| 26/11/2008 07h10min
Muitas vezes, os altos e baixos na carreira de um jogador de futebol ensinam a enfrentar os desafios mais complicados. Quem já viveu a experiência do rebaixamento pode ter, na lembrança da agonia experimentada no passado, uma arma importante para evitar que o sofrimento se repita. No grupo do Figueirense, o meia Rodrigo Fabri sabe bem o que é isto.
O gosto doce dos títulos, regional, nacional (no Brasil e no exterior) e internacional; de vestir a camisa da Seleção Brasileira, de ser o melhor jogador da sua posição e artilheiro de Campeonato Brasileiro. E o gosto amargo do rebaixamento, com o Atlético-MG, em 2005, e com o Paulista (da Série B para a Série C), em 2007.
No meio disto tudo, aprendeu lições que podem ser importantes neste momento em que o Figueira tenta escapar da degola. Aos 32 anos, é um dos jogadores mais experientes do grupo e tenta passar aos mais jovens o aprendizado acumulado ao enfrentar os obstáculos que os caminhos do futebol colocaram em seu caminho.
Um deles será ficar de fora de uma decisão para o Figueirense. Trata-se da penúltima rodada do Brasileirão, às 17h deste domingo, no jogo contra o Botafogo. O meia foi expulso na vitória sobre o Náutico, na última quinta-feira e cumprirá suspensão na partida contra o alvinegro carioca. Este foi um dos pontos destacados pelo meia em entrevista concedida ao Diário Catarinense.
Veja abaixo a íntegra da entrevista concedida por Rodrigo Fabri:
DC: Como foi o momento da expulsão diante do Náutico? Em algum momento passou pela sua cabeça que corria o risco de ser expulso por aquele carrinho?
Fabri: Realmente foi uma falta forte, mas não para expulsão, pelo conjunto da obra. Tinha acabado de entrar no jogo, não tinha feito nenhuma falta, visei à
bola, tanto que o carrinho não foi por trás, foi lateral. Eu realmente matei o contra-ataque do Náutico,
que seria perigoso, eles estariam em quatro contra dois, mas, na minha ótica, era lance para cartão amarelo. E ele (o árbitro da partida, Wallace Nascimento Valente, do Espírito Santo) ia dar o amarelo, ele puxou o cartão do bolso da frente e quando chegou perto de mim, ele colocou a mão no bolso de trás e eu me desesperei: "Não acredito que ele vai me expulsar!".
DC: Houve um lance no jogo entre Inter e Fluminense, no final de semana, muito parecido, um carrinho do Daniel Carvalho em cima do Fabinho, e ele realmente não foi expulso.
Fabri: Tem acontecido muito isso, muitos lances parecidos com critérios diferentes. Foi um ano difícil para o Figueirense em termos de arbitragem. Perdemos muitos pontos em erros pontuais dos árbitros, não foi nem em lances polêmicos, foram em erros claros, mesmo, que todo mundo viu, e não ganhamos nenhum ponto, por outro lado. Isso faz diferença. É um ano difícil, em que tudo está atrapalhando, a gente está dando azar
na hora de o árbitro decidir o
lance, ele está decidindo em favor do adversário.
DC: Aliás, é um ano ruim para você, pessoalmente, já que você sofreu com lesões o ano inteiro e não conseguiu mostrar o seu melhor.
Fabri: Eu tenho que lamentar, porque este ano, tudo o que pode acontecer de ruim está acontecendo comigo. Tive muitas lesões, não tive uma seqüência de jogos, não consegui render o que eu quero render, o que todo mundo espera, porque as lesões me atrapalharam demais. Foram cinco lesões musculares e uma no tornozelo, então não tem como você ter ritmo assim, machucando tanto.
DC: E como é ficar de fora de um momento decisivo como este?
Fabri: Foi mais um baque que eu tomei, ficar de fora no momento em que todo mundo está precisando. Eu não esperava ser expulso naquele lance, se eu soubesse que ia ser expulso, lógico que eu não daria o carrinho, mas no vestiário todo mundo falou: "Caramba, se você não dá aquele
carrinho, ia ficar quatro contra dois!". Mas eu cheguei no
vestiário arrasado, porque eu pensei: poxa, no momento em que mais o time precisa, eu vou ficar fora. Mas vou voltar contra o Inter e espero que eu possa ajudar dentro de campo.
