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 | 04/02/2011 12h16min

Líder supremo iraniano quer um regime islâmico no Egito

Em discurso, Khamenei atacou Mubarak, chamando o presidente de "servo" de Israel e dos Estados Unidos

O líder supremo iraniano, aiatolá Ali Khamenei, pediu nesta sexta-feira que os egípcios adotem um regime islâmico em seu país, afirmando que as recentes revoltas no mundo árabe são um "terremoto" provocado pela revolução iraniana de 1979.

Khamenei disse que as rebeliões nos países árabes, se forem bem sucedidas, farão as políticas americanas para a região falharem, e que as revoltas estão causando preocupações em Israel, que perderia a aliança com o Egito.

— Não desistam até a implementação de um regime popular baseado na religião. (...) O clero deve ter um papel, por exemplo, quando as pessoas saem das mesquitas gritando slogans, eles devem apoiá-las. Inshallah (Deus queira) que parte do exército egípcio se una à população disse Khamenei em árabe, como parte de seu sermão de sexta-feira, direcionado aos egípcios.

Foi a primeira vez em sete meses que Khamenei fez o discurso da sexta-feira de orações, e ocorre no dia que os manifestantes no Egito chamaram de "dia da partida", para forçar a saída do presidente Hosni Mubarak.

Teerã, que cortou as relações com o Cairo em 1980, apoiou a revolta no Egito e alertou Washington contra "interferências" no que considera um movimento da população.

— Os eventos de hoje na África do Norte, Egito e Tunísia e outros países têm diferentes significados para nós — disse Khamenei na Universidade de Teerã, onde milhares de fiéis reuniram-se para ouvir o guia espiritual da nação.

— Isso é o que foi discutido durante a revolução iraniana, no nascimento da nossa grande nação e está se mostrando hoje. (...) Nossa revolução foi capaz de inspirar e ser um modelo, por conta da perseverança, estabilidade e insistência nos princípios", disse à multidão que gritava slogans como "Morte à América! Morte a Israel!".

Khamenei afirmou ainda que a revolução iraniana mostrou o que é "independência política e (habilidade) para resistir aos inimigos".

— Hoje no Egito as pessoas podem ouvir nossa voz ecoando por lá. O presidente americano que estava no poder durante a revolução (iraniana) disse em uma entrevista que o que está vendo no Egito lhe é familiar. O que ocorre no Cairo hoje foi visto em Teerã durante os dias em que ele estava no poder — afirmou Khamenei, referindo-se ao ex-presidente Jimmy Carter.

Ele disse que as revoltas no mundo árabe são "um terremoto real" que, caso tenham sucesso, levarão à falha das políticas americanas no Oriente Médio. Khamenei atacou Mubarak, chamando o presidente de "servo" de Israel e dos Estados Unidos.

— Por 30 anos, este país (Egito) esteve nas mãos de alguém que não está buscando liberdade e é o inimigo daqueles que buscam, disse o líder islâmico.

— Não apenas ele não é anti-sionista, como é companheiro, colega, confidente e servo de sionistas. É fato que a servidão de Hosni Mubarak à América foi incapaz de colocar o Egito no caminho da prosperidade.

Khamenei também falou que Israel tem de ficar preocupado com a rebelião no mundo árabe. O predecessor de Mubarak, Anwar Sadat, assinou um tratado de paz com Israel em 1979, quando o Egito obteve de volta todas as terras ocupadas por Israel em 1967 na guerra do Oriente Médio.

As relações entre Teerã e Cairo foram cortadas em 1980 depois da Revolução Islâmica no Irã e com o reconhecimento do Estado de Israel pelo Egito. Khamenei disse que os cálculos do Ocidente para a região foram equivocados e citou a controvérsia nuclear com Teerã como um exemplo da "política do erro" feita pelas potências ocidentais.


>>>Confira a cronologia dos incidentes:

De 24 de janeiro a 3 de fevereiro:

Um homem de 50 anos toca fogo em si mesmo em frente ao Parlamento, no Cairo, numa possível reprodução do suicídio de um jovem tunisiano em meados de dezembro que desencadeou a revolta e subsequente derrubada do presidente Zine El Abidine Ben Ali. Nos dias seguintes, mais três egípcios fazem o mesmo — um deles, de 25 anos, não resiste aos ferimentos e morre.

