso aos dados de que necessita para analisar a execução do Orçamento. Olívio entregou a Rigotto uma senha de consulta ao sistema Administração Financeira do Estado, que garante o acompanhamento on-line de gastos e receitas.
– Não há informação sobre finanças a que o governo Olívio tenha acesso e o governador Rigotto não tenha – assegura Cassel.
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