Faz 24 dias que o eletricista Emerson Oliveira Micheli, 36 anos, cumpre a mesma rotina ao chegar a sua oficina mecânica na Estrada Edgar Pires de Castro, na zona sul de Porto Alegre. A primeira providência, às 8h, é pegar o boneco que batizou de João Quebra-molas e colocá-lo à beira da via.

Tendo em vista reduzir a velocidade dos carros que passam por ali, o estratagema funciona. Os motoristas chegam a frear ao verem o boneco, vestido de azul como um agente da Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC), com colete reflexivo e uma velha câmera fotográfica na mão imitando um radar móvel.

— O pessoal até que tá respeitando o boneco — comemora Micheli.

A reclamação dos moradores da região, no bairro Lageado, é da alta velocidade dos veículos que passam pela estrada. Micheli relata que alguns automóveis passam a mais de 80 km/h. A EPTC informou que a velocidade máxima na via é de 60 km/h. O eletricista diz que a presença do João Quebra-molas produz efeito na maneira de dirigir dos condutores.

— Ele até tá amenizando um pouco (a velocidade dos carros).

Junto ao personagem há uma placa com fotos de acidentes tiradas por Micheli e um abaixo-assinado pedindo um quebra-molas. Ele conta que faz imagens de todos os atropelamentos e colisões que ocorreram durante seu período de trabalho na oficina. Um desses acidentes deixou o aposentado Tranquilo Pivetta, 92, três meses sem caminhar direito.

— Ninguém viu o carro. Eu estava no acostamento quando ele veio e não parou. Me pegou nas pernas e nas costas. Quase me descadeirou, e eu fiquei bem desmaiado. Ainda bem que um pessoal me ajudou.

Há nove anos morando na região, Pivetta apoia o protesto do eletricista. Ele concorda que é necessário instalar um quebra-molas.

A EPTC confirma a ocorrência de acidentes na área e informa que reforçará a sinalização na via, cujo grande problema, ressalta, é a alta velocidade dos veículos. A empresa salienta que será estudada a colocação de um radar móvel no local.

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