 
Foto: Martin Bureau, AFP

Dia 25:

Insuflados pelo líder da oposição, Mohamed ElBaradei, milhares de pessoas tomam as ruas do Egito pedindo a renúncia do presidente do país, Hosni Mubarak. Nos confrontos com a polícia, dois manifestantes morrem em Suez e um policial é morto no Cairo.

Dia 26:

As manifestações se espalham dos grandes centros para cidades menores, aumentando em número e violência. No Cairo, um policial e um manifestante são mortos, enquanto em Suez 55 protestantes e 15 homens da força anti-motim são feridos.

Dia 27:

Diante do saldo violento, com mais um jovem morto em Sinai, a Casa Branca cobra providências do governo do Cairo para evitar os embates, enquanto a União Européia chama atenção para o direito de protestas da população.

Dia 28:

O saldo da violência chega a 13 mortos, centenas de feridos e quase mil presos. Os protestos aumentam e manifestantes tocam fogo no prédio do governo em Alexandria e na sede do Partido Democrático Nacional. Os serviços de internet são derrubados e ElBaradei diz que está pronto para liderar a transição, enquanto Mubarak impõe toque de recolher e promete reformas.


 
Foto: Reprodução, Egyptian TV

Dia 29:

O presidente egípcio, Hosni Mubarak, designou um vice-presidente, o chefe da inteligência Omar Suleiman, pela primeira vez em 30 anos, e um novo primeiro-ministro, ambos com cargo de general, para tentar sufocar a rebelião já deixa mais de 90 mortos.

Dia 30:

O presidente egípcio, Hosni Mubarak, visitou um centro de operações do exército e ordenou que o toque de recolher no Cairo, Alexandria e Suez seja ampliado em uma hora. O toque de recolher, instaurado na sexta-feira devido aos protestos da população para exigir a renúncia de Mubarak, foi gradualmente ampliado, mas não é respeitado pela população. Neste domingo, as autoridades egípcias ordenaram à polícia antimotins que volte a atuar em todo o país, depois de dois dias nos quais esteve virtualmente ausente, quando ocorreram diversos saques enquanto o exército lidava com uma revolta popular.

Dia 31:

O movimento contra o regime convocou uma greve geral por tempo indeterminado. Durante a manhã, a emissora estatal egípcia anunciou a formação de um novo governo no país, substituindo o governo dissolvido na sexta-feira. Na mudança mais significativa, o criticado ministro do Interior — responsável pelas forças de segurança — foi substituído.

O exército anunciou que não usará a força contra os manifestantes e declarou que considera as demandas do povo "legítimas". O último provedor de internet egípcio ainda em funcionamento, o Grupo Noor, caiu nesta segunda-feira, deixando o país sem acesso à rede.

Dia 1º:

No oitavo dia de intensos protestos anti-governamentais, mais de 1 milhão de pessoas saíram às ruas de todo país protestando contra o governo, na chamada "Marcha do Milhão". Os conflitos podem ter deixado cerca de 300 mortos, segundo a ONU. No poder desde 1981, o presidente egípcio, Hosni Mubarak, garantiu que não irá tentar a reeleição, em discurso transmitido pela emissora de TV estatal.

Dia 2:

Pela manhã, 500 partidários do presidente egípcio Hosni Mubarak se reuniram no Cairo para manifestar apoio ao governante. O vice-presidente, Omar Suleiman, pediu que manifestantes voltassem para casa devido aos confrontos violentos entre partidários e adversários do presidente. No fim da noite, o Ministério da Saúde do país confirmou três mortos e 639 feridos nos confrontos entre apoiadores e opositores do regime egípcio na Praça Tahrir. Apesar do número oficial, a rede Al Jazeera e jornais como The Guardian e El País falavam em mais de 1,5 mil feridos.

Dia 3:

No 10º dia de protestos no Egito, o presidente Hosni Mubarak, disse em entrevista à rede de TV americana ABC que deseja deixar o poder, mas teme o caos que pode ser criado caso o faça. Já a Coalizão Nacional pela Mudança, que reúne os principais grupos de oposição do Egito, rejeitou qualquer diálogo com o regime antes da renúncia de Mubarak. A secretária de Estado americana, Hillary Clinton, pediu ao governo e à oposição que comecem "imediatamente" negociações sérias para uma transição. No acesso à ponte que leva à Praça de Tahrir, onde estão os manifestantes, foram montadas barreiras. Nas ruas de Cairo, muito civis armados.

AFP
 
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