| 12/08/2009 17h28min
Na hora de definir o plantio, os agricultores têm uma difícil missão: escolher a semente mais adequada para cada região. Com o avanço das pesquisas, é grande a quantidade de cultivares disponíveis no mercado, o que tornou a decisão mais complicada. Nessa tarefa, os produtores ainda têm que optar entre os grãos convencionais e os geneticamente modificados.
Manter as cultivares que foram utilizadas nas safras anteriores ou apostar em novas tecnologias que a cada ano ocupam mais espaço nas revendas? Afinal, são mais de 420 cultivares de soja registradas no Ministério da Agricultura e que estão disponíveis no mercado. Em Mato Grosso, o zoneamento agrícola recomenda cerca de 150 cultivares que podem ser plantadas no Estado.
Esta escolha ficou ainda mais difícil depois que a comercialização de sementes de soja geneticamente modificadas foi autorizada no Brasil, em 2005. Desde então, o material se tornou uma importante ferramenta para os produtores. A resistência ao glifosato permitiu a redução no número de aplicações de defensivos químicos, facilitando o controle das ervas daninhas. Mesmo com esta vantagem, o uso destes grãos caminha com passos diferentes em cada região.
Na última safra, os transgênicos ocuparam menos de metade das lavouras: cerca de 42% em MT. Um dos principais entraves, que geram desconfiança dos agricultores, é a produtividade destes grãos na região, que ainda é um pouco inferior ao da soja convencional. Outro motivo é a comercialização. Alguns mercados não abrem as "portas" para a soja transgênica. Outros pagam até prêmios pela soja convencional.
— Muitas variedades convencionais são resistentes à nematóide e os produtores têm preferido estas variedades nos talhões onde eles têm maiores problemas com nematóides. A outra questão é a falta de um prêmio. Nós sabemos que a soja convencional recebe prêmios para a comercialização externa e, infelizmente, este prêmio não é pago. Então, o produtor muitas vezes opta por uma ou por outra em virtude da economia que ele fará na época do plantio. Temos também mais um problema nesta questão da soja, já que algumas tradings que financiam os produtores exigem que estes produtores plantem soja convencional e entreguem para elas soja convencional — diz o presidente da Comissão de Sustentabilidade da Associação dos Produtores de Soja do Estado de Mato Grosso (Aprosoja-MT), Ricardo Arioli.
Outra preocupação de quem aposta nos transgênicos é o surgimento de ervas daninhas resistentes ao glifosato, como já ocorre em algumas lavouras do meio-oeste americano. Para Dionísio Grazziero, pesquisador da Embrapa Soja, no Brasil uma das ameaças é a buva.
— Na realidade, não existe essa correlação direta da buva, desta planta com o glifosato. O agricultor optou pela soja RR porque ela trazia facilidades. Então, o glifosato é mais uma ferramenta que você usa na soja. Embora a buva seja uma planta de entressafra, se nós não a controlarmos, ela vai criar problemas dentro da soja. Então nós perdendo a eficiência com o glifosato, nós perdemos essa ferramenta que nos dá tranqüilidade. É uma questão técnica e uma questão econômica, porque nós vamos ter que usar outro produto para solucionar o problema — afirma Grazziero.
Com isso, o interesse dos agricultores pelos transgênicos tende a crescer, já que o manejo mais fácil significa menores custos. Para a safra 2009/2010 a expectativa é de um pequeno aumento da participação destes grãos nas lavouras mato-grossenses.
— Hoje no Mato Grosso, quase a metade da produção é transgênico. Isso veio aumentando ao longo dos anos e eu acredito que agora tende a haver uma estabilidade, talvez um pequeno aumento de transgênicos, porque ele facilita o manejo. Porém, o custo benefício é muito próximo entre o transgênico e o não-transgênico — explicou o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Mato Grosso (Famato), Rui Prado.
Ganhar a confiança dos agricultores é mais um obstáculo na história das sementes geneticamente modificadas, que desde o surgimento tiveram que derrubar barreiras. Entre elas, o preconceito dos que apontam os transgênicos como uma ameaça à segurança alimentar, algo descartado por especialistas.
— Os produtos transgênicos são os resultados do avanço da ciência. É ciência pura, ciência avançada, fronteira do conhecimento. Então, nós precisamos entender que a fronteira do conhecimento primeiro gera muita polêmica. O objetivo da ciência é beneficiar, é facilitar a vida das grandes populações baixando custo e dando cada dia mais segurança alimentar — defende o secretário-executivo do Conselho Nacional de Biossegurança (CTNBio), Jairo do Nascimento.
Enquanto o uso dos transgênicos ainda divide opiniões, no campo os agricultores adotam estratégias para colher bons resultados. Ricardo vai plantar 5250 hectares de soja, em Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Pouco mais da metade da área será cultivada com sementes geneticamente modificadas. Uma decisão bem estudada para que a escolha não traga maus desempenhos.
Independente da opção feita, é importante que antes de plantar as sementes, o agricultor esteja atento a alguns detalhes que podem fazer a diferença. A procedência e as condições de produção das sementes adquiridas são informações essenciais para o futuro da lavoura. É o que explica o professor Daniel Cassetari, da área de fitopatologia da Universidade Federal de Mato Grosso, que recomenda: para evitar problemas com a produtividade, é essencial agir cedo.
— A qualidade da semente depende de três fatores básicos: a ocorrência de doenças, que vai diminuir o aspecto qualitativo e quantitativo da produção; a variedade em si, que tem um potencial produtivo melhor, e o clima. O tratamento químico da semente é muito barato e é um seguro que você faz da lavoura, você garante pelo menos 30 dias de uma lavoura sadia, e a partir disso, um monitoramento e controle preventivo de todas as doenças — conclui o pesquisador.
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