DC: Contra o Botafogo, você não estará em campo, mas pode ajudar fora dele, afinal, esta situação difícil de encarar a fuga do rebaixamento você já viveu em outros momentos da carreira.
Fabri: Isso foi usado, da minha parte e da parte de outros jogadores mais experientes, antes do jogo contra o Náutico. A confiança nossa estava muito baixa, mesmo, e isso foi usado e a gente vê a reação do time, né. Eu passei para eles uma experiência que eu tive no Atlético Mineiro, em 2004, quando o time se salvou na última rodada também. A gente tinha três jogos para fazer e precisávamos de sete pontos, quase a mesma situação aqui do Figueira. Tínhamos dois jogos em casa, contra Paysandu e São Caetano, na última rodada, e tínhamos um jogo fora contra o Grêmio. Tinha que ganhar dois jogos e
empatar um e o nosso time
estava mal, horrível, bem pior do que o Figueira estava. Empatamos o primeiro jogo, contra o Paysandu, que era confronto direto, a gente tinha que ganhar, e o jogo ficou no 0 a 0. Aí todo mundo falava que já tinha caído e nós jogadores falávamos: enquanto tivermos chance, vamos lutar até o final. Aí fomos jogar contra o Grêmio, com o time de cabeça baixa, e conseguimos uma vitória. Nesta vitória e no empate nós conseguimos passar à frente do 17º lugar, trocamos de posição e jogamos a última partida dependendo só do próprio resultado. Aí, com o Mineirão lotado com 80 mil pessoas, nós conseguimos nos livrar.
DC: É o que pode acontecer agora, porque, dependendo da combinação de resultados, o time pode terminar a próxima rodada fora da zona de rebaixamento.
Fabri: Exatamente. Naquela penúltima rodada, aconteceu tudo em favor do Atlético e pode voltar a acontecer. Agora está mais fácil ainda, porque tem um confronto entre Náutico e Atlético Paranaense, e
depois o Atlético tem uma
pedreira que é jogar contra o Flamengo, com o Flamengo dependendo do resultado para ficar com a vaga na Libertadores. E a gente tem que dar uma secadinha em um jogo especial aí que é o do Santos jogando fora de casa com o Atlético Mineiro. Se ele perder, na última rodada ele tem que jogar com o Náutico na Vila para vencer. Então, o Figueirense vencendo os dois jogos, o que é bem possível, até pela situação que o Botafogo e o Inter estão vivendo. E eu acredito que vai dar tudo certo para a gente e a gente vai escapar, repetindo a história do Atlético Mineiro.
DC: Além disso, outra condição favorável é o fato de que o clima, hoje, no grupo, é outro, né, é positivo, pelo menos é o que parece para quem vê de fora.
Fabri: E é isso mesmo. O clima antes do Náutico tinha muito jogador de cabeça baixa, com muita dúvida sobre o que iria acontecer. Agora não, uma vitória abriu uma luz no fim do túnel para a gente e voltou um pouco da confiança que estava
faltando.
DC: O
clima, antes do jogo com o Náutico, então, era exatamente o que você viveu em alguns clubes que passaram por momentos assim, com o Paulista, o Grêmio.
Fabri: É a mesma coisa, mas a gente sabe que só termina no dia 7 de dezembro. Enquanto tiver chance, não tem como deixar de lutar por ela. Era isso que a gente passava, em uma hora dessas, aos jogadores, principalmente os mais jovens, que são os que estavam jogando e são os que mais se abatem em um momento desses. Às vezes uma palavra, tirando a responsabilidade deles, por serem jovens, e puxando para o nosso lado, já ajuda.
DC: Você não vai ao Rio, mas vai assistir à partida, com certeza.
Fabri: Vou sim e eu fico muito nervoso, é pior do que se estivesse lá dentro, muito pior.
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