| 26/06/2002 07h48min
O procurador-geral da República, Geraldo Brindeiro, deve pedir até a próxima semana ao Supremo Tribunal Federal (STF) a abertura de inquérito para apurar o envolvimento do presidente do PT, deputado José Dirceu (SP), num suposto esquema de cobrança de propina na prefeitura de Santo André (SP) para favorecer campanhas eleitorais petistas. Brindeiro deu a informação após se encontrar com o procurador de Justiça de São Paulo, Luiz Antônio Marrey. Segundo ele, as denúncias “são muito graves” e precisam ser apuradas.
Brindeiro e Marrey admitiram que o juiz que autorizou a Polícia Federal (PF) a fazer escuta telefônica na prefeitura de Santo André cometeu uma ilegalidade. Segundo eles, antes de uma decisão desse tipo, ele deveria ter ouvido o Ministério Público (MP). Marrey disse que vai pedir cópias das transcrições da escuta para decidir se pede anulação da escuta como prova ou não.
– Depois de ter lido nos jornais a existência de escuta, mandei verificar se tínhamos conhecimento desse fato. A informação que recebi é que não. Não tomamos conhecimento nem antes nem depois. Creio que esse procedimento é ilegal – disse o promotor.
A escuta foi autorizada pelo juiz-corregedor do Departamento de Inquéritos Policiais (Dipo), Maurício Lemos Porto Alves, a pedido da PF, em inquérito sobre tráfico de drogas, segundo acusação feita pelo PT. Para Marrey, a falha de não ouvir os promotores foi do juiz. Brindeiro confirmou ainda a possibilidade de ocorrência de outra ilegalidade, a escolha do foro para a obtenção da ordem judicial de quebra do sigilo telefônico.
– A Polícia Federal tem de se dirigir à Justiça Federal, e não à estadual – observou.
O procurador de Justiça negou que as investigações devam levar em conta repercussões políticas em ano de eleições:
– É bom deixar claro, de uma vez por todas, que o Ministério Público vai continuar a trabalhar, queiram ou não, porque não tem nada a ver com a questão eleitoral.
Em Santo André, o irmão do prefeito Celso Daniel, o oftalmologista João Francisco Daniel, que denunciou na semana passada a suposta cobrança de propina, deverá ser ouvido nesta quarta-feira, dia 26, na CPI da Câmara Municipal que apura as denúncias. Depois, a CPI ouvirá Rosângela Gabrilli e seu irmão, João Alberto Gabrilli, da família que administra a Viação São José de Transportes Ltda. Rosângela afirmou ao MP que a propina foi paga desde 1997.
Os depoimentos dos três poderão ser sigilosos se os membros da CPI assim decidirem ou se algum dos depoentes pedirem. A partir de hoje, eles deverão ter escolta policial. Ontem, os vereadores receberam cópias dos depoimentos sigilosos sobre o caso, enviados pelo MP. Começaram de imediato a ler os documentos para preparar as perguntas aos depoentes.
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