| 28/02/2011 12h40min
Antes da apresentação do motorista responsável pelo atropelamento de dezenas de ciclistas na Cidade Baixa, na última sexta-feira, a Polícia Civil escutou, nesta manhã, o depoimento de cinco das vítimas atingidas pelo carro. O ciclista Moisés Rodrigues sofreu lesões nas costas devido ao atropelamento. Em depoimento, ele afirmou que não houve qualquer ameaça ao motorista Ricardo Neis, 47 anos.
Rodrigues contou que ouviu um estouro e viu Neis usar o carro "como uma patrola":
— Minha sorte é que eu estava com capacete. Não foi atropelamento, foi tentativa de homicídio — disse.
Integrante do grupo Massa Crítica, Eduardo Fernandez Iglesias afirmou que o movimento é pacífico e corroborou o depoimento do colega ao dizer "nunca houve agressão". Com quatro pontos na cabeça, hematomas no braço esquerdo e nas costas, ele relatou que, quando ouviu a gritaria, o carro já estava em cima dele:
— A grande sorte é que no dia estava para chover, por isso ninguém levou nenhum bebê. Tenho uma filha de nove anos que, se tivesse junto comigo, poderia estar morta.
Ciclistas pretendem protestar na terça-feira
Um vídeo divulgado na internet mostra que as primeiras reações dos ciclistas do movimento Massa Crítica depois do atropelamento foram de choque. A incredulidade persistia ontem, quando o grupo se reuniu em um casarão da Rua Marcílio Dias, em Porto Alegre, e decidiram por um novo protesto às 19h de terça-feira, partindo do Largo Zumbi dos Palmares.
O empresário Igor Oliveira, 23 anos, conta que sumiram da sua memória os cinco minutos que se seguiram ao momento em que o motorista do Golf arremeteu contra o grupo.
— Eu fiquei em estado de choque. Ficou todo mundo fora de si — conta.
Quando os cerca de cem ciclistas ingressaram na José do Patrocínio, outro participante, Marcos Rodrigues, 27 anos, percebeu o conflito com o motorista do Golf, o primeiro da fila de carros. Rodrigues, que mantém com seis colegas um serviço de entregas feitas de bicicleta, afirma que o condutor começou a jogar o veículo para cima das bicicletas, tentando abrir caminho.
— Ninguém agrediu ou encostou no carro dele. Só pediram calma — diz.
Dez minutos depois, perto da Rua Luiz Afonso, Rodrigues viu o carro avançando na direção dele, enquanto colegas e bicicletas voavam. Ele próprio foi arremessado e perdeu os sentidos. Acordou minutos depois, no chão. A maior preocupação foi com a batida na cabeça. Levado ao Hospital de Pronto Socorro, teve alta perto da meia-noite. Com sequelas da queda e a bicicleta avariada, não sabe quando poderá retomar o trabalho:
— Não tenho como pedalar. E o problema não é só o abalo físico, tem também o psicológico.
Os ciclistas afirmam que o motorista poderia, na medida em que a manifestação avançava, ter tomado alguma das ruas transversais à José do Patrocínio para desviar do bloqueio. A estudante Lenise Corrêa, 21 anos, lembra que, na Rua da República, de mão dupla, ele tinha chance de tomar dois sentidos. No entanto, continuou atrás das bicicletas. Para integrantes do Massa Crítica, isso revelaria uma intenção deliberada de confronto.
Assista aos vídeos feitos logo após o atropelamento:
Veja no mapa o local do acidente:
Exibir mapa ampliado
Motorista se apresentou para prestar depoimento à Polícia Civil nesta manhã
Foto:
Emílio Pedroso
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Agência RBS